21
de abril de 2014
Qual
a irmã do suspiro
Senão
a esperança?
A
desolação
É
um equívoco.
Quem
suspira guarda
Um
caminho secreto.
22
de abril de 2014
Voltei
a beber café, querida,
E
você não está por perto.
Não
vê com que sofreguidão
Eu
beijo a xícara branca.
Estiro
as pernas
Contraio
e estalo
Os
dedos dos pés.
Diria
até mais feliz
De
quando águo
As
plantinhas
Da
varanda.
22
de abril de 2014
Uma
taça de pêssegos
Antes
de escrever um poema
Torna
as palavras tão delicadas.
Aquela
tua camiseta amarela
Com
um coração de lantejoulas.
23
de abril de 2014
Ensinarei
a você andar no escuro,
É
o meu hobby.
Ponha
a mão
No
meu ombro.
Não
tenha medo de abrir a janela
Ao
canto de um pássaro fúnebre.
23
de abril de 2014
O
poeta julga os sentidos pela emoção.
E
mesmo quando escreve frio e categórico
As
lágrimas dele queimam as minhas faces.
O
poeta me tem feito
Tantas
vítimas.
Natural
que o meu peito guarde
Outro
coração para cada morte.
24
de abril de 2014
Querida,
cravar uma tesoura
Nas
costas de quem se ama
É
patético.
Aprenda
com as feiticeiras
A
espetar com alfinetes
Corações
de pano.
E
a cada furo
Cante
um blues.
24
de abril de 2014
Acaricie o meu rosto
Guie
os seus dedos
Pelos
sulcos onde
A
lágrima rolou:
Existe
aí um fértil deserto
Para
uma nova saudade.
24
de abril de 2014
O
mágico da poesia
Não
é o poema
Que
o leitor
Presta-se
A
ler.
Mas
os segundos
Que
antecedem
A
leitura:
Pegar
o livro, olhá-lo silencioso,
Indeciso
entre oferecer ou não a alma.
24
de abril de 2014
O
teu rímel de ternura
É
o que abre janelas
Pros
passarinhos.
De
nada adianta
O
cântico mais terno
Se
teus olhos estão cansados.
Não
percas tempo
Em
guardar os sonhos.
A
maravilha da quimera
É a
distância: o toque
Impenetrável.
24
de abril de 2014
Já
várias vezes
As
minhas unhas
Têm
ferido minhas mãos.
Estranho
as nossas próprias unhas
Ferirem
as nossas próprias mãos.
Como
se não houvesse
Mais
espaço nas pontas dos dedos
E
elas, as benditas unhas, quisessem voar.
24
de abril de 2014
Contemplo
os cabelos de uma mulher
Com
a particular sensibilidade
Que
admiro as asas
Dos
passarinhos.
Ultimamente
os que vêm à minha janela
Encantam-me
com suas plumagens
De
tons castanhos.
Parecem
me querer lembrar
Do
âmbar dos olhos
Dos
elefantes.
24
de abril de 2014
Trabalha,
poeta
Esforça-te
pra engravidar
As
árvores da tua calçada.
Até
hoje só idílios
Entre
os teus olhos
E
os galhos das oiticicas
Que
batem à tua vidraça
Em
noites de vento e lua.
25
de abril de 2014
O
coração após a minha morte
Não
se dará por vencido:
Em
silêncio iludirá
O
resto do corpo.
Os
dedos vão virar palitos.
As
costelas gravetos secos.
O
coração, entretanto,
À
primeira batida de pá de terra
Será
resgatado por minhas andorinhas.
25 de abril de 2014
A
sua loucura
Sem
o meu consentimento
Mostra-se
vil e ridícula tragédia.
Enquanto
você planeja cultivar a matéria
Corto
minhas unhas e me espanto
Com
a força que elas batem
Contra
as paredes.
Beije
a mão do poeta,
E
não desdenhe a solidão.
26
de abril de 2014
Graças
aos céus o meu filho
Não
se parece comigo.
Nem
o branco do olho.
Nem
com a língua de fora.
O
meu filho em comum
Tem
apenas meu suor
E o
amor
Pela
mentira.
27
de abril de 2014
Querida,
abra o olho
Que
pingo dentro
Minha
lágrima.
É
um belo colírio
Para
enxergar
A
saudade.
Depois
confesse às suas amigas
Que
você viu de perto
Meu
tormento.
27
de abril de 2014
Todo
poema escrito é um pai
Que
leva o filho à montanha
Admira
o pôr do sol
E
corta a garganta
Do
pequeno.
Voltem
ao mundo,
Crianças.
Anunciem
que o pastor de macieiras
É
uma péssima companhia pros deuses,
Ídolos
e qualquer outra forma de aberração.
27
de abril de 2014
Que
seja um truque,
Mas
antes que a bomba exploda
Abraço
o travesseiro e choro comovido.
Lembro-me
da minha infância,
Das
formigas e das estrelas.
Nessas
horas o meu coração se alegra.
Funciona
outra vez o meu ardil de covarde.
27
de abril de 2014
Nem
morto paro de escrever poemas.
Escreverei
com as suas mãos, querida,
Enquanto
você estiver triste dormindo.
Falaremos
sobre aquele tempo
Em
que você perdeu um seio
E
eu enlouqueci.
Certos
poemas têm a força
De
uma bala contra o travesseiro:
Sempre
lhe disse
Que
não era um bom lugar
Para
esconder cartas antigas.
28
de abril de 2014
Moço,
tu acreditas mesmo que o amor
Simplesmente
bateu à tua porta
Para
em seguida fugir?
As
criaturas que regem outras vidas
São
muito criteriosas em assuntos
Que
tratam da eternidade.
Teu
coração foi posto à prova
Naquela
noite em que tu
Tiveste
um derrame.
E
escolheste amar
O
desconhecido.
28
de abril de 2014
Cuido
das plantinhas
Da
minha varanda
Com
doçura.
Dói-me
o coração quando arranco
Alguns
fios dos seus cabelos.
Sou
vaidoso das minhas meninas:
Quero-as
todas verdes e viçosas
Pros
pombos que chegam
À
janela.
28
de abril de 2014
No
dia em que você aprender
A
falar a língua do caracol
E
das estrelas marinhas
Entenderá
a melancolia
Da
sua alma.
As
palavras são seres sociáveis.
Mas
o poema é solitário.
30
de abril de 2014
Em
algumas manhãs o meu canto
É
tristonho das tripas de uma rabeca.
Outros
dias ainda mais triste das vísceras
Dos
passarinhos, e diante de tanta tristeza
Noites
de floresta escura meus vagalumes
Têm
medo de sair dos potinhos de vidro
Ficam
lá dentro envelhecendo
Até
perder o brilho.
O
que se vê do alto das falésias é um mar
Ensanguentado
das cabeças cortadas
De
cavalos marinhos.
30 de abril de 2014
Se
você uma manhã acordar
Imaginando-se
a última
Mulher
do mundo:
Deixe
que eu junto as folhas da sua calçada,
Faço-lhe
as unhas, compro-lhe um batom
E
um livro de Poesia.
Sou
ótimo em ouvir uma mulher
De
boca carnuda e depressiva.
15
de maio 2014
Fim
de jornada,
Agora
o poeta
Plantará
Batatas.
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