sexta-feira, 19 de julho de 2013

a líquida indiferença

Não se trata de amor,
deixo-te em paz
por orgulho.

E espero sinceramente
que estejas aproveitando os dias sozinha
com a casa toda tua e de quem mais desejes.

Só de um tempo pra cá observo
meu rosto: as cicatrizes, o formato
do nariz, do queixo, a fronte, os lábios.

Sou um sertanejo forte
com resquícios de alma lírica
herdada pelo sangue português.

Aproveita a tua temporada de frivolidades.
Pois eu cá, osso a osso e carne a carne
aproveito muito minha volúpia
solitária.

Quem de nós estará vivo na velhice
para se lembrar do perfume?
Não me olhes,
querida.

A poesia é uma amante tão dúbia
quanto a ânsia do silêncio.

Velho e decrépito, deus queira
que eu tenha forças para lavar
meu prato.


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