sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Translado

Na infância imaginava que as cigarras
se chamassem cigarras por fumar cigarros.

E as corujas não dormissem
por adorar escrever poemas.

Depois de velho gagá
entendi todos os segredos:

As cigarras de fato fumam cigarros.
Já vi umas três descansando da cantoria (violinos ao lado)
perninhas cruzadas jogando pra cima fumaças em círculos.

Quanto às corujas tenho uma de cristal
na cabeceira da cama e vive insone
porque ama de paixão
escrever versos.

O que mudou
entre minha mente
de criança e a de poeta?

Coronavírus

Profundamente triste
estou em dúvida

como cumprimentar
meus passarinhos
do pé de oiti.

Aos pombos
nunca dei cartaz.

Mas as andorinhas,
bem-te-vis, pardais
e rouxinóis sempre
foram meus amigos.

E agora não posso mais apertar-lhes
as mãos nem alimentá-los no bico.

Já vi até alguns
usando máscaras.

E dando meia volta
da minha janela aberta.

Ok, minhas criaturinhas,
vou para meu quarto
escrever versos.

Só voltarei para ouvir
os últimos blues.

Campos de girassóis

Debruçar-se sobre a janela da varanda
e flertar com as donas e as mocinhas
é bom durante alguns minutos.

O poeta tem outras obrigações,
como por exemplo alimentar
o fantasminha que adora
escrever versos.

Digo-lhe que não sou o mais indicado,
mas o homenzinho doutro mundo
convence-me beijando
meus ouvidos.

Com a voz doce de alfenim
dita os próximos decassílabos.

Gerações

Não é o próximo
quem conhece
tua poesia.

Não é o próximo
quem lê teus versos.

Pandora te enviou
um recado, poeta:

A caixa de sapatos
não é uma diversão.

O moinho continua
gerando vento sem
que o próximo veja.

Não é o próximo
quem verá o sol
entre as tuas
costelas.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Quadrinhos

Se teu entendimento evoluiu
tu mereces algumas moedas.

Embora tu sejas casca,
sentirás a exuberância.

As peças de xadrez
são movidas do outro lado
esperando de ti um olhar diferente.

Inferno é permanecer
amante da mesma morte.

Carbono

Diz-me como cairá a xícara
de tua mão se não há tremor?

Como tropeçarás se teus pés
andam firmes e teus olhos
sutis?

Como enlouquecerás
se tua lucidez é leve?

À medida que escreves poesia
tua boca se cala, ainda que seja
o poema pequeno a mente é grande.

Playground

Os cãezinhos das redondezas
preferem o pé de oiti
da minha calçada

aos postes
das esquinas.

Além de aliviarem-se
levantando a patinha

também saem
de unhas
feitas

pela dedicação
dos caramujos

e quem escolhe
a cor do esmalte
são as atenciosas
lagartinhas-de-fogo.

Se porventura
os donos esquecem
o saquinho da sujeira

passarinhos (pardais) pulam dos galhos
com gravetos e folhas e dão um trato.

Não existe na vizinhança
nem em sonhos de criança
um atendimento tão especial.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Lúdico

Não foi por crueldade
que acabei de matar
uma aranha sobre
minha cama.

Aranha de longas pernas
a sapatear na colcha nova

e decerto algum tipo
de veneno nas glândulas.

Espero que noutra dimensão
a aranha me conceda um instante
para o poeta explicar-lhe que a natureza
da criança ainda permanece sádica e infantil.

Analisando bem o ocorrido
desde a forma em que peguei
o chinelo e a minha língua de fora
não era o adulto em sã consciência.

Mas a criança,
a mesma que fazia
experimentos cirúrgicos
em lagartixas e passarinhos.

Espero que noutra dimensão
possa o poeta beber um café
em companhia dessa aranha

e explicar-lhe que a fantasia
nunca fugirá da minha cabeça.

Algodão-doce

Que alívio, baby,
não sou mais canalha.

Aprendi a plantar batatas
sem sujar as unhas de terra.

Só de nuvens,
baby, e nuvens
conheço-as desde
criança e sei onde
matar a minha sede.

Deste mundo
não levo saudades.

Depois que se aprende
a plantar batatas sujando
as unhas somente de nuvens -

aprende-se, baby, a conhecer
que o mundo é um furtivo banquete
de atividades ilusórias e quase insanas.

E viva
as batatas,
meus amores.

Paquera

Já manjei há muito tempo
o que as missionárias
que me encontram
na rua ou ônibus
querem-me:
flertar.

Olham-me dentro dos meus olhos
de forma que até fico corado
e me entregam folhetos
de salvação e de voz
mais sensual

sugerem-me
o paraíso.

Mas o que elas fazem é flertar
como flertaram todos os mestres.

Como flerto com as plantinhas
da varanda, os pés de oiti
e os passarinhos.

Flerto,
flerto,
flerto.


Leveza

Chegou ao fim
a sua necessidade

de abrir a boca
e confessar
sua força.

Basta abrir a janela
e dar de cara

com um passarinho
minúsculo de olhos vibrantes
e o musgo dos galhos do pé de oiti.

Você não sabe
(eis a maravilha)

até que ponto
a mente se expande
e gera o silêncio a criação.

Faxina

Não existe uma mulher neste mundo
que não seja sacerdotisa, meu filho.

A doce diferença
é que algumas
mulheres

ainda não atingiram
elevado nível de crueldade.

Outras ainda não chegaram
ao princípio da ternura.

Escolhem,
então,

tais mulheres
outro caminho.

Passam a vestir-se
de fadas e diabinhas.

E por simples distância do amado
planejam torturas e vinganças,
enquanto não percebem
que magia seria
esquecê-lo.

Filho, todas as mulheres
são sacerdotisas e podem
levá-lo ao fogo da plenitude
ou plantar-lhe um câncer no peito.

E se elas amanhecem
com toda a hiperatividade
perfumando a casa com bom ar:

ui, ui,
cuidado.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Jardineiro com olhos de papoula

Por amor à consciência
o corvo ausentou-se
das plantações
de coca.

Bastou experimentar uma vez
a semente de girassol do jarrinho
de uma janela que nunca mais sonhou
em visitar novamente as plantações de coca.

E olha só - as cigarras
voltaram aos pés de oiti
e os bem-te-vis dispensaram
as patinhas e o abdome das cantoras.

Preferem ultimamente
as sementes de girassol.

As mesmas
do corvo.

Caçadores de mamutes em pele de bisão

Se houver transformação
o velho dará testemunho
pelo novo e o novo
será a prova.

Das ilusões
faremos docinhos
para satisfazer criancinhas.

Até adoçaremos a língua
sem um pingo de embriaguez.

Afinal, a criança que fomos
adora doces e ferimentos.

Mas não é um homem trôpego
nem é uma criança descuidada
quem tocará flauta e bandolim.

Pela estrada
encontram-se
muitos mortos.

E cada qual traz na língua
uma verdade legítima
da sua loucura.

Mutações

Se esfregar as palmas das mãos
fazê-las conchas e assoprar
em direção ao seu rosto
você acordaria bravo?

Você não é um urso?
Você não foi sempre
um grande urso enorme?

Pois bem, você perdeu toda a sua gordura dormindo.
Hora de acordar, meu amigo, comer peixes e mais peixes.

Procure entender o destino dos salmões
que conseguindo subir ao rio desovam
e com que aspecto morrem.

Faça-lhes
um favor.

Jogadores de cartas

O que você escreve
serve-lhe apenas.

Portanto,
não imagine
uma multidão

de sombras a roer-lhe
os ossos nem luzes estranhas
entrando pelas janelas e telhado.

O que você escreve
serve-lhe apenas.

Como aquele poema antigo
a causa da fonte de suas lágrimas.

E o seu filho
sequer leu.

Varanda

Você acredita
que havemos
de atravessar
o coração pra
chegar à mente?

Há séculos, séculos e muitos séculos
imaginei o contrário - que fosse
necessário atravessar a mente
para descobrir o coração.

Penso,
baby,

que não há um coração perverso que destrua uma mente lúcida
nem uma mente doente que um coração louco em são transforme.

Embora me pareçam
os contrários semelhantes.

Dependendo
da cegueira
e da visão.

Papinho

Não tenho a menor ideia
do que você é feito -

se de névoas
ou coragem.

Se atravessou o corredor escuro
da casa de seus avós ou pediu
clemência aos seus irmãos.

Se enfrentou seus fantasmas
do berço levantando os bracinhos
e desmascarando os velhos fantasmas.

Ou se acovardou
debaixo da cama.

Sei de uma coisa -
estou farto de salvação.

Mas você pode (óbvio)
escutar os salvadores
de almas e fugir
da vida.

Fugir da força
que é você.

Matei muitas formiguinhas na minha infância
e até um dia desses percebi que elas se esqueceram
da minha xícara branca e não se afogam mais no meu café.

Que bom,
meu poeta.

Pássaros

Chegada a hora
de colher as espigas
muitos entram em pânico
diante da vereda até o milharal.

Em clara consciência
sabem do medo.

Poucos entenderam que símbolos
e imagens são casas para entrar
e para sair.

Caíram na armadilha
da falsa segurança

ao construírem
um túmulo
na mente.

E agora
diante da vereda
que conduz ao milharal

muitos de pernas paralisadas
não conseguem dar um passo
e os olhos pulam das órbitas.

Não entenderam que imagens
e símbolos são casas para
entrar e para sair.

Quem ergue um túmulo
de ilusões na alma
perde a vez.

E terá que aguardar
a última espiga
do milharal.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Orquestra de blues

Da cozinha
dá pra ouvir
o passarinho,

mas é da varanda
que a criaturinha
entrega a partitura.

Escondido
entre os galhos
do pé de oiti espera

que o poeta chore
ou beba café.

Laranja

Aquele que nasce do espírito
também ama a carne.

Os pássaros
quando erram as notas
improvisam de tal beleza

que não conhecendo as suas vocais
aquele que nasce do espírito os adora.

Aquele que nasce do espírito
também não apascentará ovelhas
e entenderá o perfeito caos dos rebanhos.

Sempre existirá (para o bem de todos)
aquele que se perde e encontra a casa.


O bom e velho Zaratustra

Esqueça, oh, esqueça
todas as suas projeções
e fantasias para outra vida.

A outra vida
é nesta vida.

E o mundo por quem
você tanto teve ódio e medo
guarda (não esconde) dentro
da caverna um mundo de pérolas.

As paredes não assustam
e o teto não é sombrio.

Embora não fale línguas
(sobretudo as estranhas)

você saberá ouvir
o som dos meteoros.

Os peixes cairão nos seus bolsos
como aquelas tais moedas encantadas.

Que de encanto
nada trazem.

Você não precisa
de bruxarias tampouco
de velhas orações de tristeza.

Esqueça, oh, esqueça
todas as suas vestes
e ritos de loucura.

O mundo (aquele triste mundo)
pelo qual você vivia preso
de desejos e fraquezas

agora é um mundo bacana
que guarda (não esconde)
dentro da caverna

um mundo
de pérolas.





Ocultismo (poeira no vento)

O poder da poesia
demonstra que você
não tem mais nenhum nível
de parentesco com a memória

que já
morreu.

O escrito que virou cinzas
é sinal de eternidade,
não de loucura,
meu poeta.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Extraordinário

A mentira não tem
pernas curtas, ao
contrário -

a mentira movimenta-se
em longas pernas de pau.

A questão é que os vermes
amam gigantes de pernas
de pau.

E antes que os corvos
visitem o campo
de girassol

o espantalho
já caiu.

Os corvos entendem
que a fome vem da terra.

Sábado de carnaval

Chega o dia
em que a poesia
muda de direção

e não hesita
entre coração
mente e carne.

O cálculo abstrato
da terra aos céus
perde o valor.

Ao invés de sair
o poema entra
ainda vestido
de placenta
e hálito.

Queima vísceras
e não poupa sonhos.

Chega o dia
em que a poesia
atravessa a praça
com a desenvoltura

de um palhaço calçando
um mocassim vermelho.

E você até pensa
que o folião

é triste
ou esnobe.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Alquimia

Quando acorda
apaixonado
o poeta

até o mijo
é perfumado:

uma mistura delirante
de almíscar e patchouly
da década pagã de oitenta.

Onde diacho
meteram-se
a minha
flauta

e os meus velhos
cascos de bode?

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Psicóloga

Os últimos sons de sapatos femininos pelo corredor
chegaram aos meus ouvidos quando estava no deserto

aprendendo a escrever meu nome
na poeira da terra e na poeira dos céus.

O que posso fazer
por meu passado

a não ser amar 
as tentações?

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

O ostracismo da ostra

Do outro lado da rua
nem debaixo da minha janela
ninguém me ouve e isso é bom pros negócios.

Nenhum fantasma
chegará aos meus ouvidos
pedindo-me o de comer e o de beber
a jurar companhia durante minha morte.

Acabou-se essa história antiga
de fantasmas e de morte.

Do outro lado da rua
bastam-me as vozes
das mulheres.

Por quem pesco peixes
em tardes de chuva.

Etéreo

Nunca tinha visto
beija-flor no pé
de oiti.

E pela manhã
um me disse
"oi".

Tão pequenino
que o confundi
com um pingo
de chuva, filho.

Cruzou meu ouvido
passou por minhas costelas

e sumiu,
veja só.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Livreto


                                     



Cabeça
De
Grilo



                                             
                                                                                      











O passado não tem sal,
Mas a vontade da poesia
É um sal poderoso.























Para os poetas
Que têm muita luz
E pouco juízo.











Primeiro Capítulo
(deserto)



31/01/2020

A onda de energia superior
Não me faz um ser bacana
Além do bem e do mal.

A minha mente pervertida
É cada vez mais brilhante
E o meu coração dissimulado
Prepara magia do próprio sangue.

A onda de energia superior me ensina
Abrir os olhos e deixar que o fogo da verdade
Queime os pensamentos inúteis
De morbidez e de grandeza.

Deus não nos ouve como pensamos
E a nossa loucura é latente
Em nossa língua.

Não te basta o canto do pássaro
Ou tens que vê-lo cantar?




30/01/2020

Sei que existe o peso
Entre a existência desprezível
E a verdade gloriosa.

Mas como há regiões misteriosas na mente
Regiões recônditas há no coração.

E aquele que se entrega
Jamais será abandonado.

Os dias não consumirão as noites
Nem as noites absorverão os dias.

O que imaginávamos da consciência
Apaga-se

Sob um olhar
Que não é o nosso.



30/01/2020

Quando eu era menino
Escrevia versos de menino.

Agora que sou homem
Escrevo versos de homem
E não ouço vozes
De menino.

Muito embora
Um e outro
Tenham morrido
Da mesma semente.

O solo
Que os fecundou
Não é um céu distante.



30/01/2020

Todos os dias
Tenho por obrigação
Cavar minha própria cova

(um buraco profundo,
profundo, profundo)

E enterrar a minha vaidade
Para que os vermes da terra
Saboreiem as minhas impurezas.

É minha obrigação
Engordar os vermes da terra
E deixar minha alma um esqueleto.

Não te assustes
Da tua coragem -

A tua luz é sombra
Dos dias de sol.


30/01/2020

Embora ao poeta baste
Os versos que escreve
Não consegue
Calar-se.

E diz aos poderosos da terra
Que tal poder é patético
Visto por outra
Esfera.

Embora ao poeta baste
Os versos que escreve
Não consegue
Calar-se.

E diz aos que amam
Os próprios males
Que se acalmem:

Um dia conhecerão
O rosto da morte.

Embora ao poeta baste
Os versos que escreve
Não consegue
Calar-se.

E diz aos seus botões
Que louco distante do deserto
Também vive perdido.



30/01/2020

Não há portas
Para serem abertas
Nem há portas
Para serem fechadas.

Aproveite as delícias do caminho
E faça festas e bons banquetes.

O seu destino
É igual aos seus pensamentos:

Inacreditáveis,
Suspeitos,
Irreais.

Saiba lidar
Com o novo sangue
E a nova carne.

O único sentido da fé
É ultrapassar dimensões.



29/01/2020

A primeira luz que se vê
É a consciência aberta
Aceitando nossas fraquezas.

E por nossas fraquezas
A consciência aumenta.

Aquele que mergulha ao abismo
Rejeita qualquer tipo de embriaguez.

A luz é nítida
Porque é lúcida.

Não existem vermes
Dormindo dentro dos olhos.



29/01/2020

A minha mente pervertida
E o meu coração dissimulado
Vivem cúmplices dos seus fracassos.

Mas qual valor
De uma mente pervertida
Se atravessou-lhe ao corpo
O fogo da verdade?

E o que direi
Do coração dissimulado

Se hoje em dia
Ouvem-se ecos
Da sua eternidade?


29/01/2020

Se você quiser chegar à outra margem
Terá que molhar os pés
E seria tão bom

Se os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para que os peixes limpassem sua dor.

Lá no alto
Existe uma ponte

Mas se você quiser
Poderá chegar à outra margem
Atravessando o rio e seria tão bom

Se os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para que os peixes curassem sua alma
ouvindo um blues.



29/01/2020

Fosse Deus
Ouvir tuas orações
Morreria de vergonha.

Mesmo quando o coração é bom há tanta vaidade
E se existe pureza nos teus pensamentos
Deus até desconfia da tua face humana.

Fosse Deus
Ouvir tuas orações
Morreria de tristeza.

Onde se meteu a tua volúpia espiritual?
E a louca alegria e a fúria por amor?

Mas se fosse Deus
Ouvir tuas orações
Morreria de profundo
Tédio e fugiria da tua malícia.
Mas Deus ama teu cinismo e tua perdição.




29/01/2020

Durante o banquete
Chega a ser ridículo
Perguntar de que rio

São os peixes e de que pastos
São as carnes e de que terras
São os vinhos.

O anfitrião se aborrece
E detesta conversa tola
Na hora do banquete.

Serás um conviva indelicado
Se não ouvires o anfitrião que te diz:
Cala-te e come.



28/01/2020

Caso teu espírito
Não esteja atento

Teu coração será iludido
Facilmente pelas fantasias
Da tua estranha cabeça.

Triste do coração
Guiado por nuvens de cavalos

Até o desfiladeiro
Da morte.

Não sobrará um osso
Para contar história
E nenhum fio de cabelo
Dará testemunho
Do que poderia
Ter sido e tocado
E não passou
De fantasia.


27/01/2020

Por mais tresloucado
Que seja teu pensamento
E impuro o desejo
De teu coração -

O fogo da verdade
Faz cinzas.

E quem encontrou as próprias cinzas
Permanece como no princípio -
 Atônito.

O grande êxtase
É o poder da mudança.



27/01/2020

A poesia impede
Que os passarinhos
De fim de tarde
Enlouqueçam meus ouvidos.

Em vez disso
É o poeta quem canta
Para os passarinhos
De fim de tarde.

Da ponta do telhado
Fogem da minha cabeça.

Sou úmido
de fogo.









sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Célula raiz

Voltemos ao lugar de sempre
onde ópio e fábulas ao alcance
das mãos esperam a tua loucura.

Não conseguirás ir longe
com ares de luz e fingimento.

O passado não tem sal,
mas a vontade da poesia
é um sal poderoso, meu poeta.