segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ciranda

Não gosto de enlaçar o búfalo
quando o bicho está distraído
passarinhos sobre seu dorso
comendo parasitas -

gosto quando o búfalo
corre seguindo a manada
cruzando planícies e charcos.

Então é a hora - subo, aperto seu pescoço,
meto-lhe os dedos nas narinas, desabamos.

Corro o risco [e sempre acontece]
de ser pisoteado e partirem-se costelas.

Mas é prazeroso, eu e o búfalo
caídos, sujos, suados, entregues:

ele ao seu instinto natural de búfalo;
eu ao meu frenesi de peão louco.

Não gosto de balear pato
quando ele nada no lago
em círculos,

aquele ar ingênuo
beirando a santidade -

gosto quando o pato voa
atravessando céus
feito uma seta.

Então é a hora, miro seu peito,
aperto o gatilho e só vejo penas
dentro dos meus olhos.

Deleite maior é pegar o seu corpo na água
ressuscitá-lo com um canudinho de bambu.

Os patos nunca morrem quando a bala é rolha de vinho.
Há uma certa cumplicidade no oxigênio que assopro
e no seu suspiro depois do desmaio.

Não gosto de pisar formigas
quando no chão comem migalhas.

Sinto-me feliz quando elas
sobem pelas paredes
chegando ao teto.

Dou um salto de Bruce Lee
e quebro as pernas de três.

Mas todos sabem -
botas de visionário
não machucam  formigas.

Ao contrário, quanto mais pisões
multiplicam-se abdome e antenas.

3 comentários:

  1. Amei esses versos, do homem pleno sem covardia. Um abraço, Yayá.

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  2. meu zeus, me espanta tanta inspiração!

    leio e releio, fico aqui babando...

    beijo, bruxão*

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  3. Versos com teores de loucura e surrealismo como os de qualquer bom poeta. Siga meu conselho: vá ao médico e peça um medicamento para nunca perder esse belo tom de insanidade poética,
    Ótimo poema, caro amigo virtual! Parabéns!

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