segunda-feira, 10 de junho de 2019

A Ciência da Vida

Dei-me por meu coração
no fundo do poço e olha
que havia esquecido
os nomes de todos
meus amores.

E olha que tenho
em volta do pescoço
um rosário inteiro das
diabinhas, uma por uma,
que me infernizaram a vida.

E olha que nem é bom provocar lembranças -
e vai que os ovos se rachem e nasçam dragões?

domingo, 9 de junho de 2019

Arcos da Lapa

De que forma
posso lhe mostrar
outra vida além do sonho?

Ninguém amará seus abismos
como aquele velho senhor
que lhe ofereceu força
a cada verso
e pancada.

Você tem agora ao lado
a certeza de que é sopro
seus ossos e seus dentes.

Os seus vômitos e o seu sangue
logo eram esquecidos na vontade
de amanhecer o dia e a esperança.

A sua falha de caráter
rendeu-lhe bons porres.

Boas despedidas,
alguns cortes
no pulso.

Ninguém amará tanto os seus abismos
como aquele velho senhor de chapéu preto.


Radiocarbono

Sabe aquelas muriçocas absurdas
de enormes que usam batom preto
e vivem puxando a pele dos miseráveis
e enfiando a agulha? Isso mesmo, meu amor:
A poesia também precisa de sangue e desespero.

Estive um tempo doente de doçura,
fragilidade de homem feliz e perdido.

Voltei pra casa
onde florescem
cogumelos selvagens
e sempre que chove tenho
de passar o pano com pinho sol.

Um dia experimento
esses curiosos cogumelos.

E vou escrever
alguma coisa
em cima do
telhado.


sábado, 8 de junho de 2019

Amiga Do Peito

Da minha companhia
você não sentirá falta.

Mas ao tropeçar
em uma pilha
de louças
e panelas
sujas

sentirá então saudades
das minhas mãos firmes
e da silenciosa melancolia.

O puro malte só enlouquece
aquele coração que se lembra
de voltar para uma caverna triste.