segunda-feira, 7 de março de 2011

cegueira

quando o carnaval terminar venha
de qualquer jeito morta ou mulambenta
mas venha para meus braços coloridos
de azaleias e cada pétala puxada
irei colar nos seus cílios
e você será motivo de pilhéria
dos beija-flores

mas venha mesmo após o carnaval
toda usada gasta ínfima sem voz
venha aos meus braços rígidos
frutos da cadeia ramificada
de aminoácidos

e serei o homem mais feliz
que já viveu dentro da caixa de sapato
junto a pezinhos de feijão
enrolados com algodões
úmidos de éter

venha e não me diga
que é um trapo humano
nós sabemos que você
sempre será um trapo humano
que assombra criancinhas felizes
dentro do coração de um poeta

quando terminar o carnaval
traga seu corpo de volta

deixe sua alma na latinha e no spray
do lança-perfume paraguaio
mas venha mesmo roída
moída carcomida

trazendo no suor
a maldição do arrependimento
não sou padre nem exorcista

tenho só cobiça
pelas pregas da sua mucosa
pelos suspiros do seu esôfago

venha santinha venha doida
venha varrida nojenta
mas venha quando
o carnaval acabar venha
aos meus braços que já
lhe preparo unguentos
sucos naturais frutas doces

não se importe com as gargalhadas das andorinhas
com as ferozes bicadas dos beija-flores
com as formiguinhas nos seus calcanhares

perdoe esses meus fantasmas
eles não sabem o que é
escrever por impulso

acordado
desvalido

empestando o ar
de flatulências

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