sábado, 26 de março de 2011

figura

O meu guarda-chuva é um senhor de terno preto.

Dentro do quarto pendurado na estante
reza baixinho para que amanhã chova.

Debaixo da chuva é um safado
abre as asas é um corvo

bulinando canteiros
pegando o telefone
de toda gramínea.

Eufórico enquanto chove.

Dentro do quarto é um senhor de terno preto. Casto.
Silencioso. Rezando baixinho encostado à parede.

O cinto preso no pescoço.
As mãos postas para baixo.

10 comentários:

  1. "tudo o que é inútil presta à poesia"
    M. de Barros.

    Lá.caio que é pois ía...

    :)

    ResponderExcluir
  2. Manoel de Barros e o seu olhar mágico
    ...

    Francisco, abração!

    ResponderExcluir
  3. Excelente ideia e construção. Abraços, Pedro.

    ResponderExcluir
  4. só você, mesmo!

    teu guarda chuva é uma figurassa.

    ResponderExcluir
  5. Acredite, Cris, é mesmo uma figura!

    (sobretudo quando chove e ele tem a praça aos seus pés, ou melhor, ao seu bico, uma vez que ele se transforma em corvo)

    Beijo carinhoso, poetisa.

    ResponderExcluir
  6. olhar alegórico sobre o homem.

    quantas vezes o homem é até mais do que o próprio senhor de negro guardado no roupeiro, em dualidade indistinta? quantas vezes não é ele, também, a chuva que se desprende do céu?
    um abraço!

    ResponderExcluir
  7. Jorge Pimenta,
    é isso mesmo:quantas vezes uma só imagem (corpórea e etérea)

    forte abraço,
    grande poeta
    e amigo!

    ResponderExcluir
  8. Ai que delícia!!! E tanto chapéu de chuva que há por aí...
    Beijo

    ResponderExcluir
  9. é verdade, Sandra
    e cada um deles com sua estória
    particular e especial
    ...

    carinhoso beijo.

    ResponderExcluir