sexta-feira, 17 de abril de 2020

Pulmonar

Cada poema
tem sua história
que não é a do poeta.

O poema convida
para se fazer palpável
o que não conhecemos.

O poeta nem o leitor
imaginam a verdadeira
função histórica do poema.

O poema não é um breve
suspiro e suspensão de ideias.

Há cadáveres
e flores virginais
que se debruçam
sobre as palavras.

O poeta não sabe disso,
e portanto para alcançar
o mais tenro do pensamento
escreve o que ouve do poema.

O poema é senhor
em si mesmo, filho.

E tudo que parece
ditado e escrito
pelo poeta

é tão cheio de vapores
quanto os sussurros
das cavidades
do coração.

O poeta se expressa
fingindo-se soberano
do que por vezes sente.

Mas o sentido das coisas
(das coisas do poema
e das coisas do poeta)

não cabe
em versos.

E o poeta recebe em troca
por sua devoção a experiência.

2 comentários:

  1. os poemas nunca são do poeta, são de quem os lê
    são de todos e de ninguém
    e não se esperem rosas ou moedas

    (e agora um beijinho imenso, deste lado, esperando que estejas bem!!!)

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    1. Ah, querida poeta, feliz por sua voz... beijo, beijo...

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