quarta-feira, 27 de maio de 2020

Botija

É bom escrever poemas como naquele tempo
em que não ia à escola e bebia chá de cidreira,
xarope e refrigerante morrendo de febre e tosse.

A luz da manhã
bate direto no rosto.

E as árvores da minha calçada
são minhas amigas de longa data.

Talvez até exagero e disparate,
mas as árvores da minha calçada
são bem mais minhas confidentes
do que amigas dos seus passarinhos.

Dos seus besouros,
das suas lagartas,
da sua chuva,
do seu sol.

Os pés de oiti
da minha calçada
conhecem minha noite.

Durmo de janela aberta
para que os seus galhos
não arranhem a vidraça
imitando meus fantasmas.

Espere um segundinho,
que fantasmas são esses?

Já não existe mentira
entre nossos corações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário