São dez e pouco
e você não chega.
É bom eu adotar um cãozinho -
limpar suas sujeiras, jogar um graveto,
vê-lo trazendo de volta o pedaço de pau
com a língua de fora e os olhos brilhando.
Só assim poderia esperá-la sossegado
sem ficar tão ansioso diante
da parede do quarto.
Aliás, peço-lhe um favor -
na próxima vez entre pela porta
como uma pessoa normal e viva.
Depois que morreu não sei mais qual a parede
que você atravessa e me deixa meio tonto
olhando pras paredes do quarto, sala,
cozinha.
São dez e trinta e pouco
e você ainda não chegou.
Onde você mora agora
nesse outro lada da vida
deveria haver um sininho
como o trem tem apito
e o náufrago golfinhos
nadando em volta.