terça-feira, 23 de agosto de 2011

relance

Consigo te ver por dentro.
Embora teu perfume
seja enlouquecedor
porque é breve.

E tenho que me segurar por fora
(portão, árvore)

para que teu perfume
não me estrague a vista.

Há dentro de ti uma casa
com janelas fechadas.

Nunca te disse
que me basta
uma lágrima.

A minha lágrima
contra a tua vidraça
amolece todas as trancas.

Também nunca te disse
que é inútil lágrima

quando as janelas
já foram levadas
pelo vento.

Alguém nos dirá um dia:
"no alto da montanha
o vento não existe
e quem ama vive
dentro das tocas
do abismo"

Enquanto esse dia não chega
continuo te vendo por dentro.

E o teu perfume
é bárbaro.

8 comentários:

  1. Um poema belíssimo! Um abraço, Yayá.

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  2. Me faz crer que só um bruxo como você consegue ver o que ninguém enxerga...

    Que poder, heim!

    Beijos, benigno.

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  3. Fantástico.

    Um dia eu chego a escrever assim.

    Abração.
    Mima.

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  4. caro amigo,
    há aromas que enlouquecem, por dentro e por fora... não creio, todavia, em tudo o que dizem, especialmente se vozes anónimas apregoando que "no alto da montanha o vento não existe e quem ama vive dentro das tocas do abismo". as lágrimas a bater na vidraça são capazes de acender o vento e de despertar até os mortos.
    abraço em olores de percepções infinitas!

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  5. que se abra uma porta nessa casa, um brecha no cimento, uma fenda na pedra
    todos guardamos um casa em nós
    abraço
    LauraAlberto

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  6. Que lirismo!

    Beijinho sempre encantado, poeta dos dias!

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