sábado, 19 de fevereiro de 2011

o ser

todo santo dia planto trigo
e colho girassóis

nublado ou ardente
debaixo desse céu

toda louca noite
faço meu café
bebo absinto

converso com espantalhos
sou tocado pelo fogo
da mula sem cabeça

da varanda mortos caminham
indiferentes ao que pisam

estrelas no alto
bostinha de poodle na esquina

o milagre não é a luz elétrica
mas o tenro pavio da vela

meu quarto é a minha alma
a toalha pendurada no trinco

os pulmões ainda choram
o resto das lágrimas cinzas

morro mas não dou trégua
invado, masco, torço, sangro

e os versos pulam do além
pingam sobre as cerâmicas

nós sabemos que tudo é uma guerra
olhar para dentro, deixar o corpo
viver alinhado às esferas
por míseros segundos

[até que o trigo cresça,
vire girassóis]

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