sábado, 9 de março de 2013

os pássaros são formigas

Mudaram-me de quarto
depois que fantasmas
fugiram da porta

da velha porta
morta de cupins.

Não sofram, meus amores.
Já estou quase completo
nessas questões
de dor.

Não da dor trivial do corpo.

Dor normal que é dor de dente
nem da unha do dedão arrancada de um chute.

Mudaram-me de quarto
para estarem próximos
do meu corpo.

Não sabem eles que o meu corpo é um guardião cansado.
A qualquer instante pode acordar atordoado imaginando
o fim do mundo e pular da varanda.

Da varanda, meus amores, é um pulo insignificante.
No final do ano viajarei pras bandas do Tibete.
Dizem que lá há verdadeiros penhascos
dignos de uma morte definitiva.

Mudaram-me de quarto.
E me sinto melhor.

Não pelo quarto em si
mas pelos novos amigos
que estou conquistando:

insetos ainda desconfiados
meio incrédulos da minha solidão.



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