terça-feira, 26 de abril de 2011

orelha

Preciso ficar pensando
todos os instantes
que sou carne.

Senão viro seda, folha seca,
cachos de papai-noel e saio
voando pelas calçadas
e telhados.

Preciso não esquecer que sou carne.
Um pedaço de carne ambulante.

Caso contrário me transformo em pena de pombo.
Atravesso a janela. Invado a sala.
Pouso sobre o sofá.

Um pedaço de carne é um pedaço de carne.
O seu destino é pesado. Não é plumagem.

Preciso andar confiante.
Cheirar meu braço.
Morder meu braço.

Dizer para mim mesmo
antes que eu desmaie
que sou carne.

A todo instante eu não posso esquecer de repetir:
sou um pedaço de carne um pedaço de carne.

26 comentários:

  1. carne da minha carne, grito eu


    abraço

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  2. Irmão Assis,
    estive relendo o teu livro de contos,
    camarada, tu escreves muito
    intenso e sem nunca perder o fio
    ...

    forte abraço.

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  3. "Um pedaço de carne
    é um pedaço de carne.
    O seu destino é pesado.
    Não é plumagem."

    Não reclamemos, pois...

    Um abraço,
    Doce de Lira

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  4. amigo domingos,
    que a carne seja sempre carne. e o homem um pouco mais para além dela.
    forte abraço!

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  5. És um músculo, Domingos! És coração.
    Beijinho

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  6. Que lindo, Domingos!
    Mas eu prefiro virar pena, seda ou folha seca...

    bjs
    Rossana

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  7. Sou carne que se rende à leitura de uma pele...

    Beijinho, poeta dos dias...

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  8. Renata,
    é justamente essa plumagem
    que nos toca de forma invisível
    ...

    Abraço carinhoso.

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  9. Grande poeta e amigo Jorge Pimenta,
    só em reconhecê-la carne
    o homem ultrapassa
    aquela margem
    que ora enlouquece
    que ora ilumina
    ...

    Forte abraço.

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  10. Sandra,
    a sua alma
    é que é uma pluma
    sensível e cintilante
    ...

    Beijo carinhoso.

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  11. Rossana,
    talvez o corpo precise
    de um tanto de etéreo
    e também de densidade
    para andar e levitar
    ao mesmo tempo
    ...

    Beijo carinhoso.

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  12. carne da carne do Assis, repito eu.
    e vão se churrascar os dois, sem mim, que sou apenas uma boa alma...

    abraço descarnado!

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  13. AnaLuz,
    que lindo o que disseste
    "Sou carne que se rende à leitura de uma pele..."
    ...

    Beijo carinhoso,
    sensível poetisa.

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  14. Valéria, olhar o corpo
    como se separado dele
    nos traz uma brandura
    inquietante
    ...

    Abraço carinhoso.

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  15. (hehehehehehe)

    Tuca, camarada,
    não te esqueças
    que as boas almas
    também se perdem
    no caminho da "carne"
    ...

    Forte abraço.

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  16. carne, Domingos, carne absoluta,
    desde que a orelha não seja a do Van Gogh, carne descartada.
    mordamos, pois, cada um a própria carne.
    vorazmente, auto-canibalisticamente, até o derradeiro mindinho do pé.
    carne comendo carne, digerindo carne, defecando carne... e assim por diante, num moto-contínuo de auto-conhecimento e afirmação do mero artigo de açougue que somos no grande mercado globalizado.

    abraço

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  17. Manoel de Barros costuma dizer que não está poeta, mas é poeta [leia-se: 24 horas]... se a gente não atenta, viaja e passa a ser ao invés de somente existir... eis a matéria de que é feita a poesia...

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  18. Wilden, é essa carne
    a revelação do pouco
    que somos
    ...

    forte abraço.

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  19. Francisco, a capacidade
    de estar atento ao corpo
    enquanto os pés fogem
    das pernas e estas
    do tronco

    talvez seja a fonte
    da exuberância poética
    ...

    forte abraço.

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  20. Então desaba o conceito que a carne é fraca.

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  21. Camarada Fred,
    a carne [a carne de que estamos falando] é a própria consolidação
    do fogo!

    forte abraço,
    irmão.

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  22. Vanessa, e por mais que eu repita
    os músculos tremem me aprisionam
    [embora eu não acredite]
    ...

    Beijo carinhoso.

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  23. ser carne doi mais, plumagem cai docemente. Ora ser pluma, ora ser carne

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  24. Cynthia, é um equilíbrio
    difícil quando o pássaro voa
    ou quando o antílope foge
    da predador
    ...

    Mas é o tesouro.
    O único.

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