quarta-feira, 10 de junho de 2015

Não quebre um vaso
Na cabeça do seu amor
Só por que não gostou das flores.

Mas mande-o à pracinha
Negociar outras (e sem abelhas).

O novo jardineiro
É propenso ao suborno.

Um dia
Já dei laços
Nos seus cílios
Pra você não chorar.

Agora são os meus
Que caem nas minhas mãos.

Lembro-me daquela brincadeira mágica:
Aperto-os entre os polegares e faço um pedido.

Uma hiena não morderia
Tão forte assim, até penso
Que é algum tipo de alergia.

Caminho pela casa
Com o peito dilacerado.

E não há bálsamos,
Unguentos, hipoglós.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Imagino que você guarde entre os seios
O primeiro poema que lhe escrevi, também
Imagino aquele sutiã de renda que o prenda.

O seu coração pula,
Não fogem os versos.

Com a minha morte
Os meus travesseiros
Serão queimados, baby.

Não quero que ninguém sinta
O cheiro dos meus sonhos
E leve pra casa.

Sempre rolam lágrimas
Em jogo final.

Com o tempo de poesia
As minhas mãos criaram
Calos nos dedos e já posso

Levantar a tampa quente
Da panela de feijão
Segurando firme
Sem frescura.

(Creio que mais
Dois copos d'água
Será o suficiente)
Na minha infância
Os peixes que pescava
Viviam no topo das árvores.

Eram as folhas
De manga rosa
E manga espada.

E eu menino
Subia até o céu.

Um menino que pescava
No quintal dos seus avós.

Não é só pôr as mãos sobre o teclado
Que os dedos encontrarão o tom perfeito.

É preciso amar o piano,
Gastar as suas teclas,
Levá-lo nas costas.

As flechas que me atravessaram o corpo
Perderam a força do ódio e caíram, uma a uma,
Aos meus pés. Beije as cicatrizes e me renasça humano...

"Corta!"

(Rapaz, você é um bom ator,
Mas precisa de uma entonação trágica na voz
E aquele olhar de São Sebastião pro céu... sacou?)
A verdade é que aquelas plantinhas da varanda
Nunca me pertenceram e não sentirão minha falta.

Elas têm seus pombos
A cortejá-las e minha irmã
Para aguar-lhes os cabelos.

Estão todas mais fortes,
Altivas, brilhando de verdes.

Sequer notaram
Os meus suspiros.
Já tive meu tempo de ratos,
Baratas, escorpiões, formigas,
Lagartas-de-fogo, embuás, borboletas.

Passou.

Só não passa o tempo
De passarinhos.

O lenhador que parte
Pra floresta escura
Ou leva a fúria
Ou clareza.

Os poemas que apago
Parecem-me sempre
Dormentes.

Apáticos.
Distantes.

Como se a poesia renunciasse
Ao cargo de senhora louca
Das minhas mãos.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

Que significa século vinte e um
Para alguém que não enxerga
Com o coração?

Pessoas que guardam espinhos
Dentro dos olhos não aceitam
O próximo e a diferença.

Violentas e tristonhas
Essas pessoas sofrem.

No íntimo vivem perdidas
Sem clareza dos grilhões
Que levam aos tornozelos.

Família nasce do amor
E não de gêneros.

Amem-se.

Rir sozinho de si mesmo
É sinal de loucura e pureza.

Desde criança investigo meu olhar
Pra ver se existe alguém dentro
Do espelho.

Às vezes,
Ouvia uma voz.
Agora é uma algazarra.

Cada entidade sonha
Com a última palavra.

Você já leu o mesmo livro
Com alguém ao mesmo
Tempo?

Rostos colados,
Mãos tocando-se
Ao virar as páginas.

Cada um no seu ritmo,
Cúmplices, generosos.

Isso é prova de amor.

Não controle o tremor
Das suas pernas nem
Prenda as borboletas
Do seu estômago.

O seu Sátiro chegou
Com o cavanhaque
Grisalho e as patas
De bode a luzir.

Os moralistas são muito tristes.
(A natureza é uma criança febril)

Contanto que você
Não me abandone,
Pode levar meu
Coração.

Tenho outro
Com alguém.

"Cachorro"

Não, não, não.
Não é o que pensa.

Imagine um mestre bonsai
Cuidando dos seus afetos.

Todos os dias desperta
Com os olhos cheios
De espanto.

Encosta o nariz
Nos ramos das
Suas pequenas.

(Sabe que sua alma
Nunca será perfeita)

Assim, minha amiga,
Que escrevo poemas.

Ao poeta a eutanásia será permitida,
Desde que sejam os passarinhos
Da sua infância a desligar
Os aparelhos.

E que tragam em seus bicos
Gravetos úmidos de nanquim
Para o último poema em vida.
Tu achas que sou maluco o bastante
A ponto de me meter nos amores
Dos outros?

Cisne que ame lagarta-de-fogo.
Javali que se apaixone por andorinha.

O meu negócio é vender flores.
E cobrar uma taxa extra ao casal
Que quiser um poema no ramalhete.
Há poetas que não precisam
De uma força oculta dirigindo-lhes
Os pensamentos, as mãos e planos.

São poetas práticos, objetivos, realistas.
Nunca encontram dificuldade no cotidiano.

Trocam lâmpadas,
Escrevem matérias geniais,
Abrem garrafas de espumante,
Não esquecem o aniversário da esposa.

Outros sequer dão um passo imaginam
Que as suas pernas não lhes pertencem.

Não entendo as mulheres
Que suportam homens felizes.

Aquele sorriso de encantamento,
Perdoo se estiverem amando.

A questão é que há homens felizes
Durante toda a vida solitários ou não.

Não entendo como os passarinhos
Suportam os poetas melancólicos
Que têm a janela de frente
Pros seus ninhos.

Que mundo
Especial,
Baby.
Aquele almoço
Que lhe parece
Apático e chinfrim
Use sua imaginação:

Junte o arroz ao feijão,
Misture-os com legumes
Ainda no vapor por minutos.

O peixe tão sem graça,
Embebede-o com azeite
E fatie sobre ele uma maçã.

Eis o milagre
Do banquete.

E nem precisei
Andar sobre águas
Para ser um messias.

O poeta que em tempos atrás foi tão romântico
Hoje em dia viaja com o semblante de homem-bomba.

Manco.

Amor bonito é aquele
Marcado pelo tempo:

Rugas, cicatrizes,
O amarelo dentro
Dos olhos, riso
Distante, névoa,
Um leve tremor
Nas veias das
Mãos.

Aquele outro tipo de euforia
É apenas aguardente de trigo.
Queria um momento a sós com você:
Ouvi-la, ouvi-la, ouvi-la, falar-lhe
De alguns segredos meus,

Beijar seu pescoço,
Morder-lhe orelha,
Fazer amor.

Depois iria pra casa da minha mãe
E você pra sua. Se a saudade apertasse,
Eu lhe enviaria um vídeo meu erótico e você
Escreveria um poema romântico. Simples assim.

O meu evangelho é a poesia.
Grande coisa, responderam-me
Os passarinhos nesta manhã fria.

Seja mais convincente, meu poeta.
Sorriu minha xícara branca de café.

domingo, 7 de junho de 2015

Só você sabe
Quando tagarelo
Com língua de fogo

E derrubo os insetos
Dos cantos das paredes

É que tarda meu coração
Dentro de um vespeiro
E ninguém consegue

Com as mãos trêmulas
De viciado em sétimo dia
Parar os cavalos selvagens.

Um brinde à falência
Múltipla dos órgãos.
A silhueta de um ancião
Sob a penumbra da janela
De um quarto soturno assusta
As andorinhas da minha calçada.

Gostaria de dizer a esse senhor
Que não vale a pena estourar
Os miolos.

Mas como pode
Um vampiro sombrio
Aconselhar outro tristonho?
Confesso que ao apagar
Um poema de amor
Longo e inútil

Sinto-me no céu
(Febre nos pulmões)

Ares de tolice
Pesam mais
Que a vida.

As unhas que caem
Não doem, meu bem.
Dizem que não é o poeta
Que encontra a poesia,

Mas a poesia
Que escolhe
O poeta.

No meu caso,
Corri atrás dela

Segurando-lhe o rabo de elefante
E as antenas de formiga diabética.

Exausta,
A poesia
Olhou-me:

"Tu és louco,
Serve-me."

Quantas vezes, meu deus,
Já fiz café nesta minha vida.

Se tivesse contado,
Eu e minha cafeteira
Não nos amaríamos
De forma tão pura.

A cada xícara
Selamos o amor.
Minha cabeça explodirá
Mas o meu coração
Está salvo.

Rejeito panaceias
Que me tragam
Sossego.

Rejeito os livros sagrados.
Rejeito amores furtivos.
Rejeito o absinto
De Epicuro.

Quebro as minhas costelas, piso-as:
Há um efeito sagrado neste meu drama.
Meu filho, ultrapasse o corredor escuro
Do casarão de seus avós e só dê ouvidos
À sua sombra. Junte sua coragem ao alforje,
Prenda na crina do seu cavalo, cavalgue, conquiste
Mundos, enfrente demônios, dragões, moinhos e não
Acredite que Sancho Pança quem cuidava de Dom Quixote.

Era o Cavaleiro da Triste Figura
Que iluminava a vida do seu vassalo.

A poesia é mais bela, meu filho,
Com o sol atravessando brumas.
Por alimentar o desejo
De ainda tê-la na minha cama
Conservo seus chinelos do jeito
Que você deixou debaixo da mesa:

Um sobre o outro,
Navios naufragando.
Se as palavras tivessem tanto poder
O poeta seria majestade e mandava
À forca os caretas cínicos e libertava
As bruxas do calabouço sombrio, mas

O que pressinto é que a cada poema escrito
O poeta se perde dentro dos próprios sapatos.

Os sapatos de Drummond
Eram uma coisa, uma coisa.
E poucos pensam naqueles
Que detestam os crédulos,
Os fiéis, os bons e justos.

Detestam, mas convivem
Sem pensar em estrangulá-los.

Pensar até pode.

E poucos compreendem aqueles
Que não sonham em salvar a alma.

Nem por isso vivem ao lado
Dos tolos demoníacos e ávidos.

Esses tristes, esses vazios,
Esses homens de péssima vontade,
Apenas ficam em seus cantos melancólicos.

Lendo um livro
E acarinhando
Um bichano.

Felizes.

sábado, 6 de junho de 2015

Deixei pra trás o último fantasma.
Um bêbado de antepassado que vivia
Seguindo-me os passos sobre meus ombros.

O poeta não julga
As suas ações.

Mas no fundo sabe
Da loucura do vinho.

Não me sinto forte
Por haver sumido
Com o corpo.

Não me iludo.
Sei que há
Outros.

Meus ombros são largos
E onde pousam passarinhos
Também caem auras de parentes
Distantes perdidos que só querem diversão.

Muita coragem bater o sino de bronze
Dentro de um mosteiro enquanto
Luzes piscam lá fora.
No dia em que uma gaivota
Morrer engasgada com uma
Espinha de peixe atravessada

Não ouvirei este coração
Que rejeita o rum e as
Cartas de baralho

Mas não esquece
As palavras e cria
Fórmulas alquímicas

Misturando carne e espírito
Só pra dizer de que são compostas
Estas mãos que nunca foram minhas.

Não me perdoe
Pela poesia.

Tu me perdeste
Por ouvir as tuas amigas
Agora para ter companhia
Terás que ouvir os oráculos.

Todos loucos no alto da colina
Jogarão búzios de estrelas

E negarão à tua alma
Uma nova chance
De morte.

A serpente não me mostrou o inferno.
Ao contrário, presenteou-me o paraíso.

Ela, o réptil bíblico e sensual,
Que ensinou ao solitário poeta

Com chantili
E chocolate
Na língua

As mulheres felizes
Jamais esqueceriam.

Só não revelou
(Por maldade
Ou distração)

Que um dia
Haveria saudade
Loucura e poemas.

E sob essas horas
Que a virtuosa serpente
(Réptil bíblico e sensual)

Escorrega pelos arbustos e cerejeiras
À espera do peito triste do sonhador.
Ontem não dormi
E achei curioso

Da minha janela
Um gatinho amarelo

Atravessando a rua
Repetidas vezes

Como se seguisse
O seu fantasma.

De madrugada,
Um pombo cinza
Que surgiu

Bicando insetos
Do meio-fio

E bebendo
Água de chuva.

Imagina meu rosto
De encanto e tédio.
E foi tão lânguido
E foi tão fino o pio

Que não mais parecia
Um corvo com toda
A sua maldição.

O frio afugentava as muriçocas,
Mas partia os meus ossos.

E era tão doce o blues
Que o poeta cantava
Em sonhos.

Aurora é um segredo
Quase passional
Do teu deus.


Durante toda a minha vida
Não me lembro de ter existido
Fora de mim mesmo: Não sou
O morador, sou a própria casa.

A casca do ovo,
O núcleo da gema.

Quando vi vocês
Com seus martelos
E ferramentas pensei

Epa, vão me tirar à força
Da minha cabeça, sabe naquela
Noite alguém entrou e era você
Tão linda com seu vestido de peles.

Uma ave de ribanceira,
Uma codorna ferida.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Pois o que passa
O que de mim foge
Tem gosto de corpo.

Mordidas
E marcas.

As maçãs
Apodrecem
De outra forma.

Não levam a sério
O éter, a dor de dente.
Ao morrer
Não levarei
O meu corpo
Nem a poesia.

Ambos
São arranjos
Para adornar
O teu coração.

Ainda me banho
Com espumas
Das tuas
Costas.

Vi um passarinho
Quebrar as patas
De um gafanhoto

E com lentidão
Bicar os olhos
Do inseto.

Gritaram-me aos ouvidos
Que havia um demônio
Dentro do coração
Do passarinho.

Tolice, filho,
É só a natureza
Bebendo mais um drinque.
Bolo com café
Olhar triste
À janela.

Moças que passam pela calçada
Sabem do meu estado apocalíptico.

Nem olham pra
Dizer coitado.

A minha doçura
(Imprevisível)
Assusta.
O meu contentamento
(Nunca houve outro)
É o ruído da corda

Em volta
Do pescoço.

Parece-me
Que mataremos
Um rato que não soube
Roubar com elegância um beijo.

Desde cedo compreendi a farsa
Dos sorrisos fáceis e perigosos.

E não levei adiante
Tal descoberta como arma,
Tatuagem no peito, um brasão.

Subi às estrelas escuras
Partilhando a poesia.
O único propósito é não entregar os pontos do peito.
Permitir ao meu coração todo o meu tragável inferno.
Sequer uma mísera ponta de dúvida da minha solidão.

Já pedi esmolas
Aos loucos.

Eis a hora
Dos amores.