sexta-feira, 4 de março de 2011

o dia

Esperei o carnaval
para lavar o banheiro.

Ainda que um futuro presente
amanhã escreverei meu enredo:

escovão, sabão em pó,
alvejante, detergente.

As cerâmicas hão de sambar alegres.
O vaso sanitário de sorrisão aberto.

Darei um trato até na minha saboneteira
[um pequeno veleiro de plástico]

Esperei ansioso que o carnaval chegasse
já me causava náuseas a melancolia
do meu banheiro.

Atrás da porta, dentro da lixeira,
no ralo e acima do chuveiro
os inimigos multiplicavam-se
sob formas dionisíacas:

parasitas,
bactérias,
fungos.

Amanhã ainda que
um futuro próximo
será o fim deles.

Serei cruel.
Sádico.

Peço a deus apenas que nenhuma formiguinha
atravesse o meu caminho nem tente boiar
sobre a espuma do omo.

Eu não salvarei nenhuma delas.
Nem cortarei os pulsos.

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