O ciúme tem um olhar míope.
Veste-se de preto (sempre).
Deixa o arroz queimar, o leite subir,
a água da banheira chegar à cozinha.
O ciúme não para quieta.
Não relaxa. Não descansa os pés
sobre a mesinha de vime da varanda.
O ciúme vive com a faca nas mãos.
Não corta bem a carne do almoço.
Mas já tem marcas
no pulso direito.
O ciúme não é confiável.
Ora picos de felicidade,
ora abismo sem fim.
Soletra a-mor
com a voz mais doce.
E bate no peito
que não existe
amor mais belo.
O ciúme tem o olhar calmo.
Veste-se de azul (sempre).
É atenta: o arroz bem feito,
o leite com canela na xícara,
a banheira estonteante de sais.
O ciúme lê um bom livro.
Bebe suco da fruta.
Vive na varanda
os pés balançando
sobre a mesinha de vime.
Adora a varanda.
Cuida das plantas.
Alimenta as andorinhas.
O ciúme é um anjo.
Lava os colarinhos de batom.
Jura que não vê os números de telefone.
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