O sol hoje trouxe alegria
até para meus fantasmas
que sorriem ao meu lado
pegam-me pelo braço
e enlouquecem afoitos
pela calçada
também sorrio
porque sou cínico
bem mais que eles
esses meus fantasmas
na verdade são meninos
graças a deus sem correntes
presas a calcanhares
tudo que temos
eu e eles
são asas douradas
ora lilases e brilhantes
que ontem
tarde da madrugada
roubamos do meu pégaso
coitado,
ainda esperando
das estrelas um atestado
de lealdade e concupiscência
hoje o sol acordou bacana
cheio de manha e música
meus fantasmas já estão lá
na calçada correndo atrás
dos pombos coxos
e brincando de abraçar folhas secas
antes que caiam ao chão
eu sorrio da janela
e escrevo versos
porque sou tão cínico
quanto o sol malandro
que hoje acordou estranho
mais devasso que de costume
queimando meu rosto
beijando minha nuca
saudoso
que tenho medo
dos meus fantasmas
sofrerem noutro dia
porque os fantasmas são meninos:
creem na eternidade dos bons momentos.
sábado, 30 de junho de 2012
terça-feira, 26 de junho de 2012
metódico
Todo passarim sabe
que o entardecer
é mui delicado:
caem monstros
das estrelas.
Portanto,
para dentro
moço de cabelos brancos.
Fuja da varanda,
beba seu café
tranquilo.
Prefira o idílio dos olhos
da mulher que não te vê.
Aqueles guardados dentro do bolso do bermudão
fizeram-te tanto bem que quase te cegaram.
Para dentro do quarto
moço de cabelos brancos.
A varanda é para donzelas e jarros tristes.
Flores alegres a gente tranca dentro da gaveta.
Parece que a varanda também é para cronista abençoado.
Sempre vem um e outro passarim a deitar-se na almofada
ou naquela cadeira dura dos meus avós.
Já para dentro
moço de cabelos brancos.
Seu tempo de devaneios
é tão simples quanto
o seu tempo
de enganos.
Acabou-se aquele tipo de engasgo
que surge com a esperança.
Volte para seu quarto
e mate seus cupins.
Eles depois de comerem as portas e as janelas
não duvide hão de comer suas botas.
São tenazes e lépidos esses cupins
do mesmo código genético
dos chineses.
Pegue o veneno
e não cheire.
É forte pra chuchu o veneno
e tão leves os cupins
com o vento.
que o entardecer
é mui delicado:
caem monstros
das estrelas.
Portanto,
para dentro
moço de cabelos brancos.
Fuja da varanda,
beba seu café
tranquilo.
Prefira o idílio dos olhos
da mulher que não te vê.
Aqueles guardados dentro do bolso do bermudão
fizeram-te tanto bem que quase te cegaram.
Para dentro do quarto
moço de cabelos brancos.
A varanda é para donzelas e jarros tristes.
Flores alegres a gente tranca dentro da gaveta.
Parece que a varanda também é para cronista abençoado.
Sempre vem um e outro passarim a deitar-se na almofada
ou naquela cadeira dura dos meus avós.
Já para dentro
moço de cabelos brancos.
Seu tempo de devaneios
é tão simples quanto
o seu tempo
de enganos.
Acabou-se aquele tipo de engasgo
que surge com a esperança.
Volte para seu quarto
e mate seus cupins.
Eles depois de comerem as portas e as janelas
não duvide hão de comer suas botas.
São tenazes e lépidos esses cupins
do mesmo código genético
dos chineses.
Pegue o veneno
e não cheire.
É forte pra chuchu o veneno
e tão leves os cupins
com o vento.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
amor não é fábula
Confesso que perdi as asas durante o mergulho
mas o bico continua úmido de pétala
e qual a flor me diga
que rejeita um pássaro trôpego
de bico encantado?
A gaita de Bob Dylan
toca agora doutro lado
passando pela montanha
logo após o último arco-íris
enquanto eu sonhava
e tu me iludias.
Juro que os teus peitos
foram mamados
com doçura
e lealdade
e ao dormir,
também te juro,
eu sabia de cada detalhe da saudade
que acordava com tua escova antiga
e os meus dentes amarelos.
Confesso que sem asas
o voo é seguro -
encostando o bico
na ponta do abismo
tiramos mel
do jardim.
Até creio que o céu
é todo abismo secreto
onde há pétalas de orquídeas
e bico molhado de pássaros trôpegos
[acreditas?]
mas o bico continua úmido de pétala
e qual a flor me diga
que rejeita um pássaro trôpego
de bico encantado?
A gaita de Bob Dylan
toca agora doutro lado
passando pela montanha
logo após o último arco-íris
enquanto eu sonhava
e tu me iludias.
Juro que os teus peitos
foram mamados
com doçura
e lealdade
e ao dormir,
também te juro,
eu sabia de cada detalhe da saudade
que acordava com tua escova antiga
e os meus dentes amarelos.
Confesso que sem asas
o voo é seguro -
encostando o bico
na ponta do abismo
tiramos mel
do jardim.
Até creio que o céu
é todo abismo secreto
onde há pétalas de orquídeas
e bico molhado de pássaros trôpegos
[acreditas?]
sexta-feira, 22 de junho de 2012
chuva
Esperava essa chuva
para enviar-lhe
meu coração -
faça bom proveito
e não esqueça:
um beijinho
em cada face
é o seu maior dengo.
Em dias de insônia
deixe-o bater seu tambor
e dançar com suas entidades.
Ele é louco mesmo
e tem muito ciúme
do puro sangue
que se derrama
com as lágrimas.
para enviar-lhe
meu coração -
faça bom proveito
e não esqueça:
um beijinho
em cada face
é o seu maior dengo.
Em dias de insônia
deixe-o bater seu tambor
e dançar com suas entidades.
Ele é louco mesmo
e tem muito ciúme
do puro sangue
que se derrama
com as lágrimas.
domingo, 8 de abril de 2012
o bufão de sorte
Para quem tem um quarto
com rachaduras nas paredes
das quais escapam coelhinhas
todas seminuas e sorridentes,
como ser triste?
Para quem tem um par de botas
que me leva a reinos encantados
onde se pode beber vinho
à vontade
e não dar bandeira na casa do rei
pegando firme a rainha,
como ser triste?
Para quem tem traças inteligentes
que adoram ler de tudo na estante
e me sussurram aos ouvidos
livros que tive preguiça
de chegar ao fim,
como ser triste?
Para quem tem vários passarinhos
que se revezam a cada manhã
e tocam Bach
deslizando gravetos nos bicos
em sensíveis movimentos,
como ser triste?
com rachaduras nas paredes
das quais escapam coelhinhas
todas seminuas e sorridentes,
como ser triste?
Para quem tem um par de botas
que me leva a reinos encantados
onde se pode beber vinho
à vontade
e não dar bandeira na casa do rei
pegando firme a rainha,
como ser triste?
Para quem tem traças inteligentes
que adoram ler de tudo na estante
e me sussurram aos ouvidos
livros que tive preguiça
de chegar ao fim,
como ser triste?
Para quem tem vários passarinhos
que se revezam a cada manhã
e tocam Bach
deslizando gravetos nos bicos
em sensíveis movimentos,
como ser triste?
quinta-feira, 5 de abril de 2012
a mulher calçada para matar
Não sou um bom moço
mas nunca deixo ao relento
inseto ferido
ao pé da porta.
Penso que poderia ser minha
aquela alma desventurada
vítima de um salto alto
no primeiro degrau
da escada.
O que me surpreende
já quase morto
é o inseto ainda ter força
para me confessar sorrindo
que morrerá
feliz -
"o salto alto da vizinha
atravessou-me o coração
qual uma chama
de donzela."
Como são tolos os insetos
e todos os homens debaixo
do salto alto
de uma mulher.
Morra, ó miserável
e não me traga
escorpiões
pela fresta
da porta.
mas nunca deixo ao relento
inseto ferido
ao pé da porta.
Penso que poderia ser minha
aquela alma desventurada
vítima de um salto alto
no primeiro degrau
da escada.
O que me surpreende
já quase morto
é o inseto ainda ter força
para me confessar sorrindo
que morrerá
feliz -
"o salto alto da vizinha
atravessou-me o coração
qual uma chama
de donzela."
Como são tolos os insetos
e todos os homens debaixo
do salto alto
de uma mulher.
Morra, ó miserável
e não me traga
escorpiões
pela fresta
da porta.
quarta-feira, 28 de março de 2012
o senhor do tempo
Não sei como
o coração pula
da caixa torácica
e caminha sozinho
pelas calçadas
chutando tampinhas
de refrigerante.
Chove muito ultimamente
e meu coração adora
essas calçadas frias
com pontas de cigarros
chicletes e sujeira de poodles.
Quem sou eu para trazê-lo de volta
ele é louco e só retorna quando
sente fome e sede
então se encaixa
entre as costelas
começa a bater seu tambor
tão confiante que dos céus
logo caem
andorinhas desprevenidas
ainda com bobes na cabeça.
o coração pula
da caixa torácica
e caminha sozinho
pelas calçadas
chutando tampinhas
de refrigerante.
Chove muito ultimamente
e meu coração adora
essas calçadas frias
com pontas de cigarros
chicletes e sujeira de poodles.
Quem sou eu para trazê-lo de volta
ele é louco e só retorna quando
sente fome e sede
então se encaixa
entre as costelas
começa a bater seu tambor
tão confiante que dos céus
logo caem
andorinhas desprevenidas
ainda com bobes na cabeça.
segunda-feira, 26 de março de 2012
química
Somos amigos,
tão amigos -
eu e esse sabor antigo
de café ao entardecer.
Nem preciso olhar pela janela
a cor do céu - é o mesmo
do primeiro dia.
E tu me perguntas,
"e os passarinhos?"
Namoram no escurinho
entre os galhos de oiticicas.
tão amigos -
eu e esse sabor antigo
de café ao entardecer.
Nem preciso olhar pela janela
a cor do céu - é o mesmo
do primeiro dia.
E tu me perguntas,
"e os passarinhos?"
Namoram no escurinho
entre os galhos de oiticicas.
tempestade
Pronto, tirei a barba
[pasmem] dessa vez
não feri o sinal
acima dos lábios;
o cabelo, entretanto, não corto,
permanecem os cachos
crespos e brancos -
pareço um louco
escrevendo cartas
dentro do olho
de um tufão.
Fantástico é que tenho
voando a meu dispor -
livros, estante, geladeira,
flores, vacas, camponesas.
Até uma chinesinha
com o olhar tão doce.
[pasmem] dessa vez
não feri o sinal
acima dos lábios;
o cabelo, entretanto, não corto,
permanecem os cachos
crespos e brancos -
pareço um louco
escrevendo cartas
dentro do olho
de um tufão.
Fantástico é que tenho
voando a meu dispor -
livros, estante, geladeira,
flores, vacas, camponesas.
Até uma chinesinha
com o olhar tão doce.
domingo, 25 de março de 2012
meu quarto é um oratório
fico imaginando seus joelhos
se alguma cicatriz, verruga
ou simplesmente
lisos e rosados -
fico imaginando
se no joelho direito
teria espaço suficiente
para escrever um poema
e no esquerdo
desenhar um coração,
beijá-lo e encostar meu rosto
abraçado
às suas pernas
...
se alguma cicatriz, verruga
ou simplesmente
lisos e rosados -
fico imaginando
se no joelho direito
teria espaço suficiente
para escrever um poema
e no esquerdo
desenhar um coração,
beijá-lo e encostar meu rosto
abraçado
às suas pernas
...
fábula pra repousar o espírito
Os deuses da poesia são três:
o Arrebatado, o Altivo
e o Justo.
Vivem a socos
e pernadas
disputando o amor
da bela princesa.
O Arrebatado sempre gagueja
em companhia da donzela.
O Altivo é um tolo esnobe
e logo entedia a distinta senhora.
O Justo até que bom moço
mas não há mulher que aprecie
tantos salmos e provérbios
em noites de lua cheia.
A princesa só não vive triste
no alto da sua torre
porque todas as noites
escala sua janela um esquilo
cujos dentões mordem
os pés da princesa
que ri e que chora
em profundo êxtase,
sobretudo quando o esquilo
sobe por sua longa perna
e beija sua virilha.
o Arrebatado, o Altivo
e o Justo.
Vivem a socos
e pernadas
disputando o amor
da bela princesa.
O Arrebatado sempre gagueja
em companhia da donzela.
O Altivo é um tolo esnobe
e logo entedia a distinta senhora.
O Justo até que bom moço
mas não há mulher que aprecie
tantos salmos e provérbios
em noites de lua cheia.
A princesa só não vive triste
no alto da sua torre
porque todas as noites
escala sua janela um esquilo
cujos dentões mordem
os pés da princesa
que ri e que chora
em profundo êxtase,
sobretudo quando o esquilo
sobe por sua longa perna
e beija sua virilha.
sábado, 24 de março de 2012
o maquiavélico
diga-me onde você malha
e venderei chocolates
na esquina
só pra ver de perto
seu olhar de repúdio
e o seu biquinho
de reprovação -
não que eu seja
um sujeito canalha
mas é que adoro sua dúvida
de roer-lhe a alma
entre
a delícia do chocolate de amêndoas
em saborosa calda de leite moça
e a sua disciplina de louca
com mil séries de glúteos.
e venderei chocolates
na esquina
só pra ver de perto
seu olhar de repúdio
e o seu biquinho
de reprovação -
não que eu seja
um sujeito canalha
mas é que adoro sua dúvida
de roer-lhe a alma
entre
a delícia do chocolate de amêndoas
em saborosa calda de leite moça
e a sua disciplina de louca
com mil séries de glúteos.
quinta-feira, 22 de março de 2012
o banquete da memória
Segundo os antigos
os pontinhos brancos
nas unhas são mentiras terríveis
desde o tempo em que crianças
eram anjos de cara lisa
e asas tortas,
então concluo
que essa nódoa branca
na unha do meu mindinho
é o meu pecado mais mortal
que já se aproxima dos céus.
os pontinhos brancos
nas unhas são mentiras terríveis
desde o tempo em que crianças
eram anjos de cara lisa
e asas tortas,
então concluo
que essa nódoa branca
na unha do meu mindinho
é o meu pecado mais mortal
que já se aproxima dos céus.
o viciado em coisas invisíveis
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
os fantasmas não gostam dessa nova vida
e tentam me seduzir com cítaras
em vez de correntes
presas a tornozelos
mas como disse,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
digo adeus aos fantasmas
deixo-os tristes pela casa
calma, calma, calma
fantasmas bebês chorões
o amanhã ainda não existe
quem sabe no último dia
eu acorde
alma penada
mas por enquanto,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
...
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
os fantasmas não gostam dessa nova vida
e tentam me seduzir com cítaras
em vez de correntes
presas a tornozelos
mas como disse,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
digo adeus aos fantasmas
deixo-os tristes pela casa
calma, calma, calma
fantasmas bebês chorões
o amanhã ainda não existe
quem sabe no último dia
eu acorde
alma penada
mas por enquanto,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
...
quarta-feira, 21 de março de 2012
tarde nublada
veja as palmas das minhas mãos:
navios de pirata, corsários ingleses,
céus, nuvens, linha do horizonte,
uma ilha deserta, filhotes
de tartaruga fugindo
pro mar -
são palmas de mãos sonhadoras
que só fizeram da vida
apertar o próprio
sangue -
beije as minhas mãos
e ponha no seu peito
a saudade
delas
...
navios de pirata, corsários ingleses,
céus, nuvens, linha do horizonte,
uma ilha deserta, filhotes
de tartaruga fugindo
pro mar -
são palmas de mãos sonhadoras
que só fizeram da vida
apertar o próprio
sangue -
beije as minhas mãos
e ponha no seu peito
a saudade
delas
...
só quero atingir seu coração novamente
algumas horas atrás
eu falei das joaninhas
e olha só como elas rebolam
em um jardim plano
sem armadilhas
são dondocas
essas meninas
casaquinho florido
e um olhar indiferente -
parecem tanto contigo
naquele dia quando
parou a chuva
e tu recusaste
meu braço amigo
foste pisando poças
sem ao menos
um pulinho
de bailarina
...
eu falei das joaninhas
e olha só como elas rebolam
em um jardim plano
sem armadilhas
são dondocas
essas meninas
casaquinho florido
e um olhar indiferente -
parecem tanto contigo
naquele dia quando
parou a chuva
e tu recusaste
meu braço amigo
foste pisando poças
sem ao menos
um pulinho
de bailarina
...
terça-feira, 20 de março de 2012
o equinócio de uma minhoca
os meus pés estão cansados e frios
as estrelas somem com o dia longo
a tinta forte das paredes recém-pintadas
alegra-me o peito [penso em ópio e vinho]
não me levanto da cama
o sonho sempre foge
quando tenho sede
deixo-me então
assim, a garganta seca
e um sabor de peixe na boca
meu caixão ainda não está totalmente pronto
faltam os tamancos e as almofadas
do meu último pranto
...
as estrelas somem com o dia longo
a tinta forte das paredes recém-pintadas
alegra-me o peito [penso em ópio e vinho]
não me levanto da cama
o sonho sempre foge
quando tenho sede
deixo-me então
assim, a garganta seca
e um sabor de peixe na boca
meu caixão ainda não está totalmente pronto
faltam os tamancos e as almofadas
do meu último pranto
...
entrevista
fui entrevistado no blog roxo-violeta,
da poeta Tânia Regina Contreiras
leiam a entrevista clicando aqui
da poeta Tânia Regina Contreiras
leiam a entrevista clicando aqui
segunda-feira, 19 de março de 2012
o mais invisível do tátil
juro que eu não sabia
que as fadas sentem cólicas
e têm fortes dores de cabeça
imaginava como único atributo das fadas
salvar aqueles pombos loucos
que tiram os tênis
nike vermelho
e levam choques
nos fios de alta tensão
agora que sei que as fadas
choram e trincam os dentes
morrendo de dor
às vezes encabulada
por sofrer igual
a uma mulher comum
serei atento
e mais sensível -
diz-me, fada
desejas minha mão sobre teu ventre
energizando os teus hormônios
e a boa circulação sanguínea
ou preferes tão somente
meus beijos por tua nuca?
Creio que os meus beijos
hão de te arrepiar todo o corpo
e segundo as fadas superiores
corpo sob frêmitos
é um bom sinal
de cura
...
que as fadas sentem cólicas
e têm fortes dores de cabeça
imaginava como único atributo das fadas
salvar aqueles pombos loucos
que tiram os tênis
nike vermelho
e levam choques
nos fios de alta tensão
agora que sei que as fadas
choram e trincam os dentes
morrendo de dor
às vezes encabulada
por sofrer igual
a uma mulher comum
serei atento
e mais sensível -
diz-me, fada
desejas minha mão sobre teu ventre
energizando os teus hormônios
e a boa circulação sanguínea
ou preferes tão somente
meus beijos por tua nuca?
Creio que os meus beijos
hão de te arrepiar todo o corpo
e segundo as fadas superiores
corpo sob frêmitos
é um bom sinal
de cura
...
domingo, 18 de março de 2012
versos que escrevo dormindo
uma nuvem de gafanhotos
não é tão infernal
se cada inseto
traz aos dentes
uma asinha
de borboleta -
calma, os gafanhotos
apenas salvaram uma borboletinha
das corredeiras de um rio assustador
não chores,
é facil montar
afinal as borboletas
vivem sem o corpo
basta que recuperemos
os mínimos detalhes
das asas
cada ângulo
com sua cor
e teremos
para nossa alegria
até mesmo a imagem
do último voo sobre
um lindo jardim
...
não é tão infernal
se cada inseto
traz aos dentes
uma asinha
de borboleta -
calma, os gafanhotos
apenas salvaram uma borboletinha
das corredeiras de um rio assustador
não chores,
é facil montar
afinal as borboletas
vivem sem o corpo
basta que recuperemos
os mínimos detalhes
das asas
cada ângulo
com sua cor
e teremos
para nossa alegria
até mesmo a imagem
do último voo sobre
um lindo jardim
...
o carrasco
perdi a conta de quantos tubos de pasta dental
meu filho torceu o pescoço
e ainda hoje torce
o pivete tem uma especial habilidade
em tirar o chapéu branco da kolynos
ou da colgate
e sorrindo o carinha espreme
até a última lágrima
de flúor
dá-me pena ver a horrível morte
desses amigos tubos de pasta,
pescoço quebrado
e olhos revirados
de tanta dor
...
meu filho torceu o pescoço
e ainda hoje torce
o pivete tem uma especial habilidade
em tirar o chapéu branco da kolynos
ou da colgate
e sorrindo o carinha espreme
até a última lágrima
de flúor
dá-me pena ver a horrível morte
desses amigos tubos de pasta,
pescoço quebrado
e olhos revirados
de tanta dor
...
sábado, 17 de março de 2012
a unicidade do instante
Não deixo pra amanhã as cuecas de agora
pode ocorrer uma tragédia
e o pedacinho de sabão
sumir pelo cano
da pia.
Lavar cuecas com sabonete
ou amaciante fofo?
Isto não,
da última vez
vieram à janela
todos os tipos de andorinhas -
gordas, viúvas, ninfetas, loucas.
pode ocorrer uma tragédia
e o pedacinho de sabão
sumir pelo cano
da pia.
Lavar cuecas com sabonete
ou amaciante fofo?
Isto não,
da última vez
vieram à janela
todos os tipos de andorinhas -
gordas, viúvas, ninfetas, loucas.
sexta-feira, 16 de março de 2012
a tua gargalhada
se me perguntassem o que levaria a uma ilha deserta,
a tua gargalhada, claro
seria uma festa - eu, os golfinhos
e uma turma de peixinhos malandros
bebendo água de coco
e nos deliciando
com tua gargalhada boa
com tua gargalhada
doutro mundo
os reis quando esperam a visita de um príncipe
não são trombetas que tocam os arautos
mas tiram da túnica uma caixinha
e ao abri-la,
eis a tua gargalhada
a invadir salão,
masmorra,
cozinha
chega até aos ouvidos
dos cocheiros
que entram em transe
e acabam bebendo
todo o vinho
recém chegado
de Portugal
a tua gargalhada
tem esse poder
louco
se me perguntassem se não queria
levar para a ilha deserta
também teu corpo,
boca,
seios
e coxas
diria que não,
que a tua gargalhada
seria suficiente para meu encanto
a tua gargalhada
[não fiques com ciúme]
iria trazer à praia
tantas sereias,
tu nem imaginas quantas
do mar báltico
dormiriam
com o poeta
a tua gargalhada
não é a risada
de Irene
mas te juro,
se Caetano
de longe a ouvisse
pensaria compor
uma música
se eu deixasse
e eu não permito
tua gargalhada é só minha
e dos meus golfinhos
e dos peixinhos
malandros
e do rei e de todo o seu séquito
e dos cocheiros e das sereias
de Caetano não,
deixa-o com a risada de Irene
...
a tua gargalhada, claro
seria uma festa - eu, os golfinhos
e uma turma de peixinhos malandros
bebendo água de coco
e nos deliciando
com tua gargalhada boa
com tua gargalhada
doutro mundo
os reis quando esperam a visita de um príncipe
não são trombetas que tocam os arautos
mas tiram da túnica uma caixinha
e ao abri-la,
eis a tua gargalhada
a invadir salão,
masmorra,
cozinha
chega até aos ouvidos
dos cocheiros
que entram em transe
e acabam bebendo
todo o vinho
recém chegado
de Portugal
a tua gargalhada
tem esse poder
louco
se me perguntassem se não queria
levar para a ilha deserta
também teu corpo,
boca,
seios
e coxas
diria que não,
que a tua gargalhada
seria suficiente para meu encanto
a tua gargalhada
[não fiques com ciúme]
iria trazer à praia
tantas sereias,
tu nem imaginas quantas
do mar báltico
dormiriam
com o poeta
a tua gargalhada
não é a risada
de Irene
mas te juro,
se Caetano
de longe a ouvisse
pensaria compor
uma música
se eu deixasse
e eu não permito
tua gargalhada é só minha
e dos meus golfinhos
e dos peixinhos
malandros
e do rei e de todo o seu séquito
e dos cocheiros e das sereias
de Caetano não,
deixa-o com a risada de Irene
...
quinta-feira, 15 de março de 2012
a parábola do pai generoso
agora que tu sabes
que as hienas são ferozes
e mordem mesmo fundo a carne
volta pra tua cabana
pro teu jardim
as sementes
lançadas pelos passarinhos
já crescem as vagens de feijão verde
agora que tu sabes
que as hienas são macabras
que destrincham até os ossos
foge da companhia delas
foge da tempestade
debaixo de uma árvore
o raio que racha o tronco
também parte ao meio
a tua cabeça
retorna pra tua cabana
lá as paredes do teu quarto
sonham em te apertar o peito
e os teus livros abertos
guardam entre páginas
flores
perfumadas
que nunca morrem
...
que as hienas são ferozes
e mordem mesmo fundo a carne
volta pra tua cabana
pro teu jardim
as sementes
lançadas pelos passarinhos
já crescem as vagens de feijão verde
agora que tu sabes
que as hienas são macabras
que destrincham até os ossos
foge da companhia delas
foge da tempestade
debaixo de uma árvore
o raio que racha o tronco
também parte ao meio
a tua cabeça
retorna pra tua cabana
lá as paredes do teu quarto
sonham em te apertar o peito
e os teus livros abertos
guardam entre páginas
flores
perfumadas
que nunca morrem
...
terça-feira, 13 de março de 2012
quarentena
quando as coisas estiverem boas
bem-te-vis felizes fora da gaiola
aranha com o besouro predileto
então eu te convido
para um cineminha
no momento aceita
estes meus cabelos
secos e compridos
estes meus dentes
vândalos e amarelos
esta minha barbicha
de náufrago erudito
estes meus tendões molengas
estes meus olhos apagados
deixa o sol distante
da minha calçada
nunca pensei um dia
amar tanto a frieza
dos meus chinelos
...
bem-te-vis felizes fora da gaiola
aranha com o besouro predileto
então eu te convido
para um cineminha
no momento aceita
estes meus cabelos
secos e compridos
estes meus dentes
vândalos e amarelos
esta minha barbicha
de náufrago erudito
estes meus tendões molengas
estes meus olhos apagados
deixa o sol distante
da minha calçada
nunca pensei um dia
amar tanto a frieza
dos meus chinelos
...
quarta-feira, 7 de março de 2012
punhal no peito
o primeiro amor é único
ornado de inocência
e muita febre
presente do cupido-mor
que não é um anjo
mas o próprio
deus
tão velhinho
e apaixonado
se tu perdeste o teu primeiro amor
no trem ou no foguete ou de patins
é bom dar-te à bebida e ao luto
porque não virá outro sol
nunca será igual àquele
de shortinho na primavera
se estás a lembrar assim meio mole
do teu primeiro encanto
então acredita
aproxima-se
um milagre
porque o cupido-mor
o próprio deus de barbicha
às vezes aprecia na gente
a desventura e a tragédia
e traz de volta
outro amor
mais dolorido
e passageiro
...
ornado de inocência
e muita febre
presente do cupido-mor
que não é um anjo
mas o próprio
deus
tão velhinho
e apaixonado
se tu perdeste o teu primeiro amor
no trem ou no foguete ou de patins
é bom dar-te à bebida e ao luto
porque não virá outro sol
nunca será igual àquele
de shortinho na primavera
se estás a lembrar assim meio mole
do teu primeiro encanto
então acredita
aproxima-se
um milagre
porque o cupido-mor
o próprio deus de barbicha
às vezes aprecia na gente
a desventura e a tragédia
e traz de volta
outro amor
mais dolorido
e passageiro
...
terça-feira, 6 de março de 2012
fim da comédia
digo adeus aos versos
o que serei agora
se não sou
poeta?
plantarei batatas
e verei o entardecer
doutro lado
da montanha
deixo as palavras em paz
sem a minha boca
e meu sopro
deixo a minha dor silenciosa
a cabeça que não está boa
o coração que já partiu
[o que sobra
a um louco?]
deixo meus livros filhos das traças
deixo minhas botas encostadas à parede
não vejo graça
nem beatitude
dentro da alma
que já é morte
...
o que serei agora
se não sou
poeta?
plantarei batatas
e verei o entardecer
doutro lado
da montanha
deixo as palavras em paz
sem a minha boca
e meu sopro
deixo a minha dor silenciosa
a cabeça que não está boa
o coração que já partiu
[o que sobra
a um louco?]
deixo meus livros filhos das traças
deixo minhas botas encostadas à parede
não vejo graça
nem beatitude
dentro da alma
que já é morte
...
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
a santidade dos objetos
Quando sair, digo pra minha alma,
deixe a porta do quarto aberta.
Pouco me importa o vento:
que bata a porta até rachar o teto.
Saberão os ladrões
que tem em casa
um alma viva.
Não a minha, claro,
que já anda distante.
Mas a da porta
que vem e vai
e bate
e torna
a bater.
Quando voltar, digo pra minha alma,
veja se ainda serve a chave
e se o teto não desabou.
Se dócil a fechadura
e se o teto seguro
festeje então meu corpo,
a sua única e fiel morada.
deixe a porta do quarto aberta.
Pouco me importa o vento:
que bata a porta até rachar o teto.
Saberão os ladrões
que tem em casa
um alma viva.
Não a minha, claro,
que já anda distante.
Mas a da porta
que vem e vai
e bate
e torna
a bater.
Quando voltar, digo pra minha alma,
veja se ainda serve a chave
e se o teto não desabou.
Se dócil a fechadura
e se o teto seguro
festeje então meu corpo,
a sua única e fiel morada.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
neuros
ah, esse sonho insano
querer atar a alma
do outro
ao nosso
capricho
já não nos basta esta
doida pela casa
tateando no escuro
xícara, mesa, toalha
ah, essa tolice mesquinha
de querer laçar o corpo
do outro
ao nosso
sapato
já não nos basta esta febre
dentro do olho
tateando no escuro
o último analgésico
ah, deixemos os outros
com seus ombros
com seu peso
e pluma
já não nos basta esta
cruz de santo
esta coroa
de louco
pela casa
tarde da noite
tateando no escuro os chinelos
e só encontrando os pés da estante
...
querer atar a alma
do outro
ao nosso
capricho
já não nos basta esta
doida pela casa
tateando no escuro
xícara, mesa, toalha
ah, essa tolice mesquinha
de querer laçar o corpo
do outro
ao nosso
sapato
já não nos basta esta febre
dentro do olho
tateando no escuro
o último analgésico
ah, deixemos os outros
com seus ombros
com seu peso
e pluma
já não nos basta esta
cruz de santo
esta coroa
de louco
pela casa
tarde da noite
tateando no escuro os chinelos
e só encontrando os pés da estante
...
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
terça gorda e linda
Quatro dias é o suficiente
para tratar-se de uma artrite.
Espantoso,
nunca canto:
nem samba
nem fado.
A minha salvação é que sei
fazer uma andorinha gozar.
É lindo vê-la em transe
asinhas meio pendidas
biquinho entreaberto
e os olhos enormes
arregalados,
de vidro
ou porcelana?
Terça-feira gorda de carnaval.
Não conheço um dia mais santo.
para tratar-se de uma artrite.
Espantoso,
nunca canto:
nem samba
nem fado.
A minha salvação é que sei
fazer uma andorinha gozar.
É lindo vê-la em transe
asinhas meio pendidas
biquinho entreaberto
e os olhos enormes
arregalados,
de vidro
ou porcelana?
Terça-feira gorda de carnaval.
Não conheço um dia mais santo.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
ausente do juízo normal
No dia em que você rasgou meus poemas
eu deveria ter percebido de uma vez
a mulher louca que era
ninguém rasga poemas
por imensa a frieza
por maior o ódio
poemas são filhos sem mãe
que logo partem
sem dizer adeus
ou onde vão morar.
No dia em que você rasgou meus poemas
em diversas perpendiculares
fazendo horizontes
apartados das nuvens
eu deveria na mesma hora
ter feito minha mala
ou lhe dado uma bofetada
ou lhe ter jogado uma praga
porque ninguém rasga poemas
e continua a viver impune.
Mas tolo nada fiz
senão olhá-la
perplexo,
incrédulo.
Hoje em dia você se alegra com seus amigos
faz planos de trabalho e passeios.
Decerto você não imagina
que rasgar poemas
é um pecado
um pecado mortal
e sem expiação.
Veja o meu caso.
Um dia rasguei poemas.
Agora minha vida se resume a escrever versos.
Não tenho tempo nem para calar a minha boca.
E isto é triste
quando é eterno.
eu deveria ter percebido de uma vez
a mulher louca que era
ninguém rasga poemas
por imensa a frieza
por maior o ódio
poemas são filhos sem mãe
que logo partem
sem dizer adeus
ou onde vão morar.
No dia em que você rasgou meus poemas
em diversas perpendiculares
fazendo horizontes
apartados das nuvens
eu deveria na mesma hora
ter feito minha mala
ou lhe dado uma bofetada
ou lhe ter jogado uma praga
porque ninguém rasga poemas
e continua a viver impune.
Mas tolo nada fiz
senão olhá-la
perplexo,
incrédulo.
Hoje em dia você se alegra com seus amigos
faz planos de trabalho e passeios.
Decerto você não imagina
que rasgar poemas
é um pecado
um pecado mortal
e sem expiação.
Veja o meu caso.
Um dia rasguei poemas.
Agora minha vida se resume a escrever versos.
Não tenho tempo nem para calar a minha boca.
E isto é triste
quando é eterno.
o nevoeiro que se dissipa
Os versos tortos que escrevo
é a comprovação que sou humano.
Falho como homem
e como poeta.
A divindade que me vem
com o poema eterno
some,
sequer tenho tempo
para festejar o assombro.
Esta minha capacidade
em ser falível e efêmero
é a sincera afirmação
de que sou humano.
Haverá para meu corpo
as dentadas dos vermes
como já voam sobre o que escrevo
os brilhantes dentes do esquecimento.
é a comprovação que sou humano.
Falho como homem
e como poeta.
A divindade que me vem
com o poema eterno
some,
sequer tenho tempo
para festejar o assombro.
Esta minha capacidade
em ser falível e efêmero
é a sincera afirmação
de que sou humano.
Haverá para meu corpo
as dentadas dos vermes
como já voam sobre o que escrevo
os brilhantes dentes do esquecimento.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
melancolia
O coração sabe da tolice enfadonha
que é um punho com artrite.
Mas que bom que é domingo de carnaval
e todos estão na praia e na serra
felizes.
Deus na sua infinita ironia abençoa-me:
agora são os dois punhos com artrite
e os dez dedos obesos mórbidos.
Capitão Gancho pergunta se quero
que ele ponha açúcar na xícara
e Peter Pan me diz sorrindo
que no seu reino
para cada tipo de artrite
existe uma fada específica.
Preocupa-me apenas como apertar o tubo de pasta
e derramar sobre a escova
a lágrima de flúor.
que é um punho com artrite.
Mas que bom que é domingo de carnaval
e todos estão na praia e na serra
felizes.
Deus na sua infinita ironia abençoa-me:
agora são os dois punhos com artrite
e os dez dedos obesos mórbidos.
Capitão Gancho pergunta se quero
que ele ponha açúcar na xícara
e Peter Pan me diz sorrindo
que no seu reino
para cada tipo de artrite
existe uma fada específica.
Preocupa-me apenas como apertar o tubo de pasta
e derramar sobre a escova
a lágrima de flúor.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
sábado de carnaval
Que raios de mão esquerda é esta
bastando mudar o tempo,
esfriar, chover
para que o punho inflame
e os dedos inchem.
A minha alma sofre mais que o corpo
com sua mão esquerda podre
de punho inflamado
e dedos gordos.
A minha alma se torce,
se rói, se lastima
busca alguma magia
para aliviar essa dor patética.
Capitão Gancho é um bom sujeito.
Certamente escreve melhor que Peter Pan.
Segurar a pena com um anzol é para poucos.
Sobretudo bêbado de conhaque.
Peter Pan não bebe
e suas mãos de seda
encantam as meninas.
Basta chover,
esfriar o tempo
que volta a artrite
e o punho incha
e os dedos engordam.
Penso em capitão Gancho.
Dizem que um crocodilo
devorou-lhe a mão.
A verdade é que foi capitão Gancho
que amputou a mão de tédio,
louco de artrite.
Sujeito de coragem.
Natural que escreva
melhor que Peter Pan.
bastando mudar o tempo,
esfriar, chover
para que o punho inflame
e os dedos inchem.
A minha alma sofre mais que o corpo
com sua mão esquerda podre
de punho inflamado
e dedos gordos.
A minha alma se torce,
se rói, se lastima
busca alguma magia
para aliviar essa dor patética.
Capitão Gancho é um bom sujeito.
Certamente escreve melhor que Peter Pan.
Segurar a pena com um anzol é para poucos.
Sobretudo bêbado de conhaque.
Peter Pan não bebe
e suas mãos de seda
encantam as meninas.
Basta chover,
esfriar o tempo
que volta a artrite
e o punho incha
e os dedos engordam.
Penso em capitão Gancho.
Dizem que um crocodilo
devorou-lhe a mão.
A verdade é que foi capitão Gancho
que amputou a mão de tédio,
louco de artrite.
Sujeito de coragem.
Natural que escreva
melhor que Peter Pan.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
a poética das coisas
Devo tantas vidas
mas não devo
a mentira
pois o que invento
corta-me a pele.
A estante de ferro
e o óleo johnson
não têm o mesmo corpo
mas têm a mesma alma
dentro do meu peito.
Devo a eternidade
mas não devo
a mentira
pois meu coração é súdito
de duas senhoras,
uma de espuma
e a outra de cristal.
mas não devo
a mentira
pois o que invento
corta-me a pele.
A estante de ferro
e o óleo johnson
não têm o mesmo corpo
mas têm a mesma alma
dentro do meu peito.
Devo a eternidade
mas não devo
a mentira
pois meu coração é súdito
de duas senhoras,
uma de espuma
e a outra de cristal.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
antes que o céu desabe
O sanguinário homem não entende
o perverso homem não entende
que a alma humana é salva
dentro da sua própria casa
com a voz dócil
e os olhos sinceros.
O mesquinho homem não entende
o egoísta homem não entende
que o brilhantismo da alma humana
acontece quando o ancião lembra
que tem memória
e o jovem arrebatamentos.
O louco homem não entende
o ansioso homem não entende
que a bravura da alma humana
vem da sua primeira inocência
dentro da sua própria casa
dentro da sua própria casa.
o perverso homem não entende
que a alma humana é salva
dentro da sua própria casa
com a voz dócil
e os olhos sinceros.
O mesquinho homem não entende
o egoísta homem não entende
que o brilhantismo da alma humana
acontece quando o ancião lembra
que tem memória
e o jovem arrebatamentos.
O louco homem não entende
o ansioso homem não entende
que a bravura da alma humana
vem da sua primeira inocência
dentro da sua própria casa
dentro da sua própria casa.
docinho
O musgo da árvore
não é o mesmo
do telhado.
Pelos galhos pássaros,
borboletas e cigarras
já demarcaram
território.
Enquanto o telhado antigo
guarda no seu musgo
apenas os olhares
das estrelas.
não é o mesmo
do telhado.
Pelos galhos pássaros,
borboletas e cigarras
já demarcaram
território.
Enquanto o telhado antigo
guarda no seu musgo
apenas os olhares
das estrelas.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
chuvinha fina e um sol tímido
Se digo que os olhos da ninfa
brilham mais que estrelas
apenas suponho
que o fogo da juventude
é tão reluzente quanto distante.
Se digo que os seios de uma ninfa
é um par de doces devaneios
apenas sugiro
que o sabor do pensamento
ainda dá água na boca do sonhador.
brilham mais que estrelas
apenas suponho
que o fogo da juventude
é tão reluzente quanto distante.
Se digo que os seios de uma ninfa
é um par de doces devaneios
apenas sugiro
que o sabor do pensamento
ainda dá água na boca do sonhador.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
a boa insônia
Senhorita, perdoa-me os dentes
faz tanto tempo que não beijo
eles pensaram que tua língua
fosse um bife.
Senhorita, perdoa-me novamente os dentes
faz tanto tempo que não mamo
eles pensaram que os bicos
fossem de borracha.
Senhorita, pela última vez, perdoa-me os dentes
faz tanto tempo que não meto a cara
em um jardim perfumado
eles pensaram que os pelos pubianos
fossem relva do paraíso.
faz tanto tempo que não beijo
eles pensaram que tua língua
fosse um bife.
Senhorita, perdoa-me novamente os dentes
faz tanto tempo que não mamo
eles pensaram que os bicos
fossem de borracha.
Senhorita, pela última vez, perdoa-me os dentes
faz tanto tempo que não meto a cara
em um jardim perfumado
eles pensaram que os pelos pubianos
fossem relva do paraíso.
o último estalo é que acende o fósforo
Não, meu bom moço
ninguém observa tuas lágrimas
chora então e não peças clemência.
Não existe atrás da parede um deus oculto
nem sobre o telhado um samurai misericordioso.
Não acredites em olhar de quem vive morto.
Não escutes a voz da mãe que mente ao filho.
A única razão para que mexas em cadáveres
é vê-los sorrindo e não acomodados
em sonhos.
Acorda-os e escreve as cartas do teu coração
que nunca em hipótese alguma te serão entregues.
Abre teu baú de memórias
inferniza-te até que tuas pálpebras
se cansem dessa luta insignificante
entre lágrimas de cera
e cílios postiços.
Descer à masmorra das mentiras
é como correr em volta da praça
em dia chuvoso que parte ossos.
Deixa pelos canteiros tuas costelas.
Deixa que mais cedo ou tarde
hão de virar cinzas.
No invisível de ti há um jardim todo florido
plantado e replantado quando exausto
tu paras e consegues ver
uma rosa branca
que é azul.
ninguém observa tuas lágrimas
chora então e não peças clemência.
Não existe atrás da parede um deus oculto
nem sobre o telhado um samurai misericordioso.
Não acredites em olhar de quem vive morto.
Não escutes a voz da mãe que mente ao filho.
A única razão para que mexas em cadáveres
é vê-los sorrindo e não acomodados
em sonhos.
Acorda-os e escreve as cartas do teu coração
que nunca em hipótese alguma te serão entregues.
Abre teu baú de memórias
inferniza-te até que tuas pálpebras
se cansem dessa luta insignificante
entre lágrimas de cera
e cílios postiços.
Descer à masmorra das mentiras
é como correr em volta da praça
em dia chuvoso que parte ossos.
Deixa pelos canteiros tuas costelas.
Deixa que mais cedo ou tarde
hão de virar cinzas.
No invisível de ti há um jardim todo florido
plantado e replantado quando exausto
tu paras e consegues ver
uma rosa branca
que é azul.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
ondas
O poeta é um tolo, notório e conhecido
desde o tempo em que nasciam batatinhas
esparramadas pelo chão, diziam meus inimigos.
Sempre me comportei como tal
mas a minha ira também assusta.
Eu assumo minha tolice
e a bestial cólera
que me prende
e sufoca.
Eu não apenas assumo como canto
assoprando flautas doces e clarins.
Agora mesmo racha-me a cabeça
um raio digno de um tolo
e furioso poeta.
Não há motivos aparentes
que o mundo saiba antes
dos versos suspensos.
Se tivesse na mão um objeto cortante
uma caneta bico de bronze
não demoraria o sangue
a sujar-me o bermudão.
O que tenho nas duas mãos são dedos.
Dedos espertos que tramam aventuras.
Cada gesto anterior à palavra e ao pensamento
os meus dez dedos parados sobre as teclas
já intuem, sabem, riem.
Eu sou um poeta tolo e colérico,
os meus dedos são eremitas
e a cada toque no teclado
uma estrela morre
e outra nasce.
Ah, que linda ilusão
escrever poema
com o peito
espinhoso
...
há de nascer uma flor
desta voz abafada.
desde o tempo em que nasciam batatinhas
esparramadas pelo chão, diziam meus inimigos.
Sempre me comportei como tal
mas a minha ira também assusta.
Eu assumo minha tolice
e a bestial cólera
que me prende
e sufoca.
Eu não apenas assumo como canto
assoprando flautas doces e clarins.
Agora mesmo racha-me a cabeça
um raio digno de um tolo
e furioso poeta.
Não há motivos aparentes
que o mundo saiba antes
dos versos suspensos.
Se tivesse na mão um objeto cortante
uma caneta bico de bronze
não demoraria o sangue
a sujar-me o bermudão.
O que tenho nas duas mãos são dedos.
Dedos espertos que tramam aventuras.
Cada gesto anterior à palavra e ao pensamento
os meus dez dedos parados sobre as teclas
já intuem, sabem, riem.
Eu sou um poeta tolo e colérico,
os meus dedos são eremitas
e a cada toque no teclado
uma estrela morre
e outra nasce.
Ah, que linda ilusão
escrever poema
com o peito
espinhoso
...
há de nascer uma flor
desta voz abafada.
sábado, 11 de fevereiro de 2012
dois velhinhos sacanas
Viverei até os oitenta anos.
Não se trata de presságio
ou sandice.
É que gostei desse número.
Dessa imagem simbólica.
Simples assim, diria
Pitágoras.
Até lá hei de colher meus gravetos em pântanos sombrios
como também em coloridas florestas de esquilos.
Terei bem de tardinha quando o sol esfriar
o que lançar às calçadas: versos tortos,
poemas apagados, palavrinhas ainda
bebês.
Os meus olhos estarão claros.
O meu sorriso franco.
Não sei o que você terá lançado sobre as calçadas
quando o sol estiver frio, talvez moedas de ouro.
Sei que você igual a mim morrerá aos oitenta anos.
Suas mãos gordas e peludas não verei seu sangue.
Ouvirei decerto seu escárnio das minhas memórias.
Dos meus gravetos colhidos em pântanos sinistros
como em florestas aprazíveis.
Terei a meu favor a mágica da textura do bambu
e ao tenro toque reconhecerei qual o poema
mais louco e qual o mais dócil.
E você com todas as moedas de ouro
espalhadas nas calçadas o que revelará?
As mulheres estarão aos seus pés.
E você ditoso de tanto rir das minhas ilusões
e de tanto alegrar-se da sua volúpia
não perceberá que as suas mulheres
são demônios de saia
e perfume.
Enquanto as minhas mulheres somente terei em versos.
Pois cada uma terá envelhecido e morrido antes de mim.
E serão todas santinhas no céu.
Não lembrarei delas da dor terrível no peito
pelo que me fizeram sofrer durante quase um século.
Engraçado é que fecharemos os olhos
ao mesmo tempo, minuto e delírio.
Eu não morrerei feliz porque gravetos
guardados dentro dos bolsos do paletó
incomodam quando se dorme
para sempre.
Imagino você com tantas moedas de ouro.
Não se trata de presságio
ou sandice.
É que gostei desse número.
Dessa imagem simbólica.
Simples assim, diria
Pitágoras.
Até lá hei de colher meus gravetos em pântanos sombrios
como também em coloridas florestas de esquilos.
Terei bem de tardinha quando o sol esfriar
o que lançar às calçadas: versos tortos,
poemas apagados, palavrinhas ainda
bebês.
Os meus olhos estarão claros.
O meu sorriso franco.
Não sei o que você terá lançado sobre as calçadas
quando o sol estiver frio, talvez moedas de ouro.
Sei que você igual a mim morrerá aos oitenta anos.
Suas mãos gordas e peludas não verei seu sangue.
Ouvirei decerto seu escárnio das minhas memórias.
Dos meus gravetos colhidos em pântanos sinistros
como em florestas aprazíveis.
Terei a meu favor a mágica da textura do bambu
e ao tenro toque reconhecerei qual o poema
mais louco e qual o mais dócil.
E você com todas as moedas de ouro
espalhadas nas calçadas o que revelará?
As mulheres estarão aos seus pés.
E você ditoso de tanto rir das minhas ilusões
e de tanto alegrar-se da sua volúpia
não perceberá que as suas mulheres
são demônios de saia
e perfume.
Enquanto as minhas mulheres somente terei em versos.
Pois cada uma terá envelhecido e morrido antes de mim.
E serão todas santinhas no céu.
Não lembrarei delas da dor terrível no peito
pelo que me fizeram sofrer durante quase um século.
Engraçado é que fecharemos os olhos
ao mesmo tempo, minuto e delírio.
Eu não morrerei feliz porque gravetos
guardados dentro dos bolsos do paletó
incomodam quando se dorme
para sempre.
Imagino você com tantas moedas de ouro.
tumulto
Não pouparei sangue dos dedos
até que seja escrito o último verso.
Não me venhas então com candura
sossego de espírito e calmaria no andar.
Meu coração é tão somente artérias
entupidas de delírios e estupidez.
Não me peças então paciência
placidez e olhar cristalino.
Minha alma é puro ciúme
do invisível que lambe
do inexprimível
que toca.
Não pouparei cálices de lágrimas
até que seja lançado ao fogo
o último verso.
Porque nunca fui calmo e consciente
e todo o meu pavor é reduzido à loucura.
Meus braços não temem as ondas
nem as noites de relâmpagos
que me queimam.
Não me digas então
que amanhã será outro dia.
Não há mudança no sangue das veias
de quem conviveu com a própria morte.
E esta dor é morte -
infame, deliciosa,
mas morte.
até que seja escrito o último verso.
Não me venhas então com candura
sossego de espírito e calmaria no andar.
Meu coração é tão somente artérias
entupidas de delírios e estupidez.
Não me peças então paciência
placidez e olhar cristalino.
Minha alma é puro ciúme
do invisível que lambe
do inexprimível
que toca.
Não pouparei cálices de lágrimas
até que seja lançado ao fogo
o último verso.
Porque nunca fui calmo e consciente
e todo o meu pavor é reduzido à loucura.
Meus braços não temem as ondas
nem as noites de relâmpagos
que me queimam.
Não me digas então
que amanhã será outro dia.
Não há mudança no sangue das veias
de quem conviveu com a própria morte.
E esta dor é morte -
infame, deliciosa,
mas morte.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
rubião entristecido
Dá-me água fresca
não para matar-me a sede
mas para lavar meus olhos.
Bons tempos aqueles em que moinhos
eram fantásticos gigantes de mil tentáculos
e a prostituta da taberna minha querida amada.
Bateu sobre meus ombros o fardo das estrelas
entediadas de tanto brilho sem que ninguém
possa salvá-las do passado.
Dá-me água fresca,
lava-me o rosto com teus cílios.
Devolve-me os olhos de outrora
do viajante jamais do eremita.
Pois este não sabe cuidar
da sua própria casa.
Dá-me água fresca,
lava e beija meus olhos
diz-me adeus e acompanha-me.
Minha cabana é logo adiante
seguindo o chiclete das minhas botas.
não para matar-me a sede
mas para lavar meus olhos.
Bons tempos aqueles em que moinhos
eram fantásticos gigantes de mil tentáculos
e a prostituta da taberna minha querida amada.
Bateu sobre meus ombros o fardo das estrelas
entediadas de tanto brilho sem que ninguém
possa salvá-las do passado.
Dá-me água fresca,
lava-me o rosto com teus cílios.
Devolve-me os olhos de outrora
do viajante jamais do eremita.
Pois este não sabe cuidar
da sua própria casa.
Dá-me água fresca,
lava e beija meus olhos
diz-me adeus e acompanha-me.
Minha cabana é logo adiante
seguindo o chiclete das minhas botas.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
espiões
Não leve tão a sério
o que lhe digo bêbado
os gestos,
os olhos
a quase vontade
de pular da varanda.
No dia seguinte não tarda
vem a andorinha à janela do banheiro
inocente,
sem a mínima ideia
do monstro que sou
a confessar-me feito um anjo
sobre coisas dos céus e das nuvens.
o que lhe digo bêbado
os gestos,
os olhos
a quase vontade
de pular da varanda.
No dia seguinte não tarda
vem a andorinha à janela do banheiro
inocente,
sem a mínima ideia
do monstro que sou
a confessar-me feito um anjo
sobre coisas dos céus e das nuvens.
borboletas de todos os dias
As borboletas não são idiotas
mas às vezes me cansam
com seus dois olhos
nas asas
vigiando-me os passos
quando vou ao jardim.
Então é hora
de afastar-me delas
com cascos de rinoceronte
para que a terra trema
e os céus ouçam.
Borboletas devem caber-se
somente em forma
de tatuagem
na nuca e tornozelo
de uma mulher.
Mas o que lhes confesso
é outro tipo de juramento
naquelas manhãs de pura solidão
onde borboletas são princesas
e também nossas meninas.
mas às vezes me cansam
com seus dois olhos
nas asas
vigiando-me os passos
quando vou ao jardim.
Então é hora
de afastar-me delas
com cascos de rinoceronte
para que a terra trema
e os céus ouçam.
Borboletas devem caber-se
somente em forma
de tatuagem
na nuca e tornozelo
de uma mulher.
Mas o que lhes confesso
é outro tipo de juramento
naquelas manhãs de pura solidão
onde borboletas são princesas
e também nossas meninas.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
lázaro e o molusco
Interessante eu nunca ter catado pedrinhas na praia
só me interessavam búzios talvez
por eu saber que um dia
dentro deles
viveram moluscos
e moluscos têm a mesma vida dos homens:
sonham com o mar dentro dos ouvidos
e temem horrorizados quando
são arrastados às falésias.
Eu fui um poeta a partir da noite
quando sozinho pela praia
colhi um búzio
e ao levá-lo
ao ouvido
não foram apenas ondas
e gracejos de cavalos-marinhos.
Eu ouvi o próprio molusco
ressuscitando a mínima parte
que lhe havia restado dentro do búzio.
E eu [que quase medo tenho de nada]
deixei que o molusco ainda meio
amputado do abdome
invadisse meu ouvido,
descesse não sei por qual via
até o meu coração e lá se plantasse
e lá se iniciasse a regeneração de cada molécula.
Sempre que estou sozinho no meu quarto
ou dentro do banheiro eu faço concha
com as mãos e não ouço ondas
ou gracejos dos cavalos-marinhos -
eu ouço claramente
os assobios do molusco
em forma de agradecimento.
Loucura minha mas é como se ele
o molusco ao qual dei vida
confessasse que eu sou
um rei, um maltrapilho
mas um rei.
só me interessavam búzios talvez
por eu saber que um dia
dentro deles
viveram moluscos
e moluscos têm a mesma vida dos homens:
sonham com o mar dentro dos ouvidos
e temem horrorizados quando
são arrastados às falésias.
Eu fui um poeta a partir da noite
quando sozinho pela praia
colhi um búzio
e ao levá-lo
ao ouvido
não foram apenas ondas
e gracejos de cavalos-marinhos.
Eu ouvi o próprio molusco
ressuscitando a mínima parte
que lhe havia restado dentro do búzio.
E eu [que quase medo tenho de nada]
deixei que o molusco ainda meio
amputado do abdome
invadisse meu ouvido,
descesse não sei por qual via
até o meu coração e lá se plantasse
e lá se iniciasse a regeneração de cada molécula.
Sempre que estou sozinho no meu quarto
ou dentro do banheiro eu faço concha
com as mãos e não ouço ondas
ou gracejos dos cavalos-marinhos -
eu ouço claramente
os assobios do molusco
em forma de agradecimento.
Loucura minha mas é como se ele
o molusco ao qual dei vida
confessasse que eu sou
um rei, um maltrapilho
mas um rei.
um homem triste que tem um tesouro
Não falemos sobre os homens tristes
que guardam nos olhos flores
das quais até abelhas
fogem apavoradas.
Embora eu seja um deles
a selar um tesouro
na cova rasa
de um túmulo antigo.
Ninguém em plena e total consciência
haveria de se interessar por esse tipo
de rubis, esmeraldas, brilhantes.
Mas eu juro que tenho, baby
trancado em um baú debaixo
de um anjo de mármore
um tesouro com todas essas pedras preciosas
e mais alguns papiros que revelam a longa vida.
Mas quem haveria de pôr ao ombro a pá
e sob uma noite de furiosa lua cheia
escavar tal tesouro?
Por isso, baby
eu sou um homem triste
largado de deus
e esquecido do demo.
Sem um pingo de amor
a derramar dos meus versos.
Mas não falemos sobre esses homens tristes
que tomam seus porres e se drogam
até o amanhecer
e a vida, baby
permanece mais cínica
e cruel com esses tristonhos.
Esqueça, baby
esses homens tristes
que carregam no rosto
uma cor parda e escamosa.
Ainda não olhei da varanda
como está a lua, decerto
deve brilhar tão silenciosa
quanto meu coração.
que guardam nos olhos flores
das quais até abelhas
fogem apavoradas.
Embora eu seja um deles
a selar um tesouro
na cova rasa
de um túmulo antigo.
Ninguém em plena e total consciência
haveria de se interessar por esse tipo
de rubis, esmeraldas, brilhantes.
Mas eu juro que tenho, baby
trancado em um baú debaixo
de um anjo de mármore
um tesouro com todas essas pedras preciosas
e mais alguns papiros que revelam a longa vida.
Mas quem haveria de pôr ao ombro a pá
e sob uma noite de furiosa lua cheia
escavar tal tesouro?
Por isso, baby
eu sou um homem triste
largado de deus
e esquecido do demo.
Sem um pingo de amor
a derramar dos meus versos.
Mas não falemos sobre esses homens tristes
que tomam seus porres e se drogam
até o amanhecer
e a vida, baby
permanece mais cínica
e cruel com esses tristonhos.
Esqueça, baby
esses homens tristes
que carregam no rosto
uma cor parda e escamosa.
Ainda não olhei da varanda
como está a lua, decerto
deve brilhar tão silenciosa
quanto meu coração.
domingo, 29 de janeiro de 2012
levitação
Minha alma só deixa meu corpo
por um motivo: coçar minhas costas.
Espreme três cravos,
dá dois beijinhos.
Em seguida retorna pra casa
onde vive sossegada
feliz com o coração
entre as costelas.
por um motivo: coçar minhas costas.
Espreme três cravos,
dá dois beijinhos.
Em seguida retorna pra casa
onde vive sossegada
feliz com o coração
entre as costelas.
pela eternidade que me sucumbe
Um poeta desatento é uma palavra
intrusa que aborta e sangra
o poema.
Depois de perdido o verso
o outro filho não alivia
o eclipse e a saudade.
São mais que versos
o que faz do poeta
um santo.
Eu, por exemplo, tenho os ombros
de São Francisco de Assis
sobre os quais passarinhos pousam,
fazem suas necessidades e cantam.
intrusa que aborta e sangra
o poema.
Depois de perdido o verso
o outro filho não alivia
o eclipse e a saudade.
São mais que versos
o que faz do poeta
um santo.
Eu, por exemplo, tenho os ombros
de São Francisco de Assis
sobre os quais passarinhos pousam,
fazem suas necessidades e cantam.
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