terça-feira, 22 de outubro de 2013

carta dentro de uma garrafa

Aviso aos navegantes:
com a minha morte
joguem meu corpo
do navio ainda
em curso.

Não há necessidade
de discursos, tampouco depois
venham me imaginar escrevendo
no céu junto a passarinhos e santos.

Fui um homem comum, mau e bom,
desgostoso às vezes da vida, amante
e adorador do sacrifício
que me renasce.

Não me imaginem em um lugar especial
depois da minha morte, sabe-se lá.

O tempo não terá a mesma dimensão deste tempo
caso houver tempo em outro espaço além deste.

Não se confundam
nem queiram poupar-se
de alguma mágoa orando
por minha alma - que alma?

Não publiquem nada sobre mim.
Não digam que fui isso ou aquilo.

Se eu próprio não cheguei à minha verdade
será então ilusão de vocês o que pensarem.

Joguem o meu corpo
do navio ainda em curso.

Só o que peço, e voltem
firmes para as suas vidas.


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