terça-feira, 19 de abril de 2011

borbulhas

Não se apavore com o seu sangue.
Não é você quem comanda o vazio.

Por mais que os seus músculos estiquem.
Seus gracejos e suas lágrimas apareçam.

Não pense que são seus os sonhos.
Você no máximo é uma bostinha
de pombo ou de borboleta.
Mas uma bostinha.

Esse riso ridículo é a promessa da angústia.
Esse meio caminho é uma trajetória insana.

Por mais que os óculos caiam sobre o seu longo nariz.
Os seus olhos se espantem com as fendas do espelho.

Não é seu o berro dentro do coração da sombra.
Não é sua sequer a sombra.

Você não passa de uma bostinha
de formiga ou de cisne.
Mas uma bostinha.

Não investigue os seus erros com esse cinismo.
O cínico é pássaro que não voa ou uma víbora
que sonha ser o dragão mais esperto da aldeia.

Não se assombre com o seu sangue.
Você é homem e não há como conter o fluxo.

Suponha que o dia da sua morte
não lhe cause entremecimento.

É um começo.
É um bom começo.

6 comentários:

  1. Borbulhas essas coisas incómodas que irritam, mas que não temos como nos livrar delas.

    Uma metáfora muito conseguida, este seu poema.

    Gostei muito.

    L.B.

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  2. Sim, Lídia, e o que seríamos de nós
    e das borbulhas sem as metáforas
    ...


    Abraço carinhoso.

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  3. às vezes fico atemorizado quando leio coisas assim, tipo profecia a se cumprir, eu sou um homem e não posso conter o fluxo,


    abraço

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  4. Passei por aqui e amei seu jeiot de escrever e já estou te seguindo. Inclusive acho interessante suas metáforas. Aplausos!

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  5. Irmão Assis, então que o fluxo
    desça por nossas almas
    ...

    forte abraço.

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  6. Rose, obrigado pela gentileza,
    minha alma poética é vossa
    ...

    beijo carinhoso.

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