sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Poética

Para quem nasceu
Com um girassol
Plantado na
Janela
O coração não guarda
A mínima vontade
De amar outras
Flores.

Clínica

Desligue
Os aparelhos
Do seu poema
Caso não exista
Aquela fúria do princípio.
E observe com coragem
A morte das palavras
Agonizantes.
As asas dos corvos
Sob a floresta escura
Brilham quanto ardem.

O vazio que morde

O perigo da poesia é o costume
Por tê-la em volta do pescoço
Um nó de forca
Ou um colar
De búzios.
A morte que alcançará os céus
Não ocultará meus pés sujos.

Espinho

Penso nos primeiros versos sob a ingenuidade de um coração louco.
Sei que a rosa branca morreu e chegou a hora de guardar a ânfora.
Nunca me esqueci das palavras que você um dia amou.
Ânfora é a mais doce e misteriosa.

O senhor da doce melancolia

Trôpego ainda crédulo
Saberás como caminhar
Entre névoas de chumbo.
As chagas dos teus pulsos
Não te iludiram a esperança.
Segurarás com mais delicadeza
As tuas próprias asas (tuas cruzes?).
Segue que a vida não se calará
Enquanto tu sonhas e ouves um blues.

Vinho tinto

Vampiro é o meu coração. E para beber do próprio sangue, rouba os meus sonhos para junto de si atrair outros corações. O meu coração um dia cansará de tanta avidez e deixará os meus cílios em paz.
As lágrimas não morrerão tão cedo.