Você acredita
que havemos
de atravessar
o coração pra
chegar à mente?
Há séculos, séculos e muitos séculos
imaginei o contrário - que fosse
necessário atravessar a mente
para descobrir o coração.
Penso,
baby,
que não há um coração perverso que destrua uma mente lúcida
nem uma mente doente que um coração louco em são transforme.
Embora me pareçam
os contrários semelhantes.
Dependendo
da cegueira
e da visão.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
Papinho
Não tenho a menor ideia
do que você é feito -
se de névoas
ou coragem.
Se atravessou o corredor escuro
da casa de seus avós ou pediu
clemência aos seus irmãos.
Se enfrentou seus fantasmas
do berço levantando os bracinhos
e desmascarando os velhos fantasmas.
Ou se acovardou
debaixo da cama.
Sei de uma coisa -
estou farto de salvação.
Mas você pode (óbvio)
escutar os salvadores
de almas e fugir
da vida.
Fugir da força
que é você.
Matei muitas formiguinhas na minha infância
e até um dia desses percebi que elas se esqueceram
da minha xícara branca e não se afogam mais no meu café.
Que bom,
meu poeta.
do que você é feito -
se de névoas
ou coragem.
Se atravessou o corredor escuro
da casa de seus avós ou pediu
clemência aos seus irmãos.
Se enfrentou seus fantasmas
do berço levantando os bracinhos
e desmascarando os velhos fantasmas.
Ou se acovardou
debaixo da cama.
Sei de uma coisa -
estou farto de salvação.
Mas você pode (óbvio)
escutar os salvadores
de almas e fugir
da vida.
Fugir da força
que é você.
Matei muitas formiguinhas na minha infância
e até um dia desses percebi que elas se esqueceram
da minha xícara branca e não se afogam mais no meu café.
Que bom,
meu poeta.
Pássaros
Chegada a hora
de colher as espigas
muitos entram em pânico
diante da vereda até o milharal.
Em clara consciência
sabem do medo.
Poucos entenderam que símbolos
e imagens são casas para entrar
e para sair.
Caíram na armadilha
da falsa segurança
ao construírem
um túmulo
na mente.
E agora
diante da vereda
que conduz ao milharal
muitos de pernas paralisadas
não conseguem dar um passo
e os olhos pulam das órbitas.
Não entenderam que imagens
e símbolos são casas para
entrar e para sair.
Quem ergue um túmulo
de ilusões na alma
perde a vez.
E terá que aguardar
a última espiga
do milharal.
de colher as espigas
muitos entram em pânico
diante da vereda até o milharal.
Em clara consciência
sabem do medo.
Poucos entenderam que símbolos
e imagens são casas para entrar
e para sair.
Caíram na armadilha
da falsa segurança
ao construírem
um túmulo
na mente.
E agora
diante da vereda
que conduz ao milharal
muitos de pernas paralisadas
não conseguem dar um passo
e os olhos pulam das órbitas.
Não entenderam que imagens
e símbolos são casas para
entrar e para sair.
Quem ergue um túmulo
de ilusões na alma
perde a vez.
E terá que aguardar
a última espiga
do milharal.
domingo, 23 de fevereiro de 2020
Orquestra de blues
Da cozinha
dá pra ouvir
o passarinho,
mas é da varanda
que a criaturinha
entrega a partitura.
Escondido
entre os galhos
do pé de oiti espera
que o poeta chore
ou beba café.
dá pra ouvir
o passarinho,
mas é da varanda
que a criaturinha
entrega a partitura.
Escondido
entre os galhos
do pé de oiti espera
que o poeta chore
ou beba café.
Laranja
Aquele que nasce do espírito
também ama a carne.
Os pássaros
quando erram as notas
improvisam de tal beleza
que não conhecendo as suas vocais
aquele que nasce do espírito os adora.
Aquele que nasce do espírito
também não apascentará ovelhas
e entenderá o perfeito caos dos rebanhos.
Sempre existirá (para o bem de todos)
aquele que se perde e encontra a casa.
também ama a carne.
Os pássaros
quando erram as notas
improvisam de tal beleza
que não conhecendo as suas vocais
aquele que nasce do espírito os adora.
Aquele que nasce do espírito
também não apascentará ovelhas
e entenderá o perfeito caos dos rebanhos.
Sempre existirá (para o bem de todos)
aquele que se perde e encontra a casa.
O bom e velho Zaratustra
Esqueça, oh, esqueça
todas as suas projeções
e fantasias para outra vida.
A outra vida
é nesta vida.
E o mundo por quem
você tanto teve ódio e medo
guarda (não esconde) dentro
da caverna um mundo de pérolas.
As paredes não assustam
e o teto não é sombrio.
Embora não fale línguas
(sobretudo as estranhas)
você saberá ouvir
o som dos meteoros.
Os peixes cairão nos seus bolsos
como aquelas tais moedas encantadas.
Que de encanto
nada trazem.
Você não precisa
de bruxarias tampouco
de velhas orações de tristeza.
Esqueça, oh, esqueça
todas as suas vestes
e ritos de loucura.
O mundo (aquele triste mundo)
pelo qual você vivia preso
de desejos e fraquezas
agora é um mundo bacana
que guarda (não esconde)
dentro da caverna
um mundo
de pérolas.
todas as suas projeções
e fantasias para outra vida.
A outra vida
é nesta vida.
E o mundo por quem
você tanto teve ódio e medo
guarda (não esconde) dentro
da caverna um mundo de pérolas.
As paredes não assustam
e o teto não é sombrio.
Embora não fale línguas
(sobretudo as estranhas)
você saberá ouvir
o som dos meteoros.
Os peixes cairão nos seus bolsos
como aquelas tais moedas encantadas.
Que de encanto
nada trazem.
Você não precisa
de bruxarias tampouco
de velhas orações de tristeza.
Esqueça, oh, esqueça
todas as suas vestes
e ritos de loucura.
O mundo (aquele triste mundo)
pelo qual você vivia preso
de desejos e fraquezas
agora é um mundo bacana
que guarda (não esconde)
dentro da caverna
um mundo
de pérolas.
Ocultismo (poeira no vento)
O poder da poesia
demonstra que você
não tem mais nenhum nível
de parentesco com a memória
que já
morreu.
O escrito que virou cinzas
é sinal de eternidade,
não de loucura,
meu poeta.
demonstra que você
não tem mais nenhum nível
de parentesco com a memória
que já
morreu.
O escrito que virou cinzas
é sinal de eternidade,
não de loucura,
meu poeta.
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Extraordinário
A mentira não tem
pernas curtas, ao
contrário -
a mentira movimenta-se
em longas pernas de pau.
A questão é que os vermes
amam gigantes de pernas
de pau.
E antes que os corvos
visitem o campo
de girassol
o espantalho
já caiu.
Os corvos entendem
que a fome vem da terra.
pernas curtas, ao
contrário -
a mentira movimenta-se
em longas pernas de pau.
A questão é que os vermes
amam gigantes de pernas
de pau.
E antes que os corvos
visitem o campo
de girassol
o espantalho
já caiu.
Os corvos entendem
que a fome vem da terra.
Sábado de carnaval
Chega o dia
em que a poesia
muda de direção
e não hesita
entre coração
mente e carne.
O cálculo abstrato
da terra aos céus
perde o valor.
Ao invés de sair
o poema entra
ainda vestido
de placenta
e hálito.
Queima vísceras
e não poupa sonhos.
Chega o dia
em que a poesia
atravessa a praça
com a desenvoltura
de um palhaço calçando
um mocassim vermelho.
E você até pensa
que o folião
é triste
ou esnobe.
em que a poesia
muda de direção
e não hesita
entre coração
mente e carne.
O cálculo abstrato
da terra aos céus
perde o valor.
Ao invés de sair
o poema entra
ainda vestido
de placenta
e hálito.
Queima vísceras
e não poupa sonhos.
Chega o dia
em que a poesia
atravessa a praça
com a desenvoltura
de um palhaço calçando
um mocassim vermelho.
E você até pensa
que o folião
é triste
ou esnobe.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
Alquimia
Quando acorda
apaixonado
o poeta
até o mijo
é perfumado:
uma mistura delirante
de almíscar e patchouly
da década pagã de oitenta.
Onde diacho
meteram-se
a minha
flauta
e os meus velhos
cascos de bode?
apaixonado
o poeta
até o mijo
é perfumado:
uma mistura delirante
de almíscar e patchouly
da década pagã de oitenta.
Onde diacho
meteram-se
a minha
flauta
e os meus velhos
cascos de bode?
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
Psicóloga
Os últimos sons de sapatos femininos pelo corredor
chegaram aos meus ouvidos quando estava no deserto
aprendendo a escrever meu nome
na poeira da terra e na poeira dos céus.
O que posso fazer
por meu passado
a não ser amar
as tentações?
chegaram aos meus ouvidos quando estava no deserto
aprendendo a escrever meu nome
na poeira da terra e na poeira dos céus.
O que posso fazer
por meu passado
a não ser amar
as tentações?
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
O ostracismo da ostra
Do outro lado da rua
nem debaixo da minha janela
ninguém me ouve e isso é bom pros negócios.
Nenhum fantasma
chegará aos meus ouvidos
pedindo-me o de comer e o de beber
a jurar companhia durante minha morte.
Acabou-se essa história antiga
de fantasmas e de morte.
Do outro lado da rua
bastam-me as vozes
das mulheres.
Por quem pesco peixes
em tardes de chuva.
nem debaixo da minha janela
ninguém me ouve e isso é bom pros negócios.
Nenhum fantasma
chegará aos meus ouvidos
pedindo-me o de comer e o de beber
a jurar companhia durante minha morte.
Acabou-se essa história antiga
de fantasmas e de morte.
Do outro lado da rua
bastam-me as vozes
das mulheres.
Por quem pesco peixes
em tardes de chuva.
Etéreo
Nunca tinha visto
beija-flor no pé
de oiti.
E pela manhã
um me disse
"oi".
Tão pequenino
que o confundi
com um pingo
de chuva, filho.
Cruzou meu ouvido
passou por minhas costelas
e sumiu,
veja só.
beija-flor no pé
de oiti.
E pela manhã
um me disse
"oi".
Tão pequenino
que o confundi
com um pingo
de chuva, filho.
Cruzou meu ouvido
passou por minhas costelas
e sumiu,
veja só.
domingo, 16 de fevereiro de 2020
Livreto
Cabeça
De
Grilo
O passado não tem sal,
Mas a vontade da poesia
É um sal poderoso.
Para
os poetas
Que
têm muita luz
E
pouco juízo.
Primeiro
Capítulo
(deserto)
31/01/2020
A
onda de energia superior
Não
me faz um ser bacana
Além
do bem e do mal.
A
minha mente pervertida
É
cada vez mais brilhante
E
o meu coração dissimulado
Prepara
magia do próprio sangue.
A
onda de energia superior me ensina
Abrir
os olhos e deixar que o fogo da verdade
Queime
os pensamentos inúteis
De
morbidez e de grandeza.
Deus
não nos ouve como pensamos
E
a nossa loucura é latente
Em
nossa língua.
Não
te basta o canto do pássaro
Ou
tens que vê-lo cantar?
30/01/2020
Sei
que existe o peso
Entre
a existência desprezível
E
a verdade gloriosa.
Mas
como há regiões misteriosas na mente
Regiões
recônditas há no coração.
E
aquele que se entrega
Jamais
será abandonado.
Os
dias não consumirão as noites
Nem
as noites absorverão os dias.
O
que imaginávamos da consciência
Apaga-se
Sob
um olhar
Que
não é o nosso.
30/01/2020
Quando
eu era menino
Escrevia
versos de menino.
Agora
que sou homem
Escrevo
versos de homem
E
não ouço vozes
De
menino.
Muito
embora
Um
e outro
Tenham
morrido
Da
mesma semente.
O
solo
Que
os fecundou
Não
é um céu distante.
30/01/2020
Todos
os dias
Tenho
por obrigação
Cavar
minha própria cova
(um buraco profundo,
profundo,
profundo)
E
enterrar a minha vaidade
Para
que os vermes da terra
Saboreiem
as minhas impurezas.
É
minha obrigação
Engordar
os vermes da terra
E
deixar minha alma um esqueleto.
Não
te assustes
Da
tua coragem -
A
tua luz é sombra
Dos
dias de sol.
30/01/2020
30/01/2020
Embora
ao poeta baste
Os
versos que escreve
Não
consegue
Calar-se.
E
diz aos poderosos da terra
Que
tal poder é patético
Visto
por outra
Esfera.
Embora
ao poeta baste
Os
versos que escreve
Não
consegue
Calar-se.
E
diz aos que amam
Os
próprios males
Que
se acalmem:
Um
dia conhecerão
O
rosto da morte.
Embora ao poeta baste
Os
versos que escreve
Não
consegue
Calar-se.
E
diz aos seus botões
Que
louco distante do deserto
Também
vive perdido.
30/01/2020
Não
há portas
Para
serem abertas
Nem
há portas
Para
serem fechadas.
Aproveite
as delícias do caminho
E
faça festas e bons banquetes.
O
seu destino
É
igual aos seus pensamentos:
Inacreditáveis,
Suspeitos,
Irreais.
Saiba
lidar
Com
o novo sangue
E
a nova carne.
O
único sentido da fé
É
ultrapassar dimensões.
29/01/2020
A
primeira luz que se vê
É
a consciência aberta
Aceitando
nossas fraquezas.
E
por nossas fraquezas
A
consciência aumenta.
Aquele
que mergulha ao abismo
Rejeita
qualquer tipo de embriaguez.
A
luz é nítida
Porque
é lúcida.
Não
existem vermes
Dormindo
dentro dos olhos.
29/01/2020
A
minha mente pervertida
E
o meu coração dissimulado
Vivem
cúmplices dos seus fracassos.
Mas
qual valor
De
uma mente pervertida
Se
atravessou-lhe ao corpo
O
fogo da verdade?
E
o que direi
Do
coração dissimulado
Se
hoje em dia
Ouvem-se
ecos
Da
sua eternidade?
29/01/2020
Se
você quiser chegar à outra margem
Terá
que molhar os pés
E
seria tão bom
Se
os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para
que os peixes limpassem sua dor.
Lá
no alto
Existe
uma ponte
Mas
se você quiser
Poderá
chegar à outra margem
Atravessando
o rio e seria tão bom
Se
os seus pés estivessem cheios de ferimentos
Para
que os peixes curassem sua alma
ouvindo um blues.
ouvindo um blues.
29/01/2020
Fosse
Deus
Ouvir
tuas orações
Morreria
de vergonha.
Mesmo
quando o coração é bom há tanta vaidade
E
se existe pureza nos teus pensamentos
Deus
até desconfia da tua face humana.
Fosse
Deus
Ouvir
tuas orações
Morreria
de tristeza.
Onde
se meteu a tua volúpia espiritual?
E
a louca alegria e a fúria por amor?
Mas
se fosse Deus
Ouvir
tuas orações
Morreria
de profundo
Tédio
e fugiria da tua malícia.
Mas
Deus ama teu cinismo e tua perdição.
29/01/2020
Durante
o banquete
Chega
a ser ridículo
Perguntar
de que rio
São
os peixes e de que pastos
São
as carnes e de que terras
São
os vinhos.
O
anfitrião se aborrece
E
detesta conversa tola
Na
hora do banquete.
Serás
um conviva indelicado
Se
não ouvires o anfitrião que te diz:
Cala-te
e come.
28/01/2020
Caso
teu espírito
Não
esteja atento
Teu
coração será iludido
Facilmente
pelas fantasias
Da
tua estranha cabeça.
Triste
do coração
Guiado
por nuvens de cavalos
Até
o desfiladeiro
Da
morte.
Não
sobrará um osso
Para
contar história
E
nenhum fio de cabelo
Dará
testemunho
Do
que poderia
Ter
sido e tocado
E
não passou
De
fantasia.
27/01/2020
Por
mais tresloucado
Que
seja teu pensamento
E
impuro o desejo
De
teu coração -
O
fogo da verdade
Faz
cinzas.
E
quem encontrou as próprias cinzas
Permanece como no princípio -
Atônito.
O
grande êxtase
É
o poder da mudança.
27/01/2020
A
poesia impede
Que
os passarinhos
De
fim de tarde
Enlouqueçam
meus ouvidos.
Em
vez disso
É
o poeta quem canta
Para
os passarinhos
De
fim de tarde.
Da
ponta do telhado
Fogem
da minha cabeça.
Sou úmido
de fogo.
Sou úmido
de fogo.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
Célula raiz
Voltemos ao lugar de sempre
onde ópio e fábulas ao alcance
das mãos esperam a tua loucura.
Não conseguirás ir longe
com ares de luz e fingimento.
O passado não tem sal,
mas a vontade da poesia
é um sal poderoso, meu poeta.
onde ópio e fábulas ao alcance
das mãos esperam a tua loucura.
Não conseguirás ir longe
com ares de luz e fingimento.
O passado não tem sal,
mas a vontade da poesia
é um sal poderoso, meu poeta.
quarta-feira, 10 de julho de 2019
Egípcio
Não se engane,
coisinha linda,
esse cara que
escreve versos
também é cruel,
cínico, malucão.
coisinha linda,
esse cara que
escreve versos
também é cruel,
cínico, malucão.
Mas é esse cara que escreve poemas
que faz a ponte entre a terra molhada
e os pezínhos daquela lagarta-de-fogo.
que faz a ponte entre a terra molhada
e os pezínhos daquela lagarta-de-fogo.
Cuide-se, coisinha linda,
o mundo todo é pavoroso:
o mundo todo é pavoroso:
O padeiro, o catador de latinhas,
o vigário, o pastor, a professorinha,
o touro de Picasso, o alaúde grego,
a jornalista de economia, o jogador
de futebol, o meu filho adolescente,
sua mãe, minha vó e meu vô mortos.
o vigário, o pastor, a professorinha,
o touro de Picasso, o alaúde grego,
a jornalista de economia, o jogador
de futebol, o meu filho adolescente,
sua mãe, minha vó e meu vô mortos.
Aonde foram parar
os seus ossos?
os seus ossos?
Alguém
assoprou.
assoprou.
Catedral
O melhor da poesia
é quando o poeta
perde a noção
é quando o poeta
perde a noção
e o vento
abre a porta.
abre a porta.
Quem és?
Um menino ou
um deus barbudo?
Um menino ou
um deus barbudo?
Sabiaguaba
A minha barbicha cresce
e não vou pô-la de molho.
e não vou pô-la de molho.
Quero-a ao vento
e ao sol e debaixo
de um temporal,
baby.
e ao sol e debaixo
de um temporal,
baby.
Dom Quixote sabe
a que me refiro.
a que me refiro.
Já viste um sonhador
de barbicha triste?
de barbicha triste?
Lagoa
Na outra margem
tem um passarinho
escrevendo um blues.
tem um passarinho
escrevendo um blues.
Não é bom meter a colher
no blues dos passarinhos.
no blues dos passarinhos.
Basta roubar-lhes
dos bicos as romãs.
dos bicos as romãs.
Inscrição Tumular
Não fui grande,
mas as cascas
do ovo de que
nasci adubaram
uma plantinha
de pimenta
e um girassol.
mas as cascas
do ovo de que
nasci adubaram
uma plantinha
de pimenta
e um girassol.
Sinopse
Poeta não é um bom menino,
ainda que ajude a velhinha
a atravessar a rua e faça
nascer asas nas costas
de um coxo.
ainda que ajude a velhinha
a atravessar a rua e faça
nascer asas nas costas
de um coxo.
A velhinha, alhures,
esconde uma serpente
dentro da bota do poeta.
esconde uma serpente
dentro da bota do poeta.
Enquanto o coxo
entrega a cabeça
do poeta ao imperador
por um patinete elétrico.
entrega a cabeça
do poeta ao imperador
por um patinete elétrico.
Pote de Pétalas
Às vezes acordo
tão ansioso para
escrever poemas
tão ansioso para
escrever poemas
que dou golpes
no meu coração
com o martelinho
de amaciar carne.
no meu coração
com o martelinho
de amaciar carne.
Ah, é o cheiro de alho
no frango que me encanta
no frango que me encanta
segunda-feira, 10 de junho de 2019
A Ciência da Vida
Dei-me por meu coração
no fundo do poço e olha
que havia esquecido
os nomes de todos
meus amores.
E olha que tenho
em volta do pescoço
um rosário inteiro das
diabinhas, uma por uma,
que me infernizaram a vida.
E olha que nem é bom provocar lembranças -
e vai que os ovos se rachem e nasçam dragões?
no fundo do poço e olha
que havia esquecido
os nomes de todos
meus amores.
E olha que tenho
em volta do pescoço
um rosário inteiro das
diabinhas, uma por uma,
que me infernizaram a vida.
E olha que nem é bom provocar lembranças -
e vai que os ovos se rachem e nasçam dragões?
domingo, 9 de junho de 2019
Arcos da Lapa
De que forma
posso lhe mostrar
outra vida além do sonho?
Ninguém amará seus abismos
como aquele velho senhor
que lhe ofereceu força
a cada verso
e pancada.
Você tem agora ao lado
a certeza de que é sopro
seus ossos e seus dentes.
Os seus vômitos e o seu sangue
logo eram esquecidos na vontade
de amanhecer o dia e a esperança.
A sua falha de caráter
rendeu-lhe bons porres.
Boas despedidas,
alguns cortes
no pulso.
Ninguém amará tanto os seus abismos
como aquele velho senhor de chapéu preto.
posso lhe mostrar
outra vida além do sonho?
Ninguém amará seus abismos
como aquele velho senhor
que lhe ofereceu força
a cada verso
e pancada.
Você tem agora ao lado
a certeza de que é sopro
seus ossos e seus dentes.
Os seus vômitos e o seu sangue
logo eram esquecidos na vontade
de amanhecer o dia e a esperança.
A sua falha de caráter
rendeu-lhe bons porres.
Boas despedidas,
alguns cortes
no pulso.
Ninguém amará tanto os seus abismos
como aquele velho senhor de chapéu preto.
Radiocarbono
Sabe aquelas muriçocas absurdas
de enormes que usam batom preto
e vivem puxando a pele dos miseráveis
e enfiando a agulha? Isso mesmo, meu amor:
A poesia também precisa de sangue e desespero.
Estive um tempo doente de doçura,
fragilidade de homem feliz e perdido.
Voltei pra casa
onde florescem
cogumelos selvagens
e sempre que chove tenho
de passar o pano com pinho sol.
Um dia experimento
esses curiosos cogumelos.
E vou escrever
alguma coisa
em cima do
telhado.
de enormes que usam batom preto
e vivem puxando a pele dos miseráveis
e enfiando a agulha? Isso mesmo, meu amor:
A poesia também precisa de sangue e desespero.
Estive um tempo doente de doçura,
fragilidade de homem feliz e perdido.
Voltei pra casa
onde florescem
cogumelos selvagens
e sempre que chove tenho
de passar o pano com pinho sol.
Um dia experimento
esses curiosos cogumelos.
E vou escrever
alguma coisa
em cima do
telhado.
sábado, 8 de junho de 2019
Amiga Do Peito
Da minha companhia
você não sentirá falta.
Mas ao tropeçar
em uma pilha
de louças
e panelas
sujas
sentirá então saudades
das minhas mãos firmes
e da silenciosa melancolia.
O puro malte só enlouquece
aquele coração que se lembra
de voltar para uma caverna triste.
você não sentirá falta.
Mas ao tropeçar
em uma pilha
de louças
e panelas
sujas
sentirá então saudades
das minhas mãos firmes
e da silenciosa melancolia.
O puro malte só enlouquece
aquele coração que se lembra
de voltar para uma caverna triste.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Idílios
Você diz que é onda
outra quase morre
de preocupação
e o que sei
outra quase morre
de preocupação
e o que sei
é do frio
na nuca.
na nuca.
A artéria
do braço
aos pulos.
do braço
aos pulos.
A lágrima pontuda
furando o canto
do olho.
furando o canto
do olho.
O teu rímel de café
na boca da minha
xícara branca.
na boca da minha
xícara branca.
Família
Gastei muita energia
com palavras.
com palavras.
Preciso recuperar meu estado de pura contemplação
e atrair com o sinal da minha boca os passarinhos
das oitis da calçada. Os outros do hospital
ficaram para trás:
e atrair com o sinal da minha boca os passarinhos
das oitis da calçada. Os outros do hospital
ficaram para trás:
varal, pátio,
pé de romã.
pé de romã.
Ciência
Estudei profundamente os passos
do último século do meu coração.
do último século do meu coração.
Concluo que substituir as válvulas doentes
por válvulas cardíacas suínas é estranho,
amor.
por válvulas cardíacas suínas é estranho,
amor.
Imagina só,
um dia desses
você vem e inclina
seu ouvido ao meu peito
um dia desses
você vem e inclina
seu ouvido ao meu peito
e, ui, ouve
um grunhido.
um grunhido.
O Bolero dos Enforcados
O poeta todas as manhãs
acorda com o pé esquerdo.
acorda com o pé esquerdo.
De noite, tardão da noite,
cai-lhe na cabeça um raio.
cai-lhe na cabeça um raio.
Muito mais tarde, se não dormir,
reconstitui-se sua face profética.
reconstitui-se sua face profética.
E volta a plantar batatas,
a colher maçãs e lavar
as cuecas.
a colher maçãs e lavar
as cuecas.
Não tenho ideias de ti,
mas minha vida é de uma
atmosfera patética de asas.
mas minha vida é de uma
atmosfera patética de asas.
De corvos
a pardais.
a pardais.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
Lar
Você não tem
entre as suas coisas
outra música e outro livro?
Lembre-me da sua vida
e dos seus projetos.
Diga-me como vai
o seu grande amor.
Atire pela janela
aquele poema
triste.
Não mate
nosso blues.
Calce seus sapatos
e suba os degraus
da minha forca.
A corda foi bem roída
até a última dobra
pelos rouxinóis.
Meu pescoço
viu-se livre
das suas
mãos.
E quem haverá de saber se as romãs
estão ou não envenenadas?
Não me escreveram
sobre a minha morte.
Então estou vivo,
é isso, criança?
entre as suas coisas
outra música e outro livro?
Lembre-me da sua vida
e dos seus projetos.
Diga-me como vai
o seu grande amor.
Atire pela janela
aquele poema
triste.
Não mate
nosso blues.
Calce seus sapatos
e suba os degraus
da minha forca.
A corda foi bem roída
até a última dobra
pelos rouxinóis.
Meu pescoço
viu-se livre
das suas
mãos.
E quem haverá de saber se as romãs
estão ou não envenenadas?
Não me escreveram
sobre a minha morte.
Então estou vivo,
é isso, criança?
Ligação
Reencontrei a minha xícara branca de café
de lábios bem mais úmidos (romãs?) Sim,
romãs e rouxinóis. Não abri a agenda,
doutora.
E não há documento
tão sério quanto
o primeiro
perfume.
Na verdade,
seu perfume
(de muito cuidado)
atingia só minha alma.
Minhas narinas de bisão
pareciam mortas pra carne.
de lábios bem mais úmidos (romãs?) Sim,
romãs e rouxinóis. Não abri a agenda,
doutora.
E não há documento
tão sério quanto
o primeiro
perfume.
Na verdade,
seu perfume
(de muito cuidado)
atingia só minha alma.
Minhas narinas de bisão
pareciam mortas pra carne.
Theatro
A alma da mulher
no seu esmalte.
Nas unhas roídas,
nas cores sumidas,
na última invenção.
E o poeta (só ele sabe)
cuida daquele tímido olhar
pra que não passe do encanto
à loucura e do flerte à escravidão.
As tuas eram
de recatada nuance -
uma quase nua e a outra purpurina.
no seu esmalte.
Nas unhas roídas,
nas cores sumidas,
na última invenção.
E o poeta (só ele sabe)
cuida daquele tímido olhar
pra que não passe do encanto
à loucura e do flerte à escravidão.
As tuas eram
de recatada nuance -
uma quase nua e a outra purpurina.
Sagrado
Acostumo meu coração
aos seus cabelos
e nome.
Deixo a agenda
apurar a alquimia -
palavras e romãs,
e vento, e pássaros.
Não mostro meu rosto,
resguardo-me doutro filho.
aos seus cabelos
e nome.
Deixo a agenda
apurar a alquimia -
palavras e romãs,
e vento, e pássaros.
Não mostro meu rosto,
resguardo-me doutro filho.
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