terça-feira, 23 de junho de 2015

Os primeiros poetas não sabiam que nome dar àquela escrita
Suja de âmbar que escreviam em suas costelas com pontas
De pedras. Gostavam mais do som das pedras
Contra as costelas.

Muitos dormiam e sonhavam com palavras
Ouvindo o som das pedras pontudas
Contra as suas costelas.

Os primeiros poetas não escreviam para eles
Nem para o tão próximo ou tão distante.

Escreviam por que havia a luz do fogo
Que iluminava seus corpos em cavernas úmidas.

Os primeiros poetas não escreviam
À luz das estrelas.

Os primeiros poetas nunca foram bons caçadores.
Nem eram dotados de perspicácia e delírios
Para alcançar os céus.

Os primeiros poetas escreviam com pedras pontudas
Contra suas costelas e talvez fosse âmbar aquela resina.

Sei que morreram no inverno.
Cobertos de neves.

Muitos tinham nas mãos e rostos
Mordidas de cães selvagens
E outros bichos.

Mas por seus corpos estarem cobertos de neves
Parecia-lhes uma morte tranquila. Alguns
Não morreram e chegaram a conhecer
Mais dos céus do que da alma.

E a alma aos primeiros poetas
Era só o corpo, o corpo e as costelas
Feridas pelas pedras pontudas de âmbar.



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