sábado, 6 de agosto de 2011

a densa quimera

Eu sou um rato e os ratos não amam:
copulam dentro das suas tocas
em meio a queijos e vinhos.

Diga-me o que é o amor.
Antes que eu gaste todos os centavos
e me drogue até a alma e morra debaixo da ponte.

Os ratos como eu gostam de amanhecer
com o rosto na lama e um buraco no peito.

Não me venha com suspiros
e piedade dos meus olhos fundos.

É que dentro deles não existe um rio.
Mas um mar de salina e areia cortante.

Eu que fiz a minha toca e plantei as migalhas.
Eu que elevei a solidão ao posto de destaque
entre meus objetos e os meus delírios.

Diga-me o que é o amor.
Antes que eu vista meu jeans surrado
e bata a porta com força contra minhas formiguinhas.

(elas sempre me acompanham
embora ultimamente eu tenha matado
centenas delas) .

Diga-me o que é o amor.
Sou um rato mas ouço bem.

Não julgo os pesares das borboletas
tampouco das andorinhas.

A minha selva é vasta, sombria,
mas vejo que há cores
no jardim vizinho.

Diga-me o que é o amor.
Diga-me sem apelos.

Sem fúria
e sem que imagine
sê-lo maior que outros.

Diga-me o que é o amor.
Por favor, sem palavras.

Sem versos
e sem música.

Sou um rato e como tal é muito difícil,
diria até, impossível me enganarem.

Sou um rato e tenho um faro apurado.
Sinto que você está usando aquele perfume.

Não me responsabilizo pela mordida na sua nuca.
Esqueça. Não me diga coisa alguma.
Adentre na minha toca.

Sirva-se do meu queijo
e sirva-se do meu vinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário