domingo, 16 de março de 2014

rituais da infância

Não me esqueci do quintal
onde enterrei as urnas funerárias
dos passarinhos, lagartixas e borboletas.

Os gatos eu enterrava
aos pés das árvores
da minha calçada.

Em todas as urnas funerárias
eu depositava alguns dos meus
pertences de muito valor emocional.

Em outra vida os meus bichinhos
teriam uma lembrança minha.

Lembro-me claramente
da cor das caixas
de sapato.

Dos algodões,
amuletos
e éter.

Ao término de cada cerimônia
eu acendia um cigarro folha
de bananeira e invocava
os deuses do portal.

Até hoje nunca um passarinho,
lagartixa, borboleta ou gato
puxaram-me o pé
dormindo.

Creio que estão todos contentes
brincando com meu dominó,
soldadinhos, apaches
e bolinhas de gude.

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