Esquecer uma palavra é o bastante para o poema fincar os pés.
Esconder-se em labirintos de nuvens.
Rejeitar a camisa nova,
os tênis velhos.
Uma palavra esquecida quando já dançava
no dorso da língua é um ato demoníaco
confabulado por certos anjos
que detestam o poema.
E dentro dele, do poema,
incutem-lhe desprezo
por aquele artesão
que perde a vida
para encontrar uma janela aberta.
A palavra que some por essa janela aberta
não causa dor nem saudade porque ela
existiu e foi sã e transparente.
Mas a palavra que escapa do coração
por um tal de esquecimento estranho
que nem esquecimento é,
esse sumiço sim
é uma desordem.
Um pássaro que voa sisudo
descontente do tempo chuvoso.
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