Dei-me por meu coração
no fundo do poço e olha
que havia esquecido
os nomes de todos
meus amores.
E olha que tenho
em volta do pescoço
um rosário inteiro das
diabinhas, uma por uma,
que me infernizaram a vida.
E olha que nem é bom provocar lembranças -
e vai que os ovos se rachem e nasçam dragões?
segunda-feira, 10 de junho de 2019
domingo, 9 de junho de 2019
Arcos da Lapa
De que forma
posso lhe mostrar
outra vida além do sonho?
Ninguém amará seus abismos
como aquele velho senhor
que lhe ofereceu força
a cada verso
e pancada.
Você tem agora ao lado
a certeza de que é sopro
seus ossos e seus dentes.
Os seus vômitos e o seu sangue
logo eram esquecidos na vontade
de amanhecer o dia e a esperança.
A sua falha de caráter
rendeu-lhe bons porres.
Boas despedidas,
alguns cortes
no pulso.
Ninguém amará tanto os seus abismos
como aquele velho senhor de chapéu preto.
posso lhe mostrar
outra vida além do sonho?
Ninguém amará seus abismos
como aquele velho senhor
que lhe ofereceu força
a cada verso
e pancada.
Você tem agora ao lado
a certeza de que é sopro
seus ossos e seus dentes.
Os seus vômitos e o seu sangue
logo eram esquecidos na vontade
de amanhecer o dia e a esperança.
A sua falha de caráter
rendeu-lhe bons porres.
Boas despedidas,
alguns cortes
no pulso.
Ninguém amará tanto os seus abismos
como aquele velho senhor de chapéu preto.
Radiocarbono
Sabe aquelas muriçocas absurdas
de enormes que usam batom preto
e vivem puxando a pele dos miseráveis
e enfiando a agulha? Isso mesmo, meu amor:
A poesia também precisa de sangue e desespero.
Estive um tempo doente de doçura,
fragilidade de homem feliz e perdido.
Voltei pra casa
onde florescem
cogumelos selvagens
e sempre que chove tenho
de passar o pano com pinho sol.
Um dia experimento
esses curiosos cogumelos.
E vou escrever
alguma coisa
em cima do
telhado.
de enormes que usam batom preto
e vivem puxando a pele dos miseráveis
e enfiando a agulha? Isso mesmo, meu amor:
A poesia também precisa de sangue e desespero.
Estive um tempo doente de doçura,
fragilidade de homem feliz e perdido.
Voltei pra casa
onde florescem
cogumelos selvagens
e sempre que chove tenho
de passar o pano com pinho sol.
Um dia experimento
esses curiosos cogumelos.
E vou escrever
alguma coisa
em cima do
telhado.
sábado, 8 de junho de 2019
Amiga Do Peito
Da minha companhia
você não sentirá falta.
Mas ao tropeçar
em uma pilha
de louças
e panelas
sujas
sentirá então saudades
das minhas mãos firmes
e da silenciosa melancolia.
O puro malte só enlouquece
aquele coração que se lembra
de voltar para uma caverna triste.
você não sentirá falta.
Mas ao tropeçar
em uma pilha
de louças
e panelas
sujas
sentirá então saudades
das minhas mãos firmes
e da silenciosa melancolia.
O puro malte só enlouquece
aquele coração que se lembra
de voltar para uma caverna triste.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Idílios
Você diz que é onda
outra quase morre
de preocupação
e o que sei
outra quase morre
de preocupação
e o que sei
é do frio
na nuca.
na nuca.
A artéria
do braço
aos pulos.
do braço
aos pulos.
A lágrima pontuda
furando o canto
do olho.
furando o canto
do olho.
O teu rímel de café
na boca da minha
xícara branca.
na boca da minha
xícara branca.
Família
Gastei muita energia
com palavras.
com palavras.
Preciso recuperar meu estado de pura contemplação
e atrair com o sinal da minha boca os passarinhos
das oitis da calçada. Os outros do hospital
ficaram para trás:
e atrair com o sinal da minha boca os passarinhos
das oitis da calçada. Os outros do hospital
ficaram para trás:
varal, pátio,
pé de romã.
pé de romã.
Ciência
Estudei profundamente os passos
do último século do meu coração.
do último século do meu coração.
Concluo que substituir as válvulas doentes
por válvulas cardíacas suínas é estranho,
amor.
por válvulas cardíacas suínas é estranho,
amor.
Imagina só,
um dia desses
você vem e inclina
seu ouvido ao meu peito
um dia desses
você vem e inclina
seu ouvido ao meu peito
e, ui, ouve
um grunhido.
um grunhido.
O Bolero dos Enforcados
O poeta todas as manhãs
acorda com o pé esquerdo.
acorda com o pé esquerdo.
De noite, tardão da noite,
cai-lhe na cabeça um raio.
cai-lhe na cabeça um raio.
Muito mais tarde, se não dormir,
reconstitui-se sua face profética.
reconstitui-se sua face profética.
E volta a plantar batatas,
a colher maçãs e lavar
as cuecas.
a colher maçãs e lavar
as cuecas.
Não tenho ideias de ti,
mas minha vida é de uma
atmosfera patética de asas.
mas minha vida é de uma
atmosfera patética de asas.
De corvos
a pardais.
a pardais.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
Lar
Você não tem
entre as suas coisas
outra música e outro livro?
Lembre-me da sua vida
e dos seus projetos.
Diga-me como vai
o seu grande amor.
Atire pela janela
aquele poema
triste.
Não mate
nosso blues.
Calce seus sapatos
e suba os degraus
da minha forca.
A corda foi bem roída
até a última dobra
pelos rouxinóis.
Meu pescoço
viu-se livre
das suas
mãos.
E quem haverá de saber se as romãs
estão ou não envenenadas?
Não me escreveram
sobre a minha morte.
Então estou vivo,
é isso, criança?
entre as suas coisas
outra música e outro livro?
Lembre-me da sua vida
e dos seus projetos.
Diga-me como vai
o seu grande amor.
Atire pela janela
aquele poema
triste.
Não mate
nosso blues.
Calce seus sapatos
e suba os degraus
da minha forca.
A corda foi bem roída
até a última dobra
pelos rouxinóis.
Meu pescoço
viu-se livre
das suas
mãos.
E quem haverá de saber se as romãs
estão ou não envenenadas?
Não me escreveram
sobre a minha morte.
Então estou vivo,
é isso, criança?
Ligação
Reencontrei a minha xícara branca de café
de lábios bem mais úmidos (romãs?) Sim,
romãs e rouxinóis. Não abri a agenda,
doutora.
E não há documento
tão sério quanto
o primeiro
perfume.
Na verdade,
seu perfume
(de muito cuidado)
atingia só minha alma.
Minhas narinas de bisão
pareciam mortas pra carne.
de lábios bem mais úmidos (romãs?) Sim,
romãs e rouxinóis. Não abri a agenda,
doutora.
E não há documento
tão sério quanto
o primeiro
perfume.
Na verdade,
seu perfume
(de muito cuidado)
atingia só minha alma.
Minhas narinas de bisão
pareciam mortas pra carne.
Theatro
A alma da mulher
no seu esmalte.
Nas unhas roídas,
nas cores sumidas,
na última invenção.
E o poeta (só ele sabe)
cuida daquele tímido olhar
pra que não passe do encanto
à loucura e do flerte à escravidão.
As tuas eram
de recatada nuance -
uma quase nua e a outra purpurina.
no seu esmalte.
Nas unhas roídas,
nas cores sumidas,
na última invenção.
E o poeta (só ele sabe)
cuida daquele tímido olhar
pra que não passe do encanto
à loucura e do flerte à escravidão.
As tuas eram
de recatada nuance -
uma quase nua e a outra purpurina.
Sagrado
Acostumo meu coração
aos seus cabelos
e nome.
Deixo a agenda
apurar a alquimia -
palavras e romãs,
e vento, e pássaros.
Não mostro meu rosto,
resguardo-me doutro filho.
aos seus cabelos
e nome.
Deixo a agenda
apurar a alquimia -
palavras e romãs,
e vento, e pássaros.
Não mostro meu rosto,
resguardo-me doutro filho.
segunda-feira, 20 de março de 2017
Jardim da Perdição
O que mais adoro nas mulheres
é a mudança de encantadores detalhes
em seus rostos: há manhãs em que acordam
de angelicais olheiras de quem duelou com girassóis.
é a mudança de encantadores detalhes
em seus rostos: há manhãs em que acordam
de angelicais olheiras de quem duelou com girassóis.
Outras manhãs
de lábios rubros
de quem bebeu
sangue de rosas.
de lábios rubros
de quem bebeu
sangue de rosas.
E existem aquelas manhãs
de rosto tão lívido e suave
quanto um lírio-do-nilo.
de rosto tão lívido e suave
quanto um lírio-do-nilo.
Como posso ouvir
o que as mulheres falam
se vivo sob tão louco feitiço?
o que as mulheres falam
se vivo sob tão louco feitiço?
Só ouço mesmo
os seus corações.
os seus corações.
terça-feira, 7 de março de 2017
madrugada tão linda de morte e lembranças
Por amar a poesia
hoje entendo o silêncio
e não ouso plantar palavras
onde é deserto o paraíso da alma.
hoje entendo o silêncio
e não ouso plantar palavras
onde é deserto o paraíso da alma.
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Cajado De Bambu
I
Pra um nó perfeito
De gravata Windsor
O bico de um corvo
É um primor.
De gravata Windsor
O bico de um corvo
É um primor.
II
Não desejo
72 virgens.
72 virgens.
Basta-me
A juventude
Que tive, exceto
A juventude
Que tive, exceto
As espinhas do rosto
E o tamanho do pinto.
E o tamanho do pinto.
III
O poeta não é um agente
Do FBI nem asceta.
Do FBI nem asceta.
Mas tem um
Nariz curioso.
Nariz curioso.
Não deixaria uma ruiva
Despida na cama
Trêmula
Despida na cama
Trêmula
Só porque tirou
Da gaveta um frasquinho
De pó.
Da gaveta um frasquinho
De pó.
IV
O poeta matou
Três encostos
Três encostos
Com um garrote
De nylon.
De nylon.
Agora vive livre
Pra orar em paz.
Pra orar em paz.
V
Rosto de anjo
Com espada
Em punho,
Digo:
Com espada
Em punho,
Digo:
Não me
Atentem.
Atentem.
Quebrei meus
Dedos pra não
Erguer uma taça
De vinho.
Dedos pra não
Erguer uma taça
De vinho.
VI
A gente lê
Coisas incríveis
Que morre de vergonha
Dos nossos escritos.
Coisas incríveis
Que morre de vergonha
Dos nossos escritos.
Já é hora
De uma nova
Fogueira.
De uma nova
Fogueira.
Ofereço meu
Pescoço à lâmina.
Pescoço à lâmina.
VII
Não por amá-la
Tenho ciúme:
Tenho ciúme:
Tenho cacete
E fúria no coração.
E fúria no coração.
[Sabemos da crueldade
Do cinismo do viciado]
Do cinismo do viciado]
VIII
Deixei o ratinho
Comer todas as
Bolachas que
Escondi.
Comer todas as
Bolachas que
Escondi.
Perdoá-lo
Seria meu fim.
Seria meu fim.
Entre ratos amigáveis
Só existem ossos
Das faces.
Só existem ossos
Das faces.
IX
“Só quero florir
No meu deserto”
No meu deserto”
Soa como se
Desejasse
Um tabefe
O asceta.
Desejasse
Um tabefe
O asceta.
X
Poeta bacana
É maquiavélico
É maquiavélico
E usa os sapatos
De Carlos Drummond
De Andrade.
De Carlos Drummond
De Andrade.
Aquele riso
Não é a imortalidade?
Não é a imortalidade?
XI
À poesia devo
O meu fim.
O meu fim.
E não há cretinice
Mais justa que
A morte.
Mais justa que
A morte.
Igual às outras.
XII
Quando sorria
E te escrevia
Era fraude.
E te escrevia
Era fraude.
Pigmeu de pernas
De pau não ilude
As estrelas.
De pau não ilude
As estrelas.
XIII
Os sonhos são doces.
Tenho tomado banho.
Escovado os dentes.
Tenho tomado banho.
Escovado os dentes.
E ainda comi
Um biscoitinho
Que o rato
Esqueceu.
Um biscoitinho
Que o rato
Esqueceu.
XIV
Fumar controlado
Cigarro de nicotina
É uma anedota.
Cigarro de nicotina
É uma anedota.
Um após o café da manhã.
Outro após o almoço.
Outro após o almoço.
O terceiro depois do jantar
O último antes de dormir.
O último antes de dormir.
Não conta o tesouro
De Marlboro debaixo
Da cama junto ao
Cilindro de oxigênio?
De Marlboro debaixo
Da cama junto ao
Cilindro de oxigênio?
XV
Acredite no meu
Romantismo:
Romantismo:
O meu primeiro dente
Arranquei com os cílios
Da minha prima.
Arranquei com os cílios
Da minha prima.
Um laço,
Um puxão,
Um puxão,
Um beijo
Pra sarar.
Pra sarar.
XVI
Juro não roubar mais
Os cartões de crédito
Da mamãe nem
Os dólares
Da minha
Irmã.
Os cartões de crédito
Da mamãe nem
Os dólares
Da minha
Irmã.
E quando o mundo
Estiver em chamas
Estiver em chamas
Prometo salvar minha
Família e o vira-latinha
Do meu primeiro amor.
Família e o vira-latinha
Do meu primeiro amor.
XVII
Pablo Neruda tinha um
Nariz de gaivota.
Adorava entre
Os dedos
Nariz de gaivota.
Adorava entre
Os dedos
Oferecer sardinhas
Aos seus amores.
Aos seus amores.
O poeta era disléxico
Naquele tempo
De Isla Negra.
Naquele tempo
De Isla Negra.
E amava mais
Que Vinicius.
Que Vinicius.
XVIII
Esta energia aqui,
Minha querida,
Minha querida,
Que bate
No meu peito,
Não há preço.
No meu peito,
Não há preço.
Mas faça
Uma oferta generosa
Que volto a apertar
Tua cinturinha de mamão.
Uma oferta generosa
Que volto a apertar
Tua cinturinha de mamão.
XIX
Depois que o ratinho
Passou com mais frequência
A visitar as minhas coisas
Encostei uma cadeira de plástico
À porta do quarto da clínica.
Passou com mais frequência
A visitar as minhas coisas
Encostei uma cadeira de plástico
À porta do quarto da clínica.
Terei tempo de sacar
Debaixo do travesseiro
Minha colt .25 e mandar bala.
Debaixo do travesseiro
Minha colt .25 e mandar bala.
XX
Já enterrei um passarinho
Dentro de uma caixa de
Sapato e joguei algumas
Moedas de um centavo.
Dentro de uma caixa de
Sapato e joguei algumas
Moedas de um centavo.
Não sei se foi o preço justo
Por essas asas de figuração.
Por essas asas de figuração.
Era muito criança
Pra me assustar
Com as nuvens.
Pra me assustar
Com as nuvens.
XXI
O sol no rosto
De uma formiga
Incomoda seus
Instintos.
De uma formiga
Incomoda seus
Instintos.
Deixa de lado
A folha
E bebe da água
Da chuva cristalina.
A folha
E bebe da água
Da chuva cristalina.
Narcisistas as formigas
Lambem as antenas
E balançam as bundinhas.
Lambem as antenas
E balançam as bundinhas.
XXII
Cara, um poeta
De verdade não teme
A morte, mas escova
Bem os dentes antes
De encontrar a Velha
Senhora.
De verdade não teme
A morte, mas escova
Bem os dentes antes
De encontrar a Velha
Senhora.
O péssimo hálito
Da caveira é triste.
Da caveira é triste.
O que fazer
Ao primeiro encontro
Senão amar eternamente
A noiva?
Ao primeiro encontro
Senão amar eternamente
A noiva?
XXIII
A alegria da poesia
(Quase inocência)
(Quase inocência)
É o rosto de uma mulher
Sem maquiagem.
Sem maquiagem.
Se passa batom e rímel,
A poesia tem pensamentos
De sacanagem.
A poesia tem pensamentos
De sacanagem.
XXIV
Por que não posso
Profetizar minha
Morte?
Profetizar minha
Morte?
Basta enfiar o bico
Da caneta na
Jugular
Da caneta na
Jugular
E dançar um blues.
XXV
Meu amor,
Dê o máximo
Que possa
Aos seus amantes
Os seus beijos
E as outras
Partes.
Dê o máximo
Que possa
Aos seus amantes
Os seus beijos
E as outras
Partes.
Pense no poeta
Sob fetiche
E arda na
Cama.
Sob fetiche
E arda na
Cama.
XXVI
Coçar a palma da mão
(Dizia vovó) é sinal
De dinheiro.
(Dizia vovó) é sinal
De dinheiro.
Coçar a testa
Diz-me um cabrito-montês
Que é sinal de derrota.
Diz-me um cabrito-montês
Que é sinal de derrota.
Nem todas as fêmeas
Merecem nossos chifres.
Merecem nossos chifres.
Desça a montanha
É alimente-se um pouco
Das gramíneas alucinógenas.
É alimente-se um pouco
Das gramíneas alucinógenas.
XXVII
Que importa
Se o meu avô
Perdeu armazéns
De rapadura no baralho.
Se o meu avô
Perdeu armazéns
De rapadura no baralho.
Nunca acreditei
Nessa lenda.
Nessa lenda.
Mas todas as tardes de domingo
Ia à missa de chapéu cinza
E terno de linho.
Ia à missa de chapéu cinza
E terno de linho.
XXVIII
Bebo água da rua.
Pensava que fosse
Do poço da juventude.
Pensava que fosse
Do poço da juventude.
Quando sair da clínica
Tomarei três vidrinhos
Contra vermes.
Tomarei três vidrinhos
Contra vermes.
E farei musculação
Pra impressionar
As adolescentes
Do meu prédio.
Pra impressionar
As adolescentes
Do meu prédio.
XXIX
O poeta tão louco de amor
Que perderia o juízo
Fácil, fácil, fácil
Por você
Que perderia o juízo
Fácil, fácil, fácil
Por você
Que anda de bicicleta
Em meus sonhos
De vestido.
Em meus sonhos
De vestido.
Não direi
A cor.
A cor.
XXX
A poesia tem pressa.
Não se engane
Com a folha seca
Levitando até
O chão.
Não se engane
Com a folha seca
Levitando até
O chão.
O musgo cresce
Que é uma beleza
Onde alma alguma
Deixou marcas dos dedos.
Que é uma beleza
Onde alma alguma
Deixou marcas dos dedos.
XXXI
Morto ou vivo
Aguarde-me na
Sua alma.
Aguarde-me na
Sua alma.
Só beije
Meu rosto
Meu rosto
Se tiver
Um espelho
O meu caixão.
Um espelho
O meu caixão.
E tire aquelas plantinhas
Da varanda que fazem
Meus pulmões arderem.
Da varanda que fazem
Meus pulmões arderem.
(poemas escritos em julho de 2016 durante um tempo em uma clínica)
sábado, 29 de outubro de 2016
Fantasmas
Minha única experiência de vida é a poesia.
E o meu melhor é mostrar os dentes.
O meu hálito.
O céu é apenas uma etiqueta.
Cicatrizes no meu pulso esquerdo.
E o meu melhor é mostrar os dentes.
O meu hálito.
O céu é apenas uma etiqueta.
Cicatrizes no meu pulso esquerdo.
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Feitiçaria
Você pensa que não gostaria de ter uma cabeça bacana,
Uma cuca legal, uma mente serena e prática, meu docinho?
Uma cuca legal, uma mente serena e prática, meu docinho?
Claro que gostaria.
Mas quem manda
É meu coração.
Mas quem manda
É meu coração.
E o meu coração, baby,
É um louco apaixonado
Que vive tocando blues.
Portanto, não pense
Que não sonho em
Enfiar um garfo
No peito.
É um louco apaixonado
Que vive tocando blues.
Portanto, não pense
Que não sonho em
Enfiar um garfo
No peito.
Poupe
Sua dor.
Clandestinidade
A verdade é que você morreria
De ódio e me mataria em seguida.
De ódio e me mataria em seguida.
Trabalho em silêncio
E pareço distante
Do mundo.
E pareço distante
Do mundo.
Enquanto você grita,
Briga na rua, trinca
Os dentes, joga
Xícaras na
Parede
Briga na rua, trinca
Os dentes, joga
Xícaras na
Parede
Eu subo
Até o sótão
E fabrico bombas.
Até o sótão
E fabrico bombas.
Não espalhe
Meu ofício.
Meu ofício.
O Arauto
Claro que escrevo poemas para você.
Nem sei como suporta o meu ridículo.
Nem sei como suporta o meu ridículo.
Mas é pra você que escrevo coisas.
Gosto de chamar poema de coisa.
Não são coisas os poemas?
Gosto de chamar poema de coisa.
Não são coisas os poemas?
Cabeça é coisa.
Alma é coisa.
Alma é coisa.
O coração que é
Mesmo uma coisa.
Mesmo uma coisa.
Veja minha clavícula
Como brilha a solidão.
Como brilha a solidão.
Cada osso da minha costela
Tem uma história de batalha.
Tem uma história de batalha.
Dos mortos
Roubei cartas.
Roubei cartas.
Não tenho vergonha
De ser um ladrão
De cartas.
De ser um ladrão
De cartas.
Você não imagina
A minha felicidade
Em ler cada linha
Pra amada do morto.
A minha felicidade
Em ler cada linha
Pra amada do morto.
Confesso que me apaixonei muitas vezes.
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Lusitano
Quantas almas
Em um poema?
Em um poema?
Depende
De quem
Morre.
De quem
Morre.
Existe aquele
Que mesmo
Morto
Que mesmo
Morto
Não abre
A porta.
A porta.
Prefere navegar
Com mil cadáveres.
Com mil cadáveres.
E todos os dias
Colhe flores.
Colhe flores.
Orquídeas
Eu era um escorpião
Vingativo e canalha
Horrores.
Vingativo e canalha
Horrores.
Ouça bem,
Era.
Era.
Depois que fiz o parto
De uma andorinha
Das minhas
Árvores
De oiti,
De uma andorinha
Das minhas
Árvores
De oiti,
Fiquei assim:
Doce.
Doce.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Brisa
A solidão leva-me
Ao culto do ego.
Ao culto do ego.
Acendo incensos
E ofereço iguaria
À minha imagem.
E ofereço iguaria
À minha imagem.
Dezenas de almas devotas
Lavam e beijam meus pés.
Lavam e beijam meus pés.
Todas elas são
Formiguinhas
Especiais.
Formiguinhas
Especiais.
Flauta Doce
Não me veja tão ridículo
Por esse tempo de adeus.
Por esse tempo de adeus.
Segure a minha onda
De tristeza e melancolia
Talvez por um ou dois dias.
De tristeza e melancolia
Talvez por um ou dois dias.
A formiga não terá tempo
De atravessar a mesa
Até a parede.
De atravessar a mesa
Até a parede.
Aposta
Quanto?
Quanto?
Esprema o cílio que caiu
Entre os nossos dedos.
Entre os nossos dedos.
terça-feira, 25 de outubro de 2016
O Profeta Nu
Não suportarei por muito tempo
A morte tão próxima. Não por
Medo, mas por não entender
Essa dor e doçura furando
Os meus olhos e choro
Qual um fantasma
Debaixo da
Cama.
A morte tão próxima. Não por
Medo, mas por não entender
Essa dor e doçura furando
Os meus olhos e choro
Qual um fantasma
Debaixo da
Cama.
As lágrimas, baby,
Bordam esperança.
Bordam esperança.
Candelabro
A verdade é que não sirvo para o inferno.
Sou muito emotivo quando sonho e vejo o amor.
Todas as minhas loucuras não duram o tempo do fogo.
Sou muito emotivo quando sonho e vejo o amor.
Todas as minhas loucuras não duram o tempo do fogo.
Antes que se queimem minhas mãos,
Os navios fantasmas naufragam.
Os navios fantasmas naufragam.
E as ciganas choram
Lendo minha alma..
Lendo minha alma..
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Xícara
Já fui mais apaixonado pela minha xícara.
Talvez você estranhe, mas dormia com ela
Nas noites frias e agasalhava bem a pequena.
Talvez você estranhe, mas dormia com ela
Nas noites frias e agasalhava bem a pequena.
Sobretudo quando colocava o disco de Mercedes Sosa.
Aquela voz tremia e quebrava os cristais da casa.
Aquela voz tremia e quebrava os cristais da casa.
Adorava o medo
Da minha xícara.
Da minha xícara.
Abraçava então
Com mais amor
A minha pequena.
Com mais amor
A minha pequena.
Pílulas
Tenho uma energia sexual de um epiléptico russo.
A poesia não dá conta. Preciso rever meu amor
Pelos irmãos Karamazov.
A poesia não dá conta. Preciso rever meu amor
Pelos irmãos Karamazov.
Ciranda
Não entendo
Esse desespero
Pro amor, menina.
Você não tem um cachorrinho?
Um gatinho? Nem um hamster?
Então é pra
Desesperar-se.
Tenho uma formiguinha
Dentro de um pote
De geleia.
Vem
Ver.
Esse desespero
Pro amor, menina.
Você não tem um cachorrinho?
Um gatinho? Nem um hamster?
Então é pra
Desesperar-se.
Tenho uma formiguinha
Dentro de um pote
De geleia.
Vem
Ver.
Absalão
Não traga de volta
Os seus mortos
Pra casa.
Tiveram um trabalho danado
Pra lhe dar vida e coragem.
Deixe-os felizes
Na rua. Os seus mortos
Precisam de um pouco de sol.
Você não.
Você está
Ótimo,
Cara.
(não é pecado mentir
pra poeta, meu amor)
Os seus mortos
Pra casa.
Tiveram um trabalho danado
Pra lhe dar vida e coragem.
Deixe-os felizes
Na rua. Os seus mortos
Precisam de um pouco de sol.
Você não.
Você está
Ótimo,
Cara.
(não é pecado mentir
pra poeta, meu amor)
Quinta Santa
Você sempre encontrará uma surpresa
Dentro do bolso do meu bermudão.
Só não me pergunte
A data do poema.
Esqueço-me facilmente
Do tempo quando
Um dia amei.
Bebo meu café
Balançando
Gêmeos.
Dentro do bolso do meu bermudão.
Só não me pergunte
A data do poema.
Esqueço-me facilmente
Do tempo quando
Um dia amei.
Bebo meu café
Balançando
Gêmeos.
Amiguinhos Imaginários
Sabe aquela história
De quando nasci
Um anjo torto
blá, blá, blá?
Minha lembrança
É só do fórceps
Espremendo
As minhas
Têmporas.
Não queria botar o nariz pra fora.
Imaginava os demônios tocando blues.
E meu coração bateu mais lindo e forte.
Vim.
De quando nasci
Um anjo torto
blá, blá, blá?
Minha lembrança
É só do fórceps
Espremendo
As minhas
Têmporas.
Não queria botar o nariz pra fora.
Imaginava os demônios tocando blues.
E meu coração bateu mais lindo e forte.
Vim.
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Síndrome Do Pânico
Estou leiloando
Um bermudão
Por nobre
Causa:
Pagar meus traficantes,
Colegas de trabalho,
Antigos amores,
Um mecena.
Que me perdoem
Os refugiados
Sírios.
Um bermudão
Por nobre
Causa:
Pagar meus traficantes,
Colegas de trabalho,
Antigos amores,
Um mecena.
Que me perdoem
Os refugiados
Sírios.
Hipnose
Você tem os olhos
De uma serpente
Apaixonada.
Você já viu o olhar
De uma serpente
Apaixonada?
Os passarinhos da floresta
Beijam a terra por onde
Ela passa.
No caso,
Você.
De uma serpente
Apaixonada.
Você já viu o olhar
De uma serpente
Apaixonada?
Os passarinhos da floresta
Beijam a terra por onde
Ela passa.
No caso,
Você.
Vira-lata
Tive um dia
Cheio de tesão.
Nem te conto
Como bebi
Meu café.
A forma em que segurava
A asinha da minha xícara.
O meu olhar míope
Pro seu corpo de
Cerâmica
Branca.
Teria sido um dia perfeito, baby,
Pra cortar as unhas na varanda
E aguar as plantinhas.
A poesia é mais volúpia
Do que solidão.
Cheio de tesão.
Nem te conto
Como bebi
Meu café.
A forma em que segurava
A asinha da minha xícara.
O meu olhar míope
Pro seu corpo de
Cerâmica
Branca.
Teria sido um dia perfeito, baby,
Pra cortar as unhas na varanda
E aguar as plantinhas.
A poesia é mais volúpia
Do que solidão.
terça-feira, 18 de outubro de 2016
Café
Faço um café muito louco
Com todas as borras
Do meu passado.
Com todas as borras
Do meu passado.
Aceite meu abismo
E não ouse me dizer
Que sou um bom moço.
E não ouse me dizer
Que sou um bom moço.
O coração perdido e pecador
Nunca me deixou morrer iludido.
Nunca me deixou morrer iludido.
Os pequenos flashes de lucidez
Confirmam a minha coragem.
Confirmam a minha coragem.
Não penso por quanto tempo
Suportarei a minha preguiça.
Suportarei a minha preguiça.
Mas é essa languidez
Que devo amar agora.
Que devo amar agora.
A poesia é um ato de fogo
Das mãos de quem caiu.
Das mãos de quem caiu.
Você só ouvirá a minha gargalhada
E só verá os meus dentes amarelos.
E só verá os meus dentes amarelos.
A minha lágrima é pecado.
E só pra mim, meu bem.
E só pra mim, meu bem.
Televisão
Gostaria imensamente
De completar sessenta anos.
Sei, entretanto,
Que posso pisar
No rabo de um pombo,
Perder o equilíbrio, bater
A têmpora na quina da calçada
E nunca mais acordar
Nesse mundão de sonhos.
Mas gostaria imensamente
De completar sessenta anos.
Ver se minha mão tremeria
Segurando a xícara de café.
Se ainda saberia jogar facas.
Se meus dedos segurariam
Com força a pena ou se
Pensaria só em sexo.
Sei, contudo,
Que posso pisar
No rabo de um pombo,
Perder o equilíbrio, bater
A têmpora na quina da calçada
E nunca mais acordar
Nesse mundão de bosta.
De completar sessenta anos.
Sei, entretanto,
Que posso pisar
No rabo de um pombo,
Perder o equilíbrio, bater
A têmpora na quina da calçada
E nunca mais acordar
Nesse mundão de sonhos.
Mas gostaria imensamente
De completar sessenta anos.
Ver se minha mão tremeria
Segurando a xícara de café.
Se ainda saberia jogar facas.
Se meus dedos segurariam
Com força a pena ou se
Pensaria só em sexo.
Sei, contudo,
Que posso pisar
No rabo de um pombo,
Perder o equilíbrio, bater
A têmpora na quina da calçada
E nunca mais acordar
Nesse mundão de bosta.
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
As Plantas Da Varanda
Houve um tempo
Em que cortava
As unhas
E jogava os pedacinhos
Dentro dos jarros das
Plantas da varanda.
Algumas cresceram
Próximas à minha alma.
Quando o céu desabava
E a tristeza consumia
Meus olhos
Murchavam
As folhas.
Nos dias de histeria alucinógena
Pintavam os cabelos as plantas
De amarelo e verde.
A minha solidão definitiva
Ocorreu com a chegada
Dos pombos.
Armados de malícia
Flertaram e conquistaram
O coração das minhas plantinhas.
A partir dessa dor de cotovelo
Resolvi virar noites em bares.
Postos de gasolina,
Becos, barracos,
Pracinhas.
Nunca mais fui o mesmo
Amante de poesia.
Em que cortava
As unhas
E jogava os pedacinhos
Dentro dos jarros das
Plantas da varanda.
Algumas cresceram
Próximas à minha alma.
Quando o céu desabava
E a tristeza consumia
Meus olhos
Murchavam
As folhas.
Nos dias de histeria alucinógena
Pintavam os cabelos as plantas
De amarelo e verde.
A minha solidão definitiva
Ocorreu com a chegada
Dos pombos.
Armados de malícia
Flertaram e conquistaram
O coração das minhas plantinhas.
A partir dessa dor de cotovelo
Resolvi virar noites em bares.
Postos de gasolina,
Becos, barracos,
Pracinhas.
Nunca mais fui o mesmo
Amante de poesia.
Ioga Bikram
Tenho um problema sério na coluna
E vivo me abaixando pra colher
As folhinhas de oiti
Espalhadas
Pela casa.
(Tenho medo
Que minha mãe
Escorregue)
Escrever poemas
Endireita minha postura
E apaga maus pensamentos.
Sobretudo
Com a xícara
De café na mão.
E vivo me abaixando pra colher
As folhinhas de oiti
Espalhadas
Pela casa.
(Tenho medo
Que minha mãe
Escorregue)
Escrever poemas
Endireita minha postura
E apaga maus pensamentos.
Sobretudo
Com a xícara
De café na mão.
Bar Nirvana
Quando penso
Que na juventude
Quis ser um Buda
E depois me apaixonei
Por Charles Bukowski
Não me admira
Os passarinhos
Seguirem meus
Pensamentos.
Os pequenos sabem
Que os céus são
Tenebrosos.
A cada passo
Uma ratoeira.
Que na juventude
Quis ser um Buda
E depois me apaixonei
Por Charles Bukowski
Não me admira
Os passarinhos
Seguirem meus
Pensamentos.
Os pequenos sabem
Que os céus são
Tenebrosos.
A cada passo
Uma ratoeira.
Convalescença
Que pena não morri.
Cheguei perto do inferno.
Não vi nenhum tocador de blues.
Cheguei perto do inferno.
Não vi nenhum tocador de blues.
Esses caras vivem nas nuvens
De fumaças e muita solidão.
De fumaças e muita solidão.
O inferno é um lugar
Pra barbárie feliz.
Pra barbárie feliz.
Que pena não morri.
Voltei pra minha xícara.
Voltei pra minha xícara.
Só não tive ainda coragem
De ver as plantinhas da varanda.
De ver as plantinhas da varanda.
Nem chego perto
Da janela.
Da janela.
A rua é linda
E anjos usam
E anjos usam
Trombetas e cítaras
Pra me conquistar.
Pra me conquistar.
Sei o que brilha
Por trás dos sons.
Por trás dos sons.
Deixei o meu filho
Ontem no ponto
De ônibus
Ontem no ponto
De ônibus
E quase
Não voltei
Para casa.
Não voltei
Para casa.
A rua é muito sensual.
Superlua
As mulheres mais incríveis desse planeta
Dormem comigo, acordam comigo,
Passeiam comigo.
À noite,
Toco clarinete
Em uma banda de jazz
Enquanto as mulheres
Mais incríveis desse planeta
Bebem seus drinques vestidas
De vermelho e batom da mesma cor.
De manhãzinha,
Caminhamos pra casa
Sob uma garoa gelada.
Woody Allen nos oferece
Uma carona até nosso galpão
De mercado do século dezenove.
Faço um café.
As minhas mulheres
Mais incríveis desse planeta
Despem-se (ouço o zíper da parte detrás
Do vestido descendo até a vértebra do pecado)
Preciso ir vê-las.
Não perco por nada
Esse momento mágico.
Dormem comigo, acordam comigo,
Passeiam comigo.
À noite,
Toco clarinete
Em uma banda de jazz
Enquanto as mulheres
Mais incríveis desse planeta
Bebem seus drinques vestidas
De vermelho e batom da mesma cor.
De manhãzinha,
Caminhamos pra casa
Sob uma garoa gelada.
Woody Allen nos oferece
Uma carona até nosso galpão
De mercado do século dezenove.
Faço um café.
As minhas mulheres
Mais incríveis desse planeta
Despem-se (ouço o zíper da parte detrás
Do vestido descendo até a vértebra do pecado)
Preciso ir vê-las.
Não perco por nada
Esse momento mágico.
domingo, 16 de outubro de 2016
Bula
A poesia é uma doença silenciosa,
Mas não é um mal. Os seus sintomas
Inicias podem ser: calafrios, tremores,
Histeria, apatia, olhos fundos, lábios frios,
Formigamento nos pés, tontura, raiva e doçura.
Não tem cura.
A única forma
De tratamento
É a escrita.
Há quem acometido
Viva muito tempo.
86 anos
É um luxo.
55 é a média.
Pode comprometer
A visão, o olfato
E o modo de
Caminhar.
Muitos voam.
Outros rastejam;
Todos são trôpegos.
Quem sofre dessa doença silenciosa
Naturalmente e com frequência
Remete-se à sua infância
E tem mania
De sonhar.
Embora viva o momento presente
Sob névoas de esquecimento e febre.
Tem muita febre
Quem é acometido
Dessa doença silenciosa.
Que não é um mal.
Nem tem cura.
Aconselha-se ouvir
O coração e não brincar
Com drogas desconhecidas.
Ou não.
Cada caso
É estranho.
Só o tempo
Dirá o nível
De degradação.
Medo, fuga, vontade de chorar,
Isolacionismo, melancolia, tesão,
Ocorrem após instalado o verme.
Recomenda-se
Mergulhar.
Máscaras é bom
Perdê-las e aceitar
A morte da consciência.
Lucidez é o seu sintoma principal.
Há quem pense que é insanidade.
Quem é acometido dessa doença silenciosa
Pensa que é um louco ou coisa que o valha.
Já é efeito
No sangue.
.
Mas não é um mal. Os seus sintomas
Inicias podem ser: calafrios, tremores,
Histeria, apatia, olhos fundos, lábios frios,
Formigamento nos pés, tontura, raiva e doçura.
Não tem cura.
A única forma
De tratamento
É a escrita.
Há quem acometido
Viva muito tempo.
86 anos
É um luxo.
55 é a média.
Pode comprometer
A visão, o olfato
E o modo de
Caminhar.
Muitos voam.
Outros rastejam;
Todos são trôpegos.
Quem sofre dessa doença silenciosa
Naturalmente e com frequência
Remete-se à sua infância
E tem mania
De sonhar.
Embora viva o momento presente
Sob névoas de esquecimento e febre.
Tem muita febre
Quem é acometido
Dessa doença silenciosa.
Que não é um mal.
Nem tem cura.
Aconselha-se ouvir
O coração e não brincar
Com drogas desconhecidas.
Ou não.
Cada caso
É estranho.
Só o tempo
Dirá o nível
De degradação.
Medo, fuga, vontade de chorar,
Isolacionismo, melancolia, tesão,
Ocorrem após instalado o verme.
Recomenda-se
Mergulhar.
Máscaras é bom
Perdê-las e aceitar
A morte da consciência.
Lucidez é o seu sintoma principal.
Há quem pense que é insanidade.
Quem é acometido dessa doença silenciosa
Pensa que é um louco ou coisa que o valha.
Já é efeito
No sangue.
.
Fotografia
Outro dia fiz
Um nu artístico
De uma andorinha
Solta no galho de oiti.
Peguei de surpresa
A criaturinha do céu.
Estava grávida
De um pardal.
Sim, meu doce,
Os passarinhos
Não se importam
Com espécie
E família.
Só querem
Amar.
Um nu artístico
De uma andorinha
Solta no galho de oiti.
Peguei de surpresa
A criaturinha do céu.
Estava grávida
De um pardal.
Sim, meu doce,
Os passarinhos
Não se importam
Com espécie
E família.
Só querem
Amar.
Visita Desconhecida
A minha mão direita
Quando coça
Quando coça
É sinal de outro poema
Queimando as velas
Do navio fantasma.
Queimando as velas
Do navio fantasma.
Capitão, ó meu capitão,
Vamos bater nas nuvens!
Vamos bater nas nuvens!
Puxe
Os cílios.
Os cílios.
Visita Desconhecida
A minha mão direita
Quando coça
Quando coça
É sinal de outro poema
Queimando as velas
Do navio fantasma.
Queimando as velas
Do navio fantasma.
Capitão, ó meu capitão,
Vamos bater nas nuvens!
Vamos bater nas nuvens!
Dominical
Você abre os olhos
E quase cega
Do céu tão
Azul
E das folhas de oiti
Batendo na janela.
Você acomoda
As pernas no sofá
Enquanto o seu filho
Deleita-se largadão
Na sua cama.
Você sorri
E jura em
Silêncio
Que não
Morrerá
De novo.
E quase cega
Do céu tão
Azul
E das folhas de oiti
Batendo na janela.
Você acomoda
As pernas no sofá
Enquanto o seu filho
Deleita-se largadão
Na sua cama.
Você sorri
E jura em
Silêncio
Que não
Morrerá
De novo.
Suave Na Nave
Com o que você quiser
Concordo contigo, amor.
Concordo contigo, amor.
Canalha?
Sim, canalha.
Frio e egoísta?
Evidentemente.
Sim, canalha.
Frio e egoísta?
Evidentemente.
Louco?
Louco.
Cínico?
Claro.
Louco.
Cínico?
Claro.
Diga,
Amor,
Amor,
E assino
Embaixo.
Embaixo.
Não precisa
Queimar meus
Últimos poemas.
Queimar meus
Últimos poemas.
Nem jogar
Contra a parede
Minha xícara branca.
Contra a parede
Minha xícara branca.
Você não imagina
Como dói juntar
Os cacos
Como dói juntar
Os cacos
De uma xícara antiga de café.
sábado, 15 de outubro de 2016
Hélia
Do meu tempo de escola
Só me lembro da minha
Professora de Inglês:
Estalava a língua
Entre os lábios
E me pedia
Pra repetir
Mil vezes
A mesma
Palavra.
Não conseguia
Mover meus olhos
Da sua camisa branca
Transparente e sensual.
De bordado
Hippie.
Só me lembro da minha
Professora de Inglês:
Estalava a língua
Entre os lábios
E me pedia
Pra repetir
Mil vezes
A mesma
Palavra.
Não conseguia
Mover meus olhos
Da sua camisa branca
Transparente e sensual.
De bordado
Hippie.
Combate De Gafanhotos
Não será fácil
Encher a mão
De ouro
E não seguir
O caminho
Da treva.
Um prisioneiro
Ama suas baratas
Enquanto o sol lá fora
Queima seus pássaros.
Encher a mão
De ouro
E não seguir
O caminho
Da treva.
Um prisioneiro
Ama suas baratas
Enquanto o sol lá fora
Queima seus pássaros.
Uma Eternidade De Blues
Morte?
Não conheço.
Estamos brigados.
E só nos veremos
No dia em que
Não for mais
O poeta
Filho da
Palavra.
Não conheço.
Estamos brigados.
E só nos veremos
No dia em que
Não for mais
O poeta
Filho da
Palavra.
Assinar:
Postagens (Atom)