sábado, 17 de novembro de 2012

o orvalho de um ácido

Hoje em dia respondo tranquilamente
quem sou, mas não sai palavra
alguma.

É um saber oculto,
bem guardado.

Posso morrer de qualquer tolice
sem assombros porque sei
quem sou, embora

da garganta palavra
alguma me delate.

É um saber silencioso
que se aprende com o tempo.

O meu tempo é diferente
do tempo do relógio parado na parede da sala
e do relógio de pulseiras coloridas do meu filho.

Sei quem sou e esse saber
não me pega pela mão
beija meu rosto e diz
com voz de mãe -

"vai em paz e que o mal
não te alcance..."

Alcança, enlouquece, tritura ossos, mói a carne.
Esse saber indizível é como punho de pai bêbado.

Mas, como não alegrar-se?
Sabendo de mim, antes do escurecer, posso fingir-me de morto.
E antecipar a dor de um soco de um pai bêbado e esconder os dentes da boca.



Um comentário:


  1. Uau, fortíssimo, plutônico, saber-se quem, mas não encontrar palavra que possa revelá-lo.

    Queria ter teus poemas escritos nos muros das cidades, nas paredes da casa, em nuvens, no céu...

    Beijos,

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