sexta-feira, 15 de abril de 2011

fuligem

O meu cheiro é forte.
A minha língua é doce.

Mas é hora de fechar a porta
e passar três ferrolhos:

um na cabeça,
outro no coração
e o último no ventre.

As plantas na varanda
nunca foram minhas.

É triste despedir-se do vazio
enquanto o bermudão sorri
com seu zíper aberto.

O meu umbigo é um olho de sapo.
Vou-lhe pregar uma argola cirúrgica.

Sabe por que levanto pesos?
Para quebrar os dentes do meu chefe.

Tiveste ciúme supondo que era para encantar damas
ninfas e sacerdotisas. Não, meu bem, é mesmo para
esmurrar forte e não escapar nenhum dente brilhando
naquela cara estúpida do meu chefe que odeia poesia.

As plantas na varanda
nunca foram minhas.

Os meus livros são coxos inúteis
que sequer andam pela estante.

Precisam de fogo.
O quarto e a casa toda.

Já fechei a porta
e passei três ferrolhos.

14 comentários:

  1. Isto é que é determinação! (ou seria apenas a força, o poder das palavras buriladas?)
    Esses chefes odeiam a vida. Quantos os não há fixados em relatórios e estatísticas, que nada veem além das persianas!)
    Abraço!

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  2. já pensou o cataclismo da combustão de tanta poesia,


    abraço

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  3. você é sempre surpreendente, Domingos.
    não cansa essa monotonia de ser todo dia outro?

    abraço

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  4. " As plantas na varanda nunca foram minhas"

    E a gente se engana, pensando ser possuidor. Um lamento. Uma vida pode ser um lamento.

    Um abraço,

    Suzana/LILY

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  5. Sshow, meu querido Domingos!
    O show costumeiro, sem o qual não fico...
    Estou sempre sentada na primeira fileira, na cadeira que fica mais perto do palco!
    Abraço apertado.

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  6. Camarada Paulo, claro que as palavras
    (como bem disse) têm força suficiente
    para provocar o sentimento mas
    esses chefes lalastrões precisam
    usar dentadura ou fazer implante
    afinal o riso deles não mudaria:
    tão simplório e falso.

    Forte abraço,
    camarada.

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  7. é o Fogo da salvação
    ...

    forte abraço,
    irmão Assis.

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  8. Wilden, poeta atento,
    são essas facetas
    que renovam o espírito
    ...

    [ou pelo menos me fazem
    menos enfadonho comigo
    mesmo]

    forte abraço,
    camarada.

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  9. Suzana, é verdade,
    é um lamento,um lamento
    que chega a escandalizar
    e purificar o olho direito
    sobretudo ao percebermos
    que não somos possuidores
    de nada
    ...

    Carinhoso abraço.

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  10. Elevada poetisa e amiga Zélia,
    sempre que sua deslumbrante alma
    pousa sobre meus versos é tanta
    doçura e gentileza
    ...

    Carinhoso abraço.

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  11. Prazer imenso ler a tua poesia, o teu chefe deve ser triste mesmo!!! Deixa para lá, não ouses estragar tuas preciosas mãos, ele é que perde!
    Beijinho

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  12. Querida poetisa,
    não se preocupe,
    usarei luvas
    de cobre
    (rsrs)
    ...

    Beijo carinhoso,
    Sandra.

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  13. sinto pelo olho mágico

    teu cheiro
    tão doce,
    quão hortelã
    mistura
    os ardores
    das noites
    ao frescores
    das manhãs

    és um poeta inconfundível!!

    três beijos(pra dar sorte).

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  14. Cris (Flor Dourada)
    outros três em ti
    mas de sorte não precisas
    já és encantada
    ...

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