segunda-feira, 18 de abril de 2011

abril

Quando são pedro mija assim devagarinho sobre o telhado
é muito difícil eu levantar-me da cama abrir o olho direito
e manter o esquerdo acordado: preciso da ajuda
de um pregador de roupa
entre os cílios.

Enquanto há criatura nesse vasto mundo
que já pula sorridente feito golfinho.

Todos os músculos despertos.
Uma energia assustadora.

Sai de casa cantando bom dia
aos porteiros, cobradores,
passarinhos e árvores
de tal forma alegre

que penso em dar-lhe na cabeça D. Quixote
[um volumoso antigo] ou mesmo uma frigideira.

Adverti-lo: "ei, a vida não é valsa,
vão lhe roubar o relógio, a carteira
e o celular na esquina e vão comer
a sua menina e cuspir no seu cafezinho

e vão pregar-lhe nas costas chacotas
e vão depois convidá-lo pra beber umas
e no dia seguinte espalhar seus segredos"

Mas esse tipo de criatura não me ouve.
Eu que sou o louco e o sisudo.

Eu o preguiçoso e apático
sobretudo quando são pedro
mija assim devagarinho
sobre o telhado.

6 comentários:

  1. até ouvi o barulhinho no telhado...
    (viajo no seu sarcasmo)

    beijo, bruxo!

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  2. Minha adorável poetisa,
    o que eu ouvi de cá foi
    o rumor encantado
    dos teus cílios
    ...

    Beijo carinhoso,
    crisântemo.

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  3. Rapaz, que ludismo sarcástico, deliciosamente!

    E a mistura do cotidiano com os abismos da alma fazem do poema um exemplar de quem empunha a autêntica poesia.

    Forte abraço!

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  4. Wilson, meu camarada,
    é esse mesmo o tom
    afinal posso perder
    um amigo no céu
    mas não perco
    o poema.

    forte abraço.

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  5. como disse Jobim "não gosto de chuva nem gosto de sol" e como disse Elliot "abril é o mais cruel dos meses",

    abraço

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  6. Irmão Assis,
    creio que a cada ano
    há um mês enfadonho
    que nos escolhe
    ...

    forte abraço.

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