sábado, 24 de outubro de 2015

O poder do delírio

"Pecaminoso, carnal, distraído, mas com o coração cheio de amor." A frase que usei para flertar uma dama. "Fútil." Respondeu-me a senhora com o dedo entre as páginas 19 e 20 de Stendhal. "Desculpe, mas não sou fútil." Retruquei. A dama suspendeu os óculos sem tocá-los. "Não me referi a você, estranho. Digo que esse cara que escreveu esse livro é um fútil." Espantei-me. "Stendhal?!" A moça levantou-se. Encaixou o livro entre outros na estante da biblioteca da UFSC e perguntou-me séria. "Vamos cair fora desse lugar e fazer sexo lá em casa?" "Libidinosa e maluquinha..." Sorri. Assim que chegamos, a dama acendeu um cachimbo de ópio e me confessou que era sacerdotisa. "Não ligo." Beijava-lhe as coxas. "Tem certeza que não se importa?" Sussurrava a dama. "Sim, meu doce... claro..." As suas pernas mudaram de forma. E o que eram pés passaram a nadadeiras. E os braços asas. Uma entidade naquela hora era muito azar. A mulher era sacerdotisa. Vesti-me e voltei pra biblioteca da UFSC. É batata sempre encontrarmos por lá jovens deslumbrantes. Sacerdotisas e entidades também.

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