terça-feira, 8 de março de 2011

tribuna

Consciente do hábito desprezível
continuo cheirando minha cueca
depois do banho (embora eu saiba
que o destino dela é o cesto
de roupa suja) .

Sem falar do meu nariz
de cujas fossas retiro
suntuosas melecas

[boca aberta pensando
na morte da bezerra]

em seguida esfrego todo o muco nasal
na capa do sofá ou nas almofadas.

Essa fase em que vivo
coincide com uma certa
altivez da alma

que de tão envergonhada do corpo
deseja pra ontem a separação metafísica.

Tento (em vão) explicar a justa normalidade
das pequenas infrações da licença poética.

Mas a alma sisuda não me ouve.
Não muda de ideia.

Diz que alma é alma.
Corpo é corpo.

E que no mínimo há de se ter
uma boa educação.

Compreendo a atitude da colega.
Respeito. Mas entre a efemeridade
do corpo e a eternidade da requerente

em ileso juízo
dou ganho de causa
ao sensível folião.

Bato o martelo.
Que oficializem a papelada.

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