Na infância imaginava que as cigarras
se chamassem cigarras por fumar cigarros.
E as corujas não dormissem
por adorar escrever poemas.
Depois de velho gagá
entendi todos os segredos:
As cigarras de fato fumam cigarros.
Já vi umas três descansando da cantoria (violinos ao lado)
perninhas cruzadas jogando pra cima fumaças em círculos.
Quanto às corujas tenho uma de cristal
na cabeceira da cama e vive insone
porque ama de paixão
escrever versos.
O que mudou
entre minha mente
de criança e a de poeta?
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
Coronavírus
Profundamente triste
estou em dúvida
como cumprimentar
meus passarinhos
do pé de oiti.
Aos pombos
nunca dei cartaz.
Mas as andorinhas,
bem-te-vis, pardais
e rouxinóis sempre
foram meus amigos.
E agora não posso mais apertar-lhes
as mãos nem alimentá-los no bico.
Já vi até alguns
usando máscaras.
E dando meia volta
da minha janela aberta.
Ok, minhas criaturinhas,
vou para meu quarto
escrever versos.
Só voltarei para ouvir
os últimos blues.
estou em dúvida
como cumprimentar
meus passarinhos
do pé de oiti.
Aos pombos
nunca dei cartaz.
Mas as andorinhas,
bem-te-vis, pardais
e rouxinóis sempre
foram meus amigos.
E agora não posso mais apertar-lhes
as mãos nem alimentá-los no bico.
Já vi até alguns
usando máscaras.
E dando meia volta
da minha janela aberta.
Ok, minhas criaturinhas,
vou para meu quarto
escrever versos.
Só voltarei para ouvir
os últimos blues.
Campos de girassóis
Debruçar-se sobre a janela da varanda
e flertar com as donas e as mocinhas
é bom durante alguns minutos.
O poeta tem outras obrigações,
como por exemplo alimentar
o fantasminha que adora
escrever versos.
Digo-lhe que não sou o mais indicado,
mas o homenzinho doutro mundo
convence-me beijando
meus ouvidos.
Com a voz doce de alfenim
dita os próximos decassílabos.
e flertar com as donas e as mocinhas
é bom durante alguns minutos.
O poeta tem outras obrigações,
como por exemplo alimentar
o fantasminha que adora
escrever versos.
Digo-lhe que não sou o mais indicado,
mas o homenzinho doutro mundo
convence-me beijando
meus ouvidos.
Com a voz doce de alfenim
dita os próximos decassílabos.
Gerações
Não é o próximo
quem conhece
tua poesia.
Não é o próximo
quem lê teus versos.
Pandora te enviou
um recado, poeta:
A caixa de sapatos
não é uma diversão.
O moinho continua
gerando vento sem
que o próximo veja.
Não é o próximo
quem verá o sol
entre as tuas
costelas.
quem conhece
tua poesia.
Não é o próximo
quem lê teus versos.
Pandora te enviou
um recado, poeta:
A caixa de sapatos
não é uma diversão.
O moinho continua
gerando vento sem
que o próximo veja.
Não é o próximo
quem verá o sol
entre as tuas
costelas.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020
Quadrinhos
Se teu entendimento evoluiu
tu mereces algumas moedas.
Embora tu sejas casca,
sentirás a exuberância.
As peças de xadrez
são movidas do outro lado
esperando de ti um olhar diferente.
Inferno é permanecer
amante da mesma morte.
tu mereces algumas moedas.
Embora tu sejas casca,
sentirás a exuberância.
As peças de xadrez
são movidas do outro lado
esperando de ti um olhar diferente.
Inferno é permanecer
amante da mesma morte.
Carbono
Diz-me como cairá a xícara
de tua mão se não há tremor?
Como tropeçarás se teus pés
andam firmes e teus olhos
sutis?
Como enlouquecerás
se tua lucidez é leve?
À medida que escreves poesia
tua boca se cala, ainda que seja
o poema pequeno a mente é grande.
de tua mão se não há tremor?
Como tropeçarás se teus pés
andam firmes e teus olhos
sutis?
Como enlouquecerás
se tua lucidez é leve?
À medida que escreves poesia
tua boca se cala, ainda que seja
o poema pequeno a mente é grande.
Playground
Os cãezinhos das redondezas
preferem o pé de oiti
da minha calçada
aos postes
das esquinas.
Além de aliviarem-se
levantando a patinha
também saem
de unhas
feitas
pela dedicação
dos caramujos
e quem escolhe
a cor do esmalte
são as atenciosas
lagartinhas-de-fogo.
Se porventura
os donos esquecem
o saquinho da sujeira
passarinhos (pardais) pulam dos galhos
com gravetos e folhas e dão um trato.
Não existe na vizinhança
nem em sonhos de criança
um atendimento tão especial.
preferem o pé de oiti
da minha calçada
aos postes
das esquinas.
Além de aliviarem-se
levantando a patinha
também saem
de unhas
feitas
pela dedicação
dos caramujos
e quem escolhe
a cor do esmalte
são as atenciosas
lagartinhas-de-fogo.
Se porventura
os donos esquecem
o saquinho da sujeira
passarinhos (pardais) pulam dos galhos
com gravetos e folhas e dão um trato.
Não existe na vizinhança
nem em sonhos de criança
um atendimento tão especial.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
Lúdico
Não foi por crueldade
que acabei de matar
uma aranha sobre
minha cama.
Aranha de longas pernas
a sapatear na colcha nova
e decerto algum tipo
de veneno nas glândulas.
Espero que noutra dimensão
a aranha me conceda um instante
para o poeta explicar-lhe que a natureza
da criança ainda permanece sádica e infantil.
Analisando bem o ocorrido
desde a forma em que peguei
o chinelo e a minha língua de fora
não era o adulto em sã consciência.
Mas a criança,
a mesma que fazia
experimentos cirúrgicos
em lagartixas e passarinhos.
Espero que noutra dimensão
possa o poeta beber um café
em companhia dessa aranha
e explicar-lhe que a fantasia
nunca fugirá da minha cabeça.
que acabei de matar
uma aranha sobre
minha cama.
Aranha de longas pernas
a sapatear na colcha nova
e decerto algum tipo
de veneno nas glândulas.
Espero que noutra dimensão
a aranha me conceda um instante
para o poeta explicar-lhe que a natureza
da criança ainda permanece sádica e infantil.
Analisando bem o ocorrido
desde a forma em que peguei
o chinelo e a minha língua de fora
não era o adulto em sã consciência.
Mas a criança,
a mesma que fazia
experimentos cirúrgicos
em lagartixas e passarinhos.
Espero que noutra dimensão
possa o poeta beber um café
em companhia dessa aranha
e explicar-lhe que a fantasia
nunca fugirá da minha cabeça.
Algodão-doce
Que alívio, baby,
não sou mais canalha.
Aprendi a plantar batatas
sem sujar as unhas de terra.
Só de nuvens,
baby, e nuvens
conheço-as desde
criança e sei onde
matar a minha sede.
Deste mundo
não levo saudades.
Depois que se aprende
a plantar batatas sujando
as unhas somente de nuvens -
aprende-se, baby, a conhecer
que o mundo é um furtivo banquete
de atividades ilusórias e quase insanas.
E viva
as batatas,
meus amores.
não sou mais canalha.
Aprendi a plantar batatas
sem sujar as unhas de terra.
Só de nuvens,
baby, e nuvens
conheço-as desde
criança e sei onde
matar a minha sede.
Deste mundo
não levo saudades.
Depois que se aprende
a plantar batatas sujando
as unhas somente de nuvens -
aprende-se, baby, a conhecer
que o mundo é um furtivo banquete
de atividades ilusórias e quase insanas.
E viva
as batatas,
meus amores.
Paquera
Já manjei há muito tempo
o que as missionárias
que me encontram
na rua ou ônibus
querem-me:
flertar.
Olham-me dentro dos meus olhos
de forma que até fico corado
e me entregam folhetos
de salvação e de voz
mais sensual
sugerem-me
o paraíso.
Mas o que elas fazem é flertar
como flertaram todos os mestres.
Como flerto com as plantinhas
da varanda, os pés de oiti
e os passarinhos.
Flerto,
flerto,
flerto.
o que as missionárias
que me encontram
na rua ou ônibus
querem-me:
flertar.
Olham-me dentro dos meus olhos
de forma que até fico corado
e me entregam folhetos
de salvação e de voz
mais sensual
sugerem-me
o paraíso.
Mas o que elas fazem é flertar
como flertaram todos os mestres.
Como flerto com as plantinhas
da varanda, os pés de oiti
e os passarinhos.
Flerto,
flerto,
flerto.
Leveza
Chegou ao fim
a sua necessidade
de abrir a boca
e confessar
sua força.
Basta abrir a janela
e dar de cara
com um passarinho
minúsculo de olhos vibrantes
e o musgo dos galhos do pé de oiti.
Você não sabe
(eis a maravilha)
até que ponto
a mente se expande
e gera o silêncio a criação.
a sua necessidade
de abrir a boca
e confessar
sua força.
Basta abrir a janela
e dar de cara
com um passarinho
minúsculo de olhos vibrantes
e o musgo dos galhos do pé de oiti.
Você não sabe
(eis a maravilha)
até que ponto
a mente se expande
e gera o silêncio a criação.
Faxina
Não existe uma mulher neste mundo
que não seja sacerdotisa, meu filho.
A doce diferença
é que algumas
mulheres
ainda não atingiram
elevado nível de crueldade.
Outras ainda não chegaram
ao princípio da ternura.
Escolhem,
então,
tais mulheres
outro caminho.
Passam a vestir-se
de fadas e diabinhas.
E por simples distância do amado
planejam torturas e vinganças,
enquanto não percebem
que magia seria
esquecê-lo.
Filho, todas as mulheres
são sacerdotisas e podem
levá-lo ao fogo da plenitude
ou plantar-lhe um câncer no peito.
E se elas amanhecem
com toda a hiperatividade
perfumando a casa com bom ar:
ui, ui,
cuidado.
que não seja sacerdotisa, meu filho.
A doce diferença
é que algumas
mulheres
ainda não atingiram
elevado nível de crueldade.
Outras ainda não chegaram
ao princípio da ternura.
Escolhem,
então,
tais mulheres
outro caminho.
Passam a vestir-se
de fadas e diabinhas.
E por simples distância do amado
planejam torturas e vinganças,
enquanto não percebem
que magia seria
esquecê-lo.
Filho, todas as mulheres
são sacerdotisas e podem
levá-lo ao fogo da plenitude
ou plantar-lhe um câncer no peito.
E se elas amanhecem
com toda a hiperatividade
perfumando a casa com bom ar:
ui, ui,
cuidado.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
Jardineiro com olhos de papoula
Por amor à consciência
o corvo ausentou-se
das plantações
de coca.
Bastou experimentar uma vez
a semente de girassol do jarrinho
de uma janela que nunca mais sonhou
em visitar novamente as plantações de coca.
E olha só - as cigarras
voltaram aos pés de oiti
e os bem-te-vis dispensaram
as patinhas e o abdome das cantoras.
Preferem ultimamente
as sementes de girassol.
As mesmas
do corvo.
o corvo ausentou-se
das plantações
de coca.
Bastou experimentar uma vez
a semente de girassol do jarrinho
de uma janela que nunca mais sonhou
em visitar novamente as plantações de coca.
E olha só - as cigarras
voltaram aos pés de oiti
e os bem-te-vis dispensaram
as patinhas e o abdome das cantoras.
Preferem ultimamente
as sementes de girassol.
As mesmas
do corvo.
Caçadores de mamutes em pele de bisão
Se houver transformação
o velho dará testemunho
pelo novo e o novo
será a prova.
Das ilusões
faremos docinhos
para satisfazer criancinhas.
Até adoçaremos a língua
sem um pingo de embriaguez.
Afinal, a criança que fomos
adora doces e ferimentos.
Mas não é um homem trôpego
nem é uma criança descuidada
quem tocará flauta e bandolim.
Pela estrada
encontram-se
muitos mortos.
E cada qual traz na língua
uma verdade legítima
da sua loucura.
o velho dará testemunho
pelo novo e o novo
será a prova.
Das ilusões
faremos docinhos
para satisfazer criancinhas.
Até adoçaremos a língua
sem um pingo de embriaguez.
Afinal, a criança que fomos
adora doces e ferimentos.
Mas não é um homem trôpego
nem é uma criança descuidada
quem tocará flauta e bandolim.
Pela estrada
encontram-se
muitos mortos.
E cada qual traz na língua
uma verdade legítima
da sua loucura.
Mutações
Se esfregar as palmas das mãos
fazê-las conchas e assoprar
em direção ao seu rosto
você acordaria bravo?
Você não é um urso?
Você não foi sempre
um grande urso enorme?
Pois bem, você perdeu toda a sua gordura dormindo.
Hora de acordar, meu amigo, comer peixes e mais peixes.
Procure entender o destino dos salmões
que conseguindo subir ao rio desovam
e com que aspecto morrem.
Faça-lhes
um favor.
fazê-las conchas e assoprar
em direção ao seu rosto
você acordaria bravo?
Você não é um urso?
Você não foi sempre
um grande urso enorme?
Pois bem, você perdeu toda a sua gordura dormindo.
Hora de acordar, meu amigo, comer peixes e mais peixes.
Procure entender o destino dos salmões
que conseguindo subir ao rio desovam
e com que aspecto morrem.
Faça-lhes
um favor.
Jogadores de cartas
O que você escreve
serve-lhe apenas.
Portanto,
não imagine
uma multidão
de sombras a roer-lhe
os ossos nem luzes estranhas
entrando pelas janelas e telhado.
O que você escreve
serve-lhe apenas.
Como aquele poema antigo
a causa da fonte de suas lágrimas.
E o seu filho
sequer leu.
serve-lhe apenas.
Portanto,
não imagine
uma multidão
de sombras a roer-lhe
os ossos nem luzes estranhas
entrando pelas janelas e telhado.
O que você escreve
serve-lhe apenas.
Como aquele poema antigo
a causa da fonte de suas lágrimas.
E o seu filho
sequer leu.
Varanda
Você acredita
que havemos
de atravessar
o coração pra
chegar à mente?
Há séculos, séculos e muitos séculos
imaginei o contrário - que fosse
necessário atravessar a mente
para descobrir o coração.
Penso,
baby,
que não há um coração perverso que destrua uma mente lúcida
nem uma mente doente que um coração louco em são transforme.
Embora me pareçam
os contrários semelhantes.
Dependendo
da cegueira
e da visão.
que havemos
de atravessar
o coração pra
chegar à mente?
Há séculos, séculos e muitos séculos
imaginei o contrário - que fosse
necessário atravessar a mente
para descobrir o coração.
Penso,
baby,
que não há um coração perverso que destrua uma mente lúcida
nem uma mente doente que um coração louco em são transforme.
Embora me pareçam
os contrários semelhantes.
Dependendo
da cegueira
e da visão.
Papinho
Não tenho a menor ideia
do que você é feito -
se de névoas
ou coragem.
Se atravessou o corredor escuro
da casa de seus avós ou pediu
clemência aos seus irmãos.
Se enfrentou seus fantasmas
do berço levantando os bracinhos
e desmascarando os velhos fantasmas.
Ou se acovardou
debaixo da cama.
Sei de uma coisa -
estou farto de salvação.
Mas você pode (óbvio)
escutar os salvadores
de almas e fugir
da vida.
Fugir da força
que é você.
Matei muitas formiguinhas na minha infância
e até um dia desses percebi que elas se esqueceram
da minha xícara branca e não se afogam mais no meu café.
Que bom,
meu poeta.
do que você é feito -
se de névoas
ou coragem.
Se atravessou o corredor escuro
da casa de seus avós ou pediu
clemência aos seus irmãos.
Se enfrentou seus fantasmas
do berço levantando os bracinhos
e desmascarando os velhos fantasmas.
Ou se acovardou
debaixo da cama.
Sei de uma coisa -
estou farto de salvação.
Mas você pode (óbvio)
escutar os salvadores
de almas e fugir
da vida.
Fugir da força
que é você.
Matei muitas formiguinhas na minha infância
e até um dia desses percebi que elas se esqueceram
da minha xícara branca e não se afogam mais no meu café.
Que bom,
meu poeta.
Pássaros
Chegada a hora
de colher as espigas
muitos entram em pânico
diante da vereda até o milharal.
Em clara consciência
sabem do medo.
Poucos entenderam que símbolos
e imagens são casas para entrar
e para sair.
Caíram na armadilha
da falsa segurança
ao construírem
um túmulo
na mente.
E agora
diante da vereda
que conduz ao milharal
muitos de pernas paralisadas
não conseguem dar um passo
e os olhos pulam das órbitas.
Não entenderam que imagens
e símbolos são casas para
entrar e para sair.
Quem ergue um túmulo
de ilusões na alma
perde a vez.
E terá que aguardar
a última espiga
do milharal.
de colher as espigas
muitos entram em pânico
diante da vereda até o milharal.
Em clara consciência
sabem do medo.
Poucos entenderam que símbolos
e imagens são casas para entrar
e para sair.
Caíram na armadilha
da falsa segurança
ao construírem
um túmulo
na mente.
E agora
diante da vereda
que conduz ao milharal
muitos de pernas paralisadas
não conseguem dar um passo
e os olhos pulam das órbitas.
Não entenderam que imagens
e símbolos são casas para
entrar e para sair.
Quem ergue um túmulo
de ilusões na alma
perde a vez.
E terá que aguardar
a última espiga
do milharal.
domingo, 23 de fevereiro de 2020
Orquestra de blues
Da cozinha
dá pra ouvir
o passarinho,
mas é da varanda
que a criaturinha
entrega a partitura.
Escondido
entre os galhos
do pé de oiti espera
que o poeta chore
ou beba café.
dá pra ouvir
o passarinho,
mas é da varanda
que a criaturinha
entrega a partitura.
Escondido
entre os galhos
do pé de oiti espera
que o poeta chore
ou beba café.
Laranja
Aquele que nasce do espírito
também ama a carne.
Os pássaros
quando erram as notas
improvisam de tal beleza
que não conhecendo as suas vocais
aquele que nasce do espírito os adora.
Aquele que nasce do espírito
também não apascentará ovelhas
e entenderá o perfeito caos dos rebanhos.
Sempre existirá (para o bem de todos)
aquele que se perde e encontra a casa.
também ama a carne.
Os pássaros
quando erram as notas
improvisam de tal beleza
que não conhecendo as suas vocais
aquele que nasce do espírito os adora.
Aquele que nasce do espírito
também não apascentará ovelhas
e entenderá o perfeito caos dos rebanhos.
Sempre existirá (para o bem de todos)
aquele que se perde e encontra a casa.
O bom e velho Zaratustra
Esqueça, oh, esqueça
todas as suas projeções
e fantasias para outra vida.
A outra vida
é nesta vida.
E o mundo por quem
você tanto teve ódio e medo
guarda (não esconde) dentro
da caverna um mundo de pérolas.
As paredes não assustam
e o teto não é sombrio.
Embora não fale línguas
(sobretudo as estranhas)
você saberá ouvir
o som dos meteoros.
Os peixes cairão nos seus bolsos
como aquelas tais moedas encantadas.
Que de encanto
nada trazem.
Você não precisa
de bruxarias tampouco
de velhas orações de tristeza.
Esqueça, oh, esqueça
todas as suas vestes
e ritos de loucura.
O mundo (aquele triste mundo)
pelo qual você vivia preso
de desejos e fraquezas
agora é um mundo bacana
que guarda (não esconde)
dentro da caverna
um mundo
de pérolas.
todas as suas projeções
e fantasias para outra vida.
A outra vida
é nesta vida.
E o mundo por quem
você tanto teve ódio e medo
guarda (não esconde) dentro
da caverna um mundo de pérolas.
As paredes não assustam
e o teto não é sombrio.
Embora não fale línguas
(sobretudo as estranhas)
você saberá ouvir
o som dos meteoros.
Os peixes cairão nos seus bolsos
como aquelas tais moedas encantadas.
Que de encanto
nada trazem.
Você não precisa
de bruxarias tampouco
de velhas orações de tristeza.
Esqueça, oh, esqueça
todas as suas vestes
e ritos de loucura.
O mundo (aquele triste mundo)
pelo qual você vivia preso
de desejos e fraquezas
agora é um mundo bacana
que guarda (não esconde)
dentro da caverna
um mundo
de pérolas.
Ocultismo (poeira no vento)
O poder da poesia
demonstra que você
não tem mais nenhum nível
de parentesco com a memória
que já
morreu.
O escrito que virou cinzas
é sinal de eternidade,
não de loucura,
meu poeta.
demonstra que você
não tem mais nenhum nível
de parentesco com a memória
que já
morreu.
O escrito que virou cinzas
é sinal de eternidade,
não de loucura,
meu poeta.
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Extraordinário
A mentira não tem
pernas curtas, ao
contrário -
a mentira movimenta-se
em longas pernas de pau.
A questão é que os vermes
amam gigantes de pernas
de pau.
E antes que os corvos
visitem o campo
de girassol
o espantalho
já caiu.
Os corvos entendem
que a fome vem da terra.
pernas curtas, ao
contrário -
a mentira movimenta-se
em longas pernas de pau.
A questão é que os vermes
amam gigantes de pernas
de pau.
E antes que os corvos
visitem o campo
de girassol
o espantalho
já caiu.
Os corvos entendem
que a fome vem da terra.
Sábado de carnaval
Chega o dia
em que a poesia
muda de direção
e não hesita
entre coração
mente e carne.
O cálculo abstrato
da terra aos céus
perde o valor.
Ao invés de sair
o poema entra
ainda vestido
de placenta
e hálito.
Queima vísceras
e não poupa sonhos.
Chega o dia
em que a poesia
atravessa a praça
com a desenvoltura
de um palhaço calçando
um mocassim vermelho.
E você até pensa
que o folião
é triste
ou esnobe.
em que a poesia
muda de direção
e não hesita
entre coração
mente e carne.
O cálculo abstrato
da terra aos céus
perde o valor.
Ao invés de sair
o poema entra
ainda vestido
de placenta
e hálito.
Queima vísceras
e não poupa sonhos.
Chega o dia
em que a poesia
atravessa a praça
com a desenvoltura
de um palhaço calçando
um mocassim vermelho.
E você até pensa
que o folião
é triste
ou esnobe.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Alquimia
Quando acorda
apaixonado
o poeta
até o mijo
é perfumado:
uma mistura delirante
de almíscar e patchouly
da década pagã de oitenta.
Onde diacho
meteram-se
a minha
flauta
e os meus velhos
cascos de bode?
apaixonado
o poeta
até o mijo
é perfumado:
uma mistura delirante
de almíscar e patchouly
da década pagã de oitenta.
Onde diacho
meteram-se
a minha
flauta
e os meus velhos
cascos de bode?
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
Psicóloga
Os últimos sons de sapatos femininos pelo corredor
chegaram aos meus ouvidos quando estava no deserto
aprendendo a escrever meu nome
na poeira da terra e na poeira dos céus.
O que posso fazer
por meu passado
a não ser amar
as tentações?
chegaram aos meus ouvidos quando estava no deserto
aprendendo a escrever meu nome
na poeira da terra e na poeira dos céus.
O que posso fazer
por meu passado
a não ser amar
as tentações?
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
O ostracismo da ostra
Do outro lado da rua
nem debaixo da minha janela
ninguém me ouve e isso é bom pros negócios.
Nenhum fantasma
chegará aos meus ouvidos
pedindo-me o de comer e o de beber
a jurar companhia durante minha morte.
Acabou-se essa história antiga
de fantasmas e de morte.
Do outro lado da rua
bastam-me as vozes
das mulheres.
Por quem pesco peixes
em tardes de chuva.
nem debaixo da minha janela
ninguém me ouve e isso é bom pros negócios.
Nenhum fantasma
chegará aos meus ouvidos
pedindo-me o de comer e o de beber
a jurar companhia durante minha morte.
Acabou-se essa história antiga
de fantasmas e de morte.
Do outro lado da rua
bastam-me as vozes
das mulheres.
Por quem pesco peixes
em tardes de chuva.
Etéreo
Nunca tinha visto
beija-flor no pé
de oiti.
E pela manhã
um me disse
"oi".
Tão pequenino
que o confundi
com um pingo
de chuva, filho.
Cruzou meu ouvido
passou por minhas costelas
e sumiu,
veja só.
beija-flor no pé
de oiti.
E pela manhã
um me disse
"oi".
Tão pequenino
que o confundi
com um pingo
de chuva, filho.
Cruzou meu ouvido
passou por minhas costelas
e sumiu,
veja só.
domingo, 16 de fevereiro de 2020
Livreto
Cabeça
De
Grilo
O passado não tem sal,
Mas a vontade da poesia
É um sal poderoso.
Para
os poetas
Que
têm muita luz
E
pouco juízo.
Primeiro
Capítulo
(deserto)
31/01/2020
A
onda de energia superior
Não
me faz um ser bacana
Além
do bem e do mal.
A
minha mente pervertida
É
cada vez mais brilhante
E
o meu coração dissimulado
Prepara
magia do próprio sangue.
A
onda de energia superior me ensina
Abrir
os olhos e deixar que o fogo da verdade
Queime
os pensamentos inúteis
De
morbidez e de grandeza.
Deus
não nos ouve como pensamos
E
a nossa loucura é latente
Em
nossa língua.
Não
te basta o canto do pássaro
Ou
tens que vê-lo cantar?
30/01/2020
Sei
que existe o peso
Entre
a existência desprezível
E
a verdade gloriosa.
Mas
como há regiões misteriosas na mente
Regiões
recônditas há no coração.
E
aquele que se entrega
Jamais
será abandonado.
Os
dias não consumirão as noites
Nem
as noites absorverão os dias.
O
que imaginávamos da consciência
Apaga-se
Sob
um olhar
Que
não é o nosso.
30/01/2020
Quando
eu era menino
Escrevia
versos de menino.
Agora
que sou homem
Escrevo
versos de homem
E
não ouço vozes
De
menino.
Muito
embora
Um
e outro
Tenham
morrido
Da
mesma semente.
O
solo
Que
os fecundou
Não
é um céu distante.
30/01/2020
Todos
os dias
Tenho
por obrigação
Cavar
minha própria cova
(um buraco profundo,
profundo,
profundo)
E
enterrar a minha vaidade
Para
que os vermes da terra
Saboreiem
as minhas impurezas.
É
minha obrigação
Engordar
os vermes da terra
E
deixar minha alma um esqueleto.
Não
te assustes
Da
tua coragem -
A
tua luz é sombra
Dos
dias de sol.
30/01/2020
30/01/2020
Embora
ao poeta baste
Os
versos que escreve
Não
consegue
Calar-se.
E
diz aos poderosos da terra
Que
tal poder é patético
Visto
por outra
Esfera.
Embora
ao poeta baste
Os
versos que escreve
Não
consegue
Calar-se.
E
diz aos que amam
Os
próprios males
Que
se acalmem:
Um
dia conhecerão
O
rosto da morte.
Embora ao poeta baste
Os
versos que escreve
Não
consegue
Calar-se.
E
diz aos seus botões
Que
louco distante do deserto
Também
vive perdido.
30/01/2020
Não
há portas
Para
serem abertas
Nem
há portas
Para
serem fechadas.
Aproveite
as delícias do caminho
E
faça festas e bons banquetes.
O
seu destino
É
igual aos seus pensamentos:
Inacreditáveis,
Suspeitos,
Irreais.
Saiba
lidar
Com
o novo sangue
E
a nova carne.
O
único sentido da fé
É
ultrapassar dimensões.
29/01/2020
A
primeira luz que se vê
É
a consciência aberta
Aceitando
nossas fraquezas.
E
por nossas fraquezas
A
consciência aumenta.
Aquele
que mergulha ao abismo
Rejeita
qualquer tipo de embriaguez.
A
luz é nítida
Porque
é lúcida.
Não
existem vermes
Dormindo
dentro dos olhos.
29/01/2020
A
minha mente pervertida
E
o meu coração dissimulado
Vivem
cúmplices dos seus fracassos.
Mas
qual valor
De
uma mente pervertida
Se
atravessou-lhe ao corpo
O
fogo da verdade?
E
o que direi
Do
coração dissimulado
Se
hoje em dia
Ouvem-se
ecos
Da
sua eternidade?
29/01/2020
Se
você quiser chegar à outra margem
Terá
que molhar os pés
E
seria tão bom
Se
os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para
que os peixes limpassem sua dor.
Lá
no alto
Existe
uma ponte
Mas
se você quiser
Poderá
chegar à outra margem
Atravessando
o rio e seria tão bom
Se
os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para
que os peixes curassem sua alma
ouvindo um blues.
ouvindo um blues.
29/01/2020
Fosse
Deus
Ouvir
tuas orações
Morreria
de vergonha.
Mesmo
quando o coração é bom há tanta vaidade
E
se existe pureza nos teus pensamentos
Deus
até desconfia da tua face humana.
Fosse
Deus
Ouvir
tuas orações
Morreria
de tristeza.
Onde
se meteu a tua volúpia espiritual?
E
a louca alegria e a fúria por amor?
Mas
se fosse Deus
Ouvir
tuas orações
Morreria
de profundo
Tédio
e fugiria da tua malícia.
Mas
Deus ama teu cinismo e tua perdição.
29/01/2020
Durante
o banquete
Chega
a ser ridículo
Perguntar
de que rio
São
os peixes e de que pastos
São
as carnes e de que terras
São
os vinhos.
O
anfitrião se aborrece
E
detesta conversa tola
Na
hora do banquete.
Serás
um conviva indelicado
Se
não ouvires o anfitrião que te diz:
Cala-te
e come.
28/01/2020
Caso
teu espírito
Não
esteja atento
Teu
coração será iludido
Facilmente
pelas fantasias
Da
tua estranha cabeça.
Triste
do coração
Guiado
por nuvens de cavalos
Até
o desfiladeiro
Da
morte.
Não
sobrará um osso
Para
contar história
E
nenhum fio de cabelo
Dará
testemunho
Do
que poderia
Ter
sido e tocado
E
não passou
De
fantasia.
27/01/2020
Por
mais tresloucado
Que
seja teu pensamento
E
impuro o desejo
De
teu coração -
O
fogo da verdade
Faz
cinzas.
E
quem encontrou as próprias cinzas
Permanece como no princípio -
Atônito.
O
grande êxtase
É
o poder da mudança.
27/01/2020
A
poesia impede
Que
os passarinhos
De
fim de tarde
Enlouqueçam
meus ouvidos.
Em
vez disso
É
o poeta quem canta
Para
os passarinhos
De
fim de tarde.
Da
ponta do telhado
Fogem
da minha cabeça.
Sou úmido
de fogo.
Sou úmido
de fogo.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
Célula raiz
Voltemos ao lugar de sempre
onde ópio e fábulas ao alcance
das mãos esperam a tua loucura.
Não conseguirás ir longe
com ares de luz e fingimento.
O passado não tem sal,
mas a vontade da poesia
é um sal poderoso, meu poeta.
onde ópio e fábulas ao alcance
das mãos esperam a tua loucura.
Não conseguirás ir longe
com ares de luz e fingimento.
O passado não tem sal,
mas a vontade da poesia
é um sal poderoso, meu poeta.
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