domingo, 6 de março de 2011

as maravilhas do entardecer

Aproveite essa tranquilidade de cadáver seu moço.
Vire-se para as paredes.

Sorria de volta.
Seja gentil.

Ninguém sabe se amanhã apóstolos
roubarão o seu corpo
[marcas de sangue
pelo caminho]

Ninguém o seguirá: as suas formigas
gostam de açúcar e as suas botas
de bostinha de poodle.

Aproveite essa paz de fotografia antiga.
Dê-lhe boa tarde.

Talvez seja a sua única foto
em que se nota um sorriso.

Seu moço ninguém sabe
se amanhã vândalos picharão seu muro
[deixarão marcas de cal pelo caminho]

e ninguém o seguirá: as suas cuecas
presas no varal ainda molhadas
e o seu bermudão azul claro
dentro do cesto de roupa suja.

Aproveite essa luz de cadáver imaculado seu moço.
O passado queima a consciência daqueles tolos
que retornam ao princípio do erro.

O seu corpo é um corpo de cadáver.
Deixe-o como está: morto e feliz.

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