A poesia é um travecão
inebriante sobre o palco
mas quando chega em casa
joga longe os sapatos
e com um cigarro colado
nos lábios de batom vermelho
anda firme
até a varanda.
Se a noite foi boa sorri cínica
mas se a noite foi péssima
dá uma banana e manda
o mundo às favas.
Impressionante a coragem e o esplendor
desse travecão novamente sobre o palco
as mãos glamourosas de quem segura uma flor
e ao mesmo tempo calosas de quem levanta uma parede.
E será o mesmo show dentro de casa uma taça de gim
os sapatos largados debaixo da cama
o sutiã sobre a mesa
o mesmo andado até a varanda
com o cigarro colado nos lábios de batom vermelho
e se a noite foi boa gargalha
e se a noite foi uma droga
fica em silêncio.
A lágrima que desce não é pela noite
nem pela desgraça nem pelo luxo -
a lágrima que desce
é porque é uma lágrima
e tem de descer e não cegar os olhos.