segunda-feira, 20 de junho de 2011

riso

ri enquanto o mundo
tenta te conduzir
ao desespero
da posse alheia,

ri pois não tem jeito
o osso que morde a carne
a carne que modifica o espírito,

ri não da comédia
mas do pranto e da farsa

do vazio absurdo de todos os dias
das mulheres distantes de todos os sonhos,

ri, meu camarada, ri com o máximo de desdém
que ainda sobra na tua mente e se foge a mente,

ri da fuga dos teus pobres neurônios apagados,
cinzas, decrépitos, perdidos a cada fumaça

ri dos amigos que riem da tua loucura,
ri dos teus amores que te preparam
o cálice da solidão

ri da paciência que te perturba,
ri da maternidade que te protege

mas não rias da tua insignificante vida
cujo imenso tesouro é uma sílaba
é uma palavra, é um verso
é um poema,

ri, amigo, ri da tua sorte
das tuas noites afamadas
da tua ânsia e do teu vinho

mas não rias do fim,
do tropeço e da morte

pois sempre há mais mortes que supomos
e mais tropeços adiante e todo fim
é um esplêndido começo

uma alegria infinda
que ora se conserva
no que chamamos alma

e depois ferve na pele
causando torpor
e mais risos

ri, amigo,
sobretudo do teu anjo
que rejeitou a vida de outro
para te embalar em noites confusas

e nunca pensou duas vezes
em te defender de ti mesmo.

11 comentários:

  1. Uau...posso ficar só nisso?
    Bjo imenso!

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  2. Um poema que causa espanto, Domingos. Tive a sensação de me deparar com um "Versos Íntimos" novinho em folha, dos nossos dias.

    Esse final com o anjo é incrível!

    Um grande abraço.

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  3. magnifico!!!!!...
    ... este teu escrever "de um riso..."

    caminhou em passo lento, triste mas decidido, convicto desde a caverna mais escondida das tuas entranhas!

    amei, por ser uma verdade.
    um poema belíssimo [como aliás é teu hábito].

    beijo.

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  4. Sei bem como é esse riso nervoso.

    Beijo.

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  5. Ah, e formidável poema.

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  6. Pela Luz poética, Domingos...

    Fenomenal,teu riso... me emociomou demais!

    Beijinho de gratidão, poeta dos dias!

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  7. Estremeci e me emocionei mto.
    Tua alma estava à flor da pele no dia em que fez este poema.
    De qq mdo, adoro ler vc.
    Um grande beijo e minhas saudades.

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  8. Gostei do poema, pensei em John Travolta vestido de anjo. Demais! Um abraço, Yayá.

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  9. ...Ri da própria loucura que no escuro da mente não sabe se é de verdade ou mentira...
    Íris Pereira

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  10. agora você quase me cala... por essa e outras és um dos meus poetas prediletos.

    te admiro muito, meu bruxo!

    beijo em ti.

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  11. Por vezes rir de nós próprios tem um efeito de cartase, é uma arma para resistir.

    Um beijo

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