sábado, 24 de outubro de 2015

A maçã

O tesouro de Jackeline era a sua bunda. Uma dádiva da natureza. Descrevê-la? Impossível, meu filho. Nem mesmo os artistas do submundo parisiense conseguiriam uma imagem visível e palpável daquele monumento de bunda. Uma coisa fabulosa, mágica, estonteante. E Jacke, desde adolescente, fazia um imenso sucesso no colégio, shopping, pracinha e até na missa quando Jacke caminhava na fila da comunhão. Era um pecado a bunda de Jacke. Os niños morriam de amor pela bunda de Jacke e venderiam serenos suas almas. As amigas de Jacke e as inimigas de Jacke viviam com edema de glote de tanto ciúme. Jacke não teve filhos para não desfigurar a sua bunda. Tinha medo que virasse geleia o seu tesouro. E muitas portas abriram-se para Jacke, ou melhor, para o seu encanto de bunda. Aos cinquenta e três anos Jacke cuida muito bem do seu prêmio divino. Malha, faz dieta especial, não passa muito tempo sentada [que é pra não achatar a forma celestial da sua bunda], caminha na pracinha e adora quando os cavalheiros inclinam a cabeça e levantam a cartola em respeito à sua bunda e muito mais adora quando os peões das obras gritam dos andaimes elogios descarados em honra da sua extraordinária bunda. Jacke não tem namorado. Só fãs. Um dia escrevi um poema pra Jacke, digo, pra sua bunda e recebi uma mensagem de volta. "Obrigada, poeta, "ela" adorou..." A bunda de Jacke é uma entidade à parte. E se "ela" - a bunda - gostou do poema que escrevi, sinto-me lisonjeado. Não interessa o que Jacke pensa. As suas ideias. Seu espírito. Doce e carnal é a sua bunda arrebitadinha. Quando Jacke completar a idade cruel do corpo humano em que tudo despenca, tenho medo que Jacke tente o suicídio. Motivo pelo qual, nesses últimos anos, vivo trancado no meu sótão entre fórmulas da Renascença tentando uma poção secreta para oferecer a Jacke. Seria uma heresia um dia a bunda de Jacke perdesse o seu feitiço. Já consegui algum êxito em agrupar células sintéticas sem enfraquecer a longevidade da natureza espontânea. Creio que a bunda de Jacke [sob o deleite dos pagãos] logo será uma bunda imortal.

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