quinta-feira, 17 de março de 2011

crença

Eu acredito na conspiração entre as moléculas
do corpo humano e do vento que entra pela janela.

Acredito no sangue de quem escreve versos
e nas asas do passarinho.

Na transmutação do barro à escultura
e do silêncio à eternidade.

Eu acredito na eletricidade que trespassa paredes
e serpenteia pelas nuvens e mergulha
no café da xícara.

Acredito no sangue de quem escreve versos
e no casco da tartaruga.

No subterrâneo da terra.
Na indecisão das minhocas
[se cobra ou lombriga]

Eu acredito na brandura dos objetos
mesmo daqueles que ferem e matam.

Acredito na mão do facínora que se recolhe.
No pensamento resguardado.
Na fúria contida.

Acredito no sangue de quem escreve versos
e nas escamas dos peixes.

Na música, na fábula, no reisado e no amor.
Eu acredito no leite materno.
Na presunção do pai e no perdão.

Eu acredito na reviravolta.
No redemoinho.

No olhar acima dos cílios.
Na lágrima pura.

Acredito no sangue de quem escreve versos
e no batimento cardíaco das minhas botas.

2 comentários:

  1. Este me pegou de jeito, Domingos... Após ler e reler, quase te mandei e mail, pois imensa era minha empolgação e eu queria compartilhá-la... mesmo sendo este poema ser do tipo que não se comenta, porque ele aperta a garganta e amortece as mão...

    Sem dúvida, um de meus favoritos!

    Um beijinho de fã!

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  2. eu também sempre que releio esse poema me sinto fortalecido
    ...

    Beijo carinhoso,
    poetisa!

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