quarta-feira, 16 de março de 2011

fábula

Tu nem imaginas o que trago agora
dentro do bolso do meu bermudão.

Adivinha: uma azaleia
ou um palito de dentes?

Quem sabe então o lenço dos óculos escuros
ou talvez uma moeda de um real esquecida?

Estás fria,
fria.

Não sei se te conto o que trago agora
dentro do bolso do meu bermudão
azul desbotado.

Um verso antigo escrito no guardanapo do último porre?
Uma fotografia daquela noite de lua cheia e discos voadores?

Adivinha, baby.

Pode ser um camelo
ou um elefante
ou borboleta.

[tu sabes que tudo cabe
no bolso do bermudão
de um poeta]

Se não fizeres esforço
também não te direi.

Ah, não sorrias desse jeito
assim não vale é covardia.

Por favor, não dês esses gritinhos
não dês esses pulinhos não faças
esse rostinho de fadinha sofrida.

Direi, então.

Nessa manhã de quarta-feira
eu trago dentro do bolso
do meu bermudão
azul-claro

uma aliança de aço cirúrgico
no meu dedo anelar [ontem
amputado]

Dá um beijinho,
que sara.

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