quinta-feira, 7 de março de 2013

a justa sombra da luz

A poesia é um travecão
inebriante sobre o palco

mas quando chega em casa
joga longe os sapatos

e com um cigarro colado
nos lábios de batom vermelho

anda firme
até a varanda.

Se a noite foi boa sorri cínica
mas se a noite foi péssima
dá uma banana e manda
o mundo às favas.

Impressionante a coragem e o esplendor
desse travecão novamente sobre o palco

as mãos glamourosas de quem segura uma flor
e ao mesmo tempo calosas de quem levanta uma parede.

E será o mesmo show dentro de casa uma taça de gim
os sapatos largados debaixo da cama
o sutiã sobre a mesa

o mesmo andado até a varanda
com o cigarro colado nos lábios de batom vermelho

e se a noite foi boa gargalha
e se a noite foi uma droga
fica em silêncio.

A lágrima que desce não é pela noite
nem pela desgraça nem pelo luxo -

a lágrima que desce
é porque é uma lágrima
e tem de descer e não cegar os olhos.