todo santo dia planto trigo
e colho girassóis
nublado ou ardente
debaixo desse céu
toda louca noite
faço meu café
bebo absinto
converso com espantalhos
sou tocado pelo fogo
da mula sem cabeça
da varanda mortos caminham
indiferentes ao que pisam
estrelas no alto
bostinha de poodle na esquina
o milagre não é a luz elétrica
mas o tenro pavio da vela
meu quarto é a minha alma
a toalha pendurada no trinco
os pulmões ainda choram
o resto das lágrimas cinzas
morro mas não dou trégua
invado, masco, torço, sangro
e os versos pulam do além
pingam sobre as cerâmicas
nós sabemos que tudo é uma guerra
olhar para dentro, deixar o corpo
viver alinhado às esferas
por míseros segundos
[até que o trigo cresça,
vire girassóis]
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