Meu coração é o mesmo de sempre.
Sem um centímetro a mais de artéria
nem uma gota de sangue à toa.
Nada de multiplicidade, sombras, fantasmas,
mudas de pele entre rochas e gravetos.
Eu nunca fui outros.
Eu nunca cruzei pontes
e fiz fogo em outras margens.
Sempre, sempre, sempre os mesmos olhos
e os mesmos passos dentro da minha alma.
A minha alma é palpável.
Muito mais vertiginosa
que o tecido do corpo.
Desde criança quando os versos eram escritos
sem mãos e sem palavras naquelas tardes inteiras
no jardim, quintal, cozinha, salas, quarto, calçadas
esquecendo de comer e de beber
temia ser o que sou hoje.
E eu escrevia versos
em silêncio e no olhar.
Coisa alguma mudou em minha volta.
As coisas são as mesmas coisas.
Os ancestrais são os mesmos.
Nenhum pavor diferente
nem cor estranha
de arco-íris.
A minha alma não cresceu, não estreitou,
não chegou a verdades nem desvendou
o segredo do suspiro.
Ainda que sem mãos e sem palavras
minha alma se vale do vácuo
do pacote de café aberto.
Fecho os olhos ao ser atingido
e outras coisas revelam-se.
A alma, no entanto, é a mesma.
A minha alma é a mesma.
Sem um centímetro a mais de artéria
nem uma gota de sangue sem destino.
" a minha alma é a mesma"...isso é muito bonito....tbm acho q a alma não envelhece
ResponderExcluirMisteriosa vida essa nossa, que os anos passam e nós mudamos sem mudar. Mudamos enquanto somos os mesmos.
ResponderExcluirLindo poema.
Abraço em ti.
"E eu escrevia versos
ResponderExcluirem silêncio e no olhar."
Saudade desse tempo...
Beijinho com admiração, poeta dos dias!
dou fé e assino,
ResponderExcluirabraço
Quando a essência permanece o que mudam são as coisas da matéria, porque alma e coração perecem... quando não apenas evoluem.
ResponderExcluirLindo poema!
Um abraço
Sempre mudando e sempre iguais...
ResponderExcluirParadoxos de viver.
Bonito poema.
bj
Rossana
Poema lindo...
ResponderExcluirBjos!