sábado, 9 de março de 2013

o degredado

A poesia é uma excelente prisão:
todos os dias eu limpo a vidraça
com meu hálito para que aves
sintam inveja da mocidade
das minhas asas.

As grades lustro usando meus cílios.
E o teto é o bico das minhas botas.

As francesinhas que passeiam
sobre meu prato sempre me
guardam uma migalha
em noites de fome.

E água quem me traz
é uma velha lagartixa.

Bebo da boca dela
e só reclamo quando
sinto gosto de formiga.

No mais, a poesia é uma excelente prisão.
Sobretudo para jovens senhores
cansados da velhice.


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