segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Dose única

Ainda tenho muitas orquídeas para enfeitar as árvores da minha rua. Nessas horas, em que só os gatos pretos e outros malhados andam pelas calçadas, planto orquídeas aos caules das oitis. Amanhecerá a minha alma encantada e o mundo nunca saberá quem concedeu ao poeta a triste euforia da palavra.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Solidão

Quem por raríssimas vezes ouve-me em minha plena loucura poética foge de mim em silêncio como se tudo que conversei e gargalhei tivesse sido em vão. Sobre desenganos e exílio conheço bem. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A poesia é fogo

O dinheiro não compra o coração do poeta. Só o seu cinismo e cínico o poeta seduz o rei e faz amor com a rainha. Sem viajar pra Pasárgada. 

Grife

Os meus dentes estão péssimos, meu amor, mas posso trocá-los por parafusos de ouro. E o meu coração permanecerá apaixonado.



pra uma menina de trajes deslumbrantes

sábado, 5 de dezembro de 2015

Artífice de latão

As sete plantinhas em seus jarros de zinco [as que prometi dar banho de sol cedinho e retirá-las do sereno diante da rua deserta] não sei como vivem. As minhas promessas perdem rápido o título de nobreza. Aproxima-se por minhas vértebras uma preguiça e meu coração esquece o valor dos brasões de batalhas impossíveis. Muitas plantinhas morreram infelizes esperando o meu amor. Nem todas as manhãs de sábado invadem minha alma com extrema brandura. Há manhãs de ouvir, apenas ouvir, os cílios cansados debaterem-se entre si e as últimas lágrimas. Sem mendicância e sem santidade. O amor não espera honrarias de lunático. Crer já é muito. E não cole as asas dos passarinhos que colidiram contra a janela. Você ouvirá um som mais delicado do peito de quem voa trôpego ainda ferido.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Frêmitos dentro de uma ânfora

O meu suor é aquele da infância a chamar passarinhos e formigas. E chegavam entidades felizes ao meu lado e brincavam com os meus olhos. Os jardins eram tão inocentes. As lagartas-de-fogo não queimavam a minha pele. Nunca havia solidão entre o meu silêncio e as palavras. Ainda preciso de coragem para ser essa criança. Não existe tempo. Sei o que somos até o fim. A morte é um descuido da ausência.