sexta-feira, 17 de julho de 2015

Voltarei a dar sermões no alto da montanha.
Não mudarei o meu estilo nem a minha túnica.

Conservarei a mesma cor lilás
E o cordão azul em volta da cintura.

Abrirei os braços com a envergadura de um poeta crucificado.
Chamarei aos meus pés os desconsolados, os febris, os pagãos.

Aliviarei a dor dos angustiados
Por terem roubado doces na infância
E dos anciãos tristonhos pela covardia
Da mocidade em fugirem do primeiro amor.

Sangrarei os meus pés com a subida.
Não calçarei as sandália do ermitão.

Não pouparei minhas lágrimas.
Não deixarei pra depois a salvação.
Farei fogo com os meus cílios e queimarei
Os corações de quem se propor ao desconhecido.

Serei o pai do filho órfão.
Serei a mãe da filha grávida.

Indicarei com a minha voz
O caminho da coragem
E da boa morte.

Voltarei pra minha caverna cansado.
Exausto e feliz do meu encantamento.

Dobrarei a minha túnica lilás
E com o cordão azul apertarei
O meu santo sudário da poesia.

Dormirei despido,
Trêmulo, entre rochas.

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