quarta-feira, 6 de abril de 2011

o frêmito da cítara

é tarde, moço
muito tarde
para ser feliz

embarque agora
não pense em despedida

termine de beber seu cafezinho
e não se sujeite ao destino
ou à dúvida

é muito cedo, moço
para esquentar a cabeça
antes da morte e da calvície

suba no pégaso
a galope

as asas chiam
mas só espantam
moscas e tartarugas

as moscas chegam até as paredes
as tartarugas se envaidecem da paciência

e o que tem você, moço
contra moscas e tartarugas?

é tarde, seu moço
muito tarde para se opor

ao que queima as têmporas
ao que redime a sombra

não há equilíbrio
entre o tênue e o denso
o que existe mesmo é tempestade

de sal e de acre
de saliva e de soluços

mas o que tem, seu moço
ser perdido e vil
entre coisas
e ideias?

não há o que se celebre
nem o que se negue

a sua cabeça é louca
o seu sonho é um fardo

então não desça do lombo do pégaso
faz tempo [tanto tempo]
seu moço

que o vento da tempestade
riscou seu rosto apartou seus cílios
brincou de abelha dentro dos seus olhos

e o que vejo é sal e acre
é um aperto sem noção
é um desamparo

cujo espelho
é a coragem
cuja alma
é o corpo
cuja fonte
é o barro

é tarde, seu moço
para dividir os pulsos

para enxergar caolho
para andar reto
sendo coxo

só o seu pégaso
conhece o frio
do telhado

e sabe da distância
entre o homem
e as estrelas.

6 comentários:

  1. ” que o vento da tempestade
    riscou seu rosto apartou seus cílios
    brincou de abelha dentro dos olhos”
    Versos extremamente cativantes!! Ótimo trabalho!
    Grande abraço!
    Adriano MB

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  2. Obrigado, camarada
    sobretudo por sua sensibilidade
    poética
    ...

    forte abraço!

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  3. ô moço, posso dar uma voltinha no seu pégaso?

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  4. Cris [Flor Dourada]
    o pégaso conhece
    as estrelas

    já viu uma de perto?
    Sobe.

    Beijo carinhoso

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  5. de fato um poema
    intenso
    ...

    Forte abraço,
    irmão Assis.

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