Por favor e misericórdia,
não me diga nenhum poema
nem pegue minha mão e escreva.
Faça-se cego e me cegue também.
Dê as costas ao jardim do prédio
e das praças.
Não me traga suas flores
e as pontas de cigarro.
Chega de versos, seu moço.
Desmonte o relógio da cozinha.
Dentro do engenho
há uma mosca morta.
E ninguém sabe dessa proeza.
A mosca morreu marcando o tempo.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
além dos nossos ossos e da nossa carne
Como acreditar em sonhos
se os meus são tortos e ralos.
Quanta diferença dos sonhos do meu tataravô
que bebia e fumava uma parada lisérgica
para vislumbrar se haveria boa colheita
ou para descobrir onde estava escondida
sua filha caçula depois que um estrangeiro
um estrangeiro sem escrúpulo a desvirginara.
Os antibióticos que bebo são uma tolice.
Não me causam visões e não me dão o dom da profecia.
Sequer consigo desvendar o mistério do desaparecimento
das minhas formigas que outrora eram multidões
de carnavais fora de época.
Já fiz vários testes a jogar pela casa
migalhas de pão e bolacha, colheres
sujas de doce de leite, taças de vinho.
Elas não aparecem.
Terei de apelar pro baú antigo.
Pros artefatos e substâncias místicos do baú antigo
cujo zelo meu avô confiou-me naquela tarde de sua morte.
Nunca vi de perto o que há de fato dentro do baú antigo.
Lembro-me, no entanto, das rugas na testa do meu avô
e da sua voz de oráculo sussurrando coisas
ao meu ouvido antes de morrer.
O que um poeta apaixonado por suas formigas não faz.
Pedirei licença a meu avô, bisavô e tataravô e logo
que caia a tarde pela sombra da janela do banheiro
abrirei o baú antigo e beberei e fumarei
as paradas lisérgicas.
Que eu não tenha um tipo de loucura sinistra
e pense que as formigas são meus dedos
e que meus olhos são os olhos
de girassóis.
se os meus são tortos e ralos.
Quanta diferença dos sonhos do meu tataravô
que bebia e fumava uma parada lisérgica
para vislumbrar se haveria boa colheita
ou para descobrir onde estava escondida
sua filha caçula depois que um estrangeiro
um estrangeiro sem escrúpulo a desvirginara.
Os antibióticos que bebo são uma tolice.
Não me causam visões e não me dão o dom da profecia.
Sequer consigo desvendar o mistério do desaparecimento
das minhas formigas que outrora eram multidões
de carnavais fora de época.
Já fiz vários testes a jogar pela casa
migalhas de pão e bolacha, colheres
sujas de doce de leite, taças de vinho.
Elas não aparecem.
Terei de apelar pro baú antigo.
Pros artefatos e substâncias místicos do baú antigo
cujo zelo meu avô confiou-me naquela tarde de sua morte.
Nunca vi de perto o que há de fato dentro do baú antigo.
Lembro-me, no entanto, das rugas na testa do meu avô
e da sua voz de oráculo sussurrando coisas
ao meu ouvido antes de morrer.
O que um poeta apaixonado por suas formigas não faz.
Pedirei licença a meu avô, bisavô e tataravô e logo
que caia a tarde pela sombra da janela do banheiro
abrirei o baú antigo e beberei e fumarei
as paradas lisérgicas.
Que eu não tenha um tipo de loucura sinistra
e pense que as formigas são meus dedos
e que meus olhos são os olhos
de girassóis.
o riso de Neruda
Juro que se eu fosse um jardineiro
plantaria uma roseira para Deus
e outra pra ti.
Como só escrevo versos,
então, são todos teus.
Deus não dá a mínima pros poemas.
Quando falo de Deus acredite apenas na imagem.
Deus por sinal é agora uma janela aberta
e ao mesmo tempo um barulho insuportável de motocicleta.
Juro que não farei mal a mim senão através das palavras.
Mas as palavras quando são cuidadas como cuido da minha sinusite
não fazem mal nem trazem desgosto para quem as planta no jardim.
Se eu fosse um jardineiro passava horas a fio
admirando o sol que bate no muro
e faz sombra pras formigas.
Se eu fosse um jardineiro não plantaria roseiras.
Escreveria versos com os pés dentro de um riacho.
Com os pés dentro de um riacho
seria outra história: seria eu
um pescador.
E nós sabemos que todo pescador
tem um laço íntimo com Deus.
Deus ama os peixes.
Mais que aos poetas.
plantaria uma roseira para Deus
e outra pra ti.
Como só escrevo versos,
então, são todos teus.
Deus não dá a mínima pros poemas.
Quando falo de Deus acredite apenas na imagem.
Deus por sinal é agora uma janela aberta
e ao mesmo tempo um barulho insuportável de motocicleta.
Juro que não farei mal a mim senão através das palavras.
Mas as palavras quando são cuidadas como cuido da minha sinusite
não fazem mal nem trazem desgosto para quem as planta no jardim.
Se eu fosse um jardineiro passava horas a fio
admirando o sol que bate no muro
e faz sombra pras formigas.
Se eu fosse um jardineiro não plantaria roseiras.
Escreveria versos com os pés dentro de um riacho.
Com os pés dentro de um riacho
seria outra história: seria eu
um pescador.
E nós sabemos que todo pescador
tem um laço íntimo com Deus.
Deus ama os peixes.
Mais que aos poetas.
terça-feira, 24 de julho de 2012
o êxodo dos microorganismos
Meu corpo não se defende dos sinais da velhice.
Meus olhos sabem que a visão momentânea é triste.
Penso que serei nada quando a morte bater no meu ombro.
Não direi coisa alguma nem ai nem ui creio que ficarei em silêncio.
Talvez uma tosse.
Os versos não serão os mesmos sem a presença do poeta.
Difícil acreditar que morrerei um dia depois de tantos versos.
Nada levarei nenhuma palavra.
A palavra é dos vivos.
Penso seriamente que a morte ao bater no meu ombro
ainda me dará uma chance para que eu fuja, fuja, fuja.
Para onde se meu quarto não é meu
e se meus objetos sonham com minha morte.
Minha xícara já me deu adeus.
Ganhei um novo par de botas.
As antigas apesar de loucas
mantêm uma seriedade de santa.
O poeta após escrever seus versos
não tem nenhum poder sobre eles,
dizem.
Eu tenho poder sobre eles.
Guardo-os em um lugar secreto.
E a morte sabe onde.
Mas ela é a minha melhor amiga.
Não estragará a surpresa.
A minha surpresa.
Meus olhos sabem que a visão momentânea é triste.
Penso que serei nada quando a morte bater no meu ombro.
Não direi coisa alguma nem ai nem ui creio que ficarei em silêncio.
Talvez uma tosse.
Os versos não serão os mesmos sem a presença do poeta.
Difícil acreditar que morrerei um dia depois de tantos versos.
Nada levarei nenhuma palavra.
A palavra é dos vivos.
Penso seriamente que a morte ao bater no meu ombro
ainda me dará uma chance para que eu fuja, fuja, fuja.
Para onde se meu quarto não é meu
e se meus objetos sonham com minha morte.
Minha xícara já me deu adeus.
Ganhei um novo par de botas.
As antigas apesar de loucas
mantêm uma seriedade de santa.
O poeta após escrever seus versos
não tem nenhum poder sobre eles,
dizem.
Eu tenho poder sobre eles.
Guardo-os em um lugar secreto.
E a morte sabe onde.
Mas ela é a minha melhor amiga.
Não estragará a surpresa.
A minha surpresa.
amoxicilina
Não digo que seja verdade o que planto no jardim
mas semente de mostarda tem sua importância
no palácio de um passarinho.
A próstata é uma glândula do tamanho de uma semente de mostarda
e vejam só que estrago ela faz quando cresce sem limite
dentro do saco.
Passarinho não tem um saco igual ao do poeta.
Por isso o passarinho mesmo na morte se sente o tal.
O passarinho tem outras glândulas.
Uma em especial se esconde
na base do seu cérebro.
O cérebro do passarinho
é igual ao do golfinho.
E vejam só que alegria eles esbanjam
quando se encontram bordados
no roupão do meu filho.
O golfinho me parece um falastrão.
Não posso esquecer entretanto
que foi ele quem me salvou
naquela noite em alto mar.
As ondas já tinham levado minhas botas.
As ondas já tinham levado as portas do meu quarto.
Mas eles, esses golfinhos falastrões,
pegaram-me pelas orelhas
e me salvaram.
Por falar do meu quarto
os cupins foram todos embora.
Gostaria de saber quem dá a ordem
para que eles comam portas e janelas.
De uma verdade eu desconfio:
As aranhas tiveram um papel importantíssimo.
Vejam só como elas estão gordas.
Gordas e felizes minhas meninas.
mas semente de mostarda tem sua importância
no palácio de um passarinho.
A próstata é uma glândula do tamanho de uma semente de mostarda
e vejam só que estrago ela faz quando cresce sem limite
dentro do saco.
Passarinho não tem um saco igual ao do poeta.
Por isso o passarinho mesmo na morte se sente o tal.
O passarinho tem outras glândulas.
Uma em especial se esconde
na base do seu cérebro.
O cérebro do passarinho
é igual ao do golfinho.
E vejam só que alegria eles esbanjam
quando se encontram bordados
no roupão do meu filho.
O golfinho me parece um falastrão.
Não posso esquecer entretanto
que foi ele quem me salvou
naquela noite em alto mar.
As ondas já tinham levado minhas botas.
As ondas já tinham levado as portas do meu quarto.
Mas eles, esses golfinhos falastrões,
pegaram-me pelas orelhas
e me salvaram.
Por falar do meu quarto
os cupins foram todos embora.
Gostaria de saber quem dá a ordem
para que eles comam portas e janelas.
De uma verdade eu desconfio:
As aranhas tiveram um papel importantíssimo.
Vejam só como elas estão gordas.
Gordas e felizes minhas meninas.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
sob tratamento
Meu reino [que não é pouca coisa]
por uma xícara de café bem quentinho.
A minha cafeteira me adora.
Nunca escondeu de mim seus suspiros.
Dentro do meu nariz há um outro nariz de tucano.
Escrevi hoje cedo que o tucano quando espirra
saem bolinhas coloridas das cores do seu bico.
Lembrei depois que o tubo de shampoo
também quando espirra joga pro alto
bolinhas coloridas.
O amor somente é importante
quando alguém vai até à cozinha
e traz pra gente uma xícara de café.
E o nariz de aborígene quando espirra
o que lança pro alto senão brincos
de javali?
Tenho três argolas do casco de javali sobre minha escrivaninha.
Também tenho alguns búzios e logo te direi, madame,
o que será da sua vida.
Para mim é muito fácil basta jogar os búzios com as argolas do casco de javali.
É um mapa espiritual que vejo diante dos meus olhos e já posso te adiantar,
madame,
que a sua vida sem mim será bem mais alegre.
Não se culpe nem pense em suicídio.
Afinal eu tenho minha cafeteira
e você seus cabelos.
por uma xícara de café bem quentinho.
A minha cafeteira me adora.
Nunca escondeu de mim seus suspiros.
Dentro do meu nariz há um outro nariz de tucano.
Escrevi hoje cedo que o tucano quando espirra
saem bolinhas coloridas das cores do seu bico.
Lembrei depois que o tubo de shampoo
também quando espirra joga pro alto
bolinhas coloridas.
O amor somente é importante
quando alguém vai até à cozinha
e traz pra gente uma xícara de café.
E o nariz de aborígene quando espirra
o que lança pro alto senão brincos
de javali?
Tenho três argolas do casco de javali sobre minha escrivaninha.
Também tenho alguns búzios e logo te direi, madame,
o que será da sua vida.
Para mim é muito fácil basta jogar os búzios com as argolas do casco de javali.
É um mapa espiritual que vejo diante dos meus olhos e já posso te adiantar,
madame,
que a sua vida sem mim será bem mais alegre.
Não se culpe nem pense em suicídio.
Afinal eu tenho minha cafeteira
e você seus cabelos.
domingo, 22 de julho de 2012
um passarinho bluseiro
Tem um passarinho de papo amarelo
na minha janela um tipo
que toca blues
e não se cansa
de assoprar sua gaita -
já lhe perguntei o porquê dessa alegria tão triste
ou dessa tristeza tão feliz e ele só me diz "bliu,
bliu, bliu"
Quisera fosse eu um cara que tocasse blues
pendurado nas janelas dos outros
antes porém de cada música
jogava o chapéu pras moedinhas.
O passarinho de papo amarelo
não me pede coisa alguma
nem caju nem alpiste.
O negócio dele e me sensibilizar
lembrar-me de que tenho
um coração mole
e uma alma mafiosa
que ora mata,
que ora morre.
na minha janela um tipo
que toca blues
e não se cansa
de assoprar sua gaita -
já lhe perguntei o porquê dessa alegria tão triste
ou dessa tristeza tão feliz e ele só me diz "bliu,
bliu, bliu"
Quisera fosse eu um cara que tocasse blues
pendurado nas janelas dos outros
antes porém de cada música
jogava o chapéu pras moedinhas.
O passarinho de papo amarelo
não me pede coisa alguma
nem caju nem alpiste.
O negócio dele e me sensibilizar
lembrar-me de que tenho
um coração mole
e uma alma mafiosa
que ora mata,
que ora morre.
sábado, 21 de julho de 2012
Zaratustra é um sujeito bacana
O que fazer com o coração do poeta
em um sábado iluminado como este.
Cheguei à conclusão que o mais correto seria
que transplantassem o coração do poeta
ao peito de um rinoceronte.
O rinoceronte passaria a voar
e colher flores com os olhos doces.
O poeta, em troca,
passaria a andar feito um homem.
Com os músculos e pisadas de um homem.
Já vi um poeta andar feito anjo,
palhaço, monge, bandido,
mas nunca um homem.
O poeta tem medo de andar igual a um homem.
Então, baby, que ande o poeta feito um rinoceronte.
Pisadas cruéis a estraçalhar o jardim.
Um silêncio de amedrontar abelhas.
em um sábado iluminado como este.
Cheguei à conclusão que o mais correto seria
que transplantassem o coração do poeta
ao peito de um rinoceronte.
O rinoceronte passaria a voar
e colher flores com os olhos doces.
O poeta, em troca,
passaria a andar feito um homem.
Com os músculos e pisadas de um homem.
Já vi um poeta andar feito anjo,
palhaço, monge, bandido,
mas nunca um homem.
O poeta tem medo de andar igual a um homem.
Então, baby, que ande o poeta feito um rinoceronte.
Pisadas cruéis a estraçalhar o jardim.
Um silêncio de amedrontar abelhas.
um bom sábado
Ah, essa vontade de saber das coisas.
Saber simplesmente do fundo do mar
o que sabem as baleias.
Em vão conversei com o profeta
sobre aqueles dias de exílio.
Tudo que Jonas me disse
é que na barriga da baleia
tinha de tudo: garrafas de uísque,
poltronas, mastros de corsários,
porcelanas, ouro e conjuntos de esmalte.
Mas nada de segredo oculto a ser revelado.
Nada de tábua sagrada ou sopro divino.
Ah, essa vontade de saber das coisas.
Saber o que sabem dos céus os pássaros.
Nem Ícaro que chegou tão perto da montanha encantada.
Tempo depois eu soube que não foi o sol seu grande inimigo.
Havia um pássaro sacana dentro da sua alma.
Certamente havia uma baleia sacana dentro da alma de Jonas.
Aliás dentro de todos os náufragos dos céus e dos mares
existe uma alma sacana plantada para nos enlouquecer.
E é loucura essa vontade de saber das coisas.
Bastaria que meus olhos se contentassem
com a roseira lilás na minha frente.
Saber simplesmente do fundo do mar
o que sabem as baleias.
Em vão conversei com o profeta
sobre aqueles dias de exílio.
Tudo que Jonas me disse
é que na barriga da baleia
tinha de tudo: garrafas de uísque,
poltronas, mastros de corsários,
porcelanas, ouro e conjuntos de esmalte.
Mas nada de segredo oculto a ser revelado.
Nada de tábua sagrada ou sopro divino.
Ah, essa vontade de saber das coisas.
Saber o que sabem dos céus os pássaros.
Nem Ícaro que chegou tão perto da montanha encantada.
Tempo depois eu soube que não foi o sol seu grande inimigo.
Havia um pássaro sacana dentro da sua alma.
Certamente havia uma baleia sacana dentro da alma de Jonas.
Aliás dentro de todos os náufragos dos céus e dos mares
existe uma alma sacana plantada para nos enlouquecer.
E é loucura essa vontade de saber das coisas.
Bastaria que meus olhos se contentassem
com a roseira lilás na minha frente.
sexta-feira, 20 de julho de 2012
telefonema
Para falar de amor tenho hoje
a meu favor uma rosa murcha.
Quem diria que há dois minutos
ela encantara uma legião de besouros.
Você sequer imagina quantas rosas murchas
eu lancei ao lixo ainda de ressaca e tão triste.
Era o corpo torto,
meu bem,
que ainda sentia
a dor do vinho.
A rosa murcha
em sua singular melancolia
não é o retrato da minha loucura.
A tristeza,
a minha pelo menos,
vem da alegria do sangue quente.
Depois,
que nunca se perca o costume,
brilha em meu peito a doçura da morte.
a meu favor uma rosa murcha.
Quem diria que há dois minutos
ela encantara uma legião de besouros.
Você sequer imagina quantas rosas murchas
eu lancei ao lixo ainda de ressaca e tão triste.
Era o corpo torto,
meu bem,
que ainda sentia
a dor do vinho.
A rosa murcha
em sua singular melancolia
não é o retrato da minha loucura.
A tristeza,
a minha pelo menos,
vem da alegria do sangue quente.
Depois,
que nunca se perca o costume,
brilha em meu peito a doçura da morte.
exercício de liberdade
Uma folha seca fazendo piruetas entra pela janela.
É um bom agouro -
preparo meus olhos e o silêncio
para os primeiros versos.
O poema tem seus truques
igual a uma velhinha que pensa
em morrer logo e nascer uma flor.
Mas a velhinha não morre
embora viva tombando
pelo jardim.
Que tem a ver folha seca
com uma velhinha moribunda
senão este ensaio de dramaticidade:
a folha seca que engana o poeta
com sua imagem repentina,
enquanto a velhinha
ilude Deus com sua morte.
É um bom agouro -
preparo meus olhos e o silêncio
para os primeiros versos.
O poema tem seus truques
igual a uma velhinha que pensa
em morrer logo e nascer uma flor.
Mas a velhinha não morre
embora viva tombando
pelo jardim.
Que tem a ver folha seca
com uma velhinha moribunda
senão este ensaio de dramaticidade:
a folha seca que engana o poeta
com sua imagem repentina,
enquanto a velhinha
ilude Deus com sua morte.
terça-feira, 17 de julho de 2012
sinos do poente
O poema se faz mesmo quando não se deseja.
A gente olha pras paredes e ele está lá.
A gente abre a geladeira
e ele continua nos seguindo.
O poema é dono de si.
O poema é senhor do poeta.
O filósofo não percebe a hora de ir ao banheiro.
O filófoso pensa que é a vontade a soberana.
Mas é o poema que dita as regras da urina.
Também é o poema que dita as regras da sede.
A gente olha pras paredes e ele está lá.
A gente abre a geladeira
e ele continua nos seguindo.
O poema é dono de si.
O poema é senhor do poeta.
O filósofo não percebe a hora de ir ao banheiro.
O filófoso pensa que é a vontade a soberana.
Mas é o poema que dita as regras da urina.
Também é o poema que dita as regras da sede.
um quase entardecer
para que tanto caminho, poeta
se tuas asas são de gergelim
e a cada passo os pássaros
comem de volta toda a trilha
diz-me, poeta
quem te seduziu primeiro
se a lucidez
ou se a tristeza
para que tantos guerreiros
se a tua grande batalha
é íntima
lá dentro, poeta
onde só tu habitas
só tu fazes o fogo
e somente tu morres de frio
diz-me, poeta
quem és tu além
desse olhar inacabado
quem és tu, poeta
juntando teus ossos
fazendo um embrulho
de tua carne
e pele
que sobra de ti
senão os versos
e os versos além desse olhar
poeta, por ordem de quem?
os pássaros já comeram tua memória
e não há como buscar aquilo
que é fumaça
tua trajetória
vem da lama
os pássaros sob chuva
não dançam e não amam
a tua alma
poeta,
ah, poeta
diz-me qual o fuzil
que não treme
nas mãos
de um louco.
se tuas asas são de gergelim
e a cada passo os pássaros
comem de volta toda a trilha
diz-me, poeta
quem te seduziu primeiro
se a lucidez
ou se a tristeza
para que tantos guerreiros
se a tua grande batalha
é íntima
lá dentro, poeta
onde só tu habitas
só tu fazes o fogo
e somente tu morres de frio
diz-me, poeta
quem és tu além
desse olhar inacabado
quem és tu, poeta
juntando teus ossos
fazendo um embrulho
de tua carne
e pele
que sobra de ti
senão os versos
e os versos além desse olhar
poeta, por ordem de quem?
os pássaros já comeram tua memória
e não há como buscar aquilo
que é fumaça
tua trajetória
vem da lama
os pássaros sob chuva
não dançam e não amam
a tua alma
poeta,
ah, poeta
diz-me qual o fuzil
que não treme
nas mãos
de um louco.
a brandura de um homem
despedi-me do mundo
sem fazer inimigos
assim como quem entra em uma casa nova
abre os braços, fecha os olhos
e sente uma energia boa
despedi-me do mundo
com os bolsos vazios
sem ouro, sem moeda
mas elegante, firme
e forte
despedi-me do mundo
correndo pelas calçadas
louco, louco, louco olhando pro céu
afinal é do céu que caem as coisas do mundo -
sementes de passarinho, folhas secas,
pipa sem rabo, raio, um pingo de chuva.
sem fazer inimigos
assim como quem entra em uma casa nova
abre os braços, fecha os olhos
e sente uma energia boa
despedi-me do mundo
com os bolsos vazios
sem ouro, sem moeda
mas elegante, firme
e forte
despedi-me do mundo
correndo pelas calçadas
louco, louco, louco olhando pro céu
afinal é do céu que caem as coisas do mundo -
sementes de passarinho, folhas secas,
pipa sem rabo, raio, um pingo de chuva.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
uma garrafa de água benta
A verdade é simples -
não tem vestes
nem faces
não há caminho
debaixo dos seus pés
nem mestres que lhe segurem a mão.
A verdade é mansa
de uma ternura louca -
se nos embriagamos
perdemos seus olhos
e se acordamos sérios
ela gargalha, ela desdenha.
A verdade é uma permanência
que enfraquece as escamas
e cria mofo nas asas
de uma serpente.
Um suspiro sem lembranças.
Uma memória vaga e ardente.
A verdade alimenta-se do tempo.
A verdade tem filhos com o tempo.
A verdade tem três filhos com o tempo.
Um perdeu-se no mundo.
O outro vive dentro
de um túmulo.
O último é dúbio
e tem os olhos
tristes.
A verdade é simples, meu filho,
tão simples que me causa espanto.
Mas não é dor o espanto
nem encanto o que ilude.
não tem vestes
nem faces
não há caminho
debaixo dos seus pés
nem mestres que lhe segurem a mão.
A verdade é mansa
de uma ternura louca -
se nos embriagamos
perdemos seus olhos
e se acordamos sérios
ela gargalha, ela desdenha.
A verdade é uma permanência
que enfraquece as escamas
e cria mofo nas asas
de uma serpente.
Um suspiro sem lembranças.
Uma memória vaga e ardente.
A verdade alimenta-se do tempo.
A verdade tem filhos com o tempo.
A verdade tem três filhos com o tempo.
Um perdeu-se no mundo.
O outro vive dentro
de um túmulo.
O último é dúbio
e tem os olhos
tristes.
A verdade é simples, meu filho,
tão simples que me causa espanto.
Mas não é dor o espanto
nem encanto o que ilude.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
quando faço a barba sangro
ou meu rosto é de seda
ou a lâmina do prestobarba
é uma guilhotina sedenta por sangue
cortei-me esqueci sei lá quantas vezes
hoje o sinal acima do lábio direito
escapou com vida, viçoso
e arrogante
lembrei que milagre
é tão natural quanto
meu sabonete com sangue
com o sangue do meu rosto
ou meu rosto é uma pele de manga-rosa
ou o prestobarba é uma peixeira afiada
afiadíssima na ponta de um seixo
um seixo alvo e liso
do rio da nossa infância.
ou a lâmina do prestobarba
é uma guilhotina sedenta por sangue
cortei-me esqueci sei lá quantas vezes
hoje o sinal acima do lábio direito
escapou com vida, viçoso
e arrogante
lembrei que milagre
é tão natural quanto
meu sabonete com sangue
com o sangue do meu rosto
ou meu rosto é uma pele de manga-rosa
ou o prestobarba é uma peixeira afiada
afiadíssima na ponta de um seixo
um seixo alvo e liso
do rio da nossa infância.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
origami e seus segredos
é para você que faço uma flor de origami
ou prefere um barquinho de papel?
no mês de julho venta tanto
a flor já abre as asas
e sonha voar
pela janela
o barquinho de papel que espere a chuva
o meio-fio correnteza e nenhum pirata
triste no convés
aprendi com um samurai
a fazer flores de origami
apenas para que em noites sombrias como esta
eu fosse até sua casa e lhe presenteasse
uma orquídea
não pense que é fácil
fazer uma orquídea
de origami.
ou prefere um barquinho de papel?
no mês de julho venta tanto
a flor já abre as asas
e sonha voar
pela janela
o barquinho de papel que espere a chuva
o meio-fio correnteza e nenhum pirata
triste no convés
aprendi com um samurai
a fazer flores de origami
apenas para que em noites sombrias como esta
eu fosse até sua casa e lhe presenteasse
uma orquídea
não pense que é fácil
fazer uma orquídea
de origami.
terça-feira, 10 de julho de 2012
coxo e caolho
Se eu encontrar dinheiro no lixo eu fico com o pacote
e se vier alguém atrás eu fujo com o coração na boca.
Não sou um bom moço e gosto de dinheiro achado no lixo.
Esbanjaria toda a grana com bebidas, mulheres e livros.
Então saibas ladrão que rouba restaurante
se eu encontrar dinheiro no lixo eu pego
e se tu vieres atrás de mim eu fujo.
Não tenho uma boa alma
meu espírito é delirante
e o meu silêncio
sacana.
e se vier alguém atrás eu fujo com o coração na boca.
Não sou um bom moço e gosto de dinheiro achado no lixo.
Esbanjaria toda a grana com bebidas, mulheres e livros.
Então saibas ladrão que rouba restaurante
se eu encontrar dinheiro no lixo eu pego
e se tu vieres atrás de mim eu fujo.
Não tenho uma boa alma
meu espírito é delirante
e o meu silêncio
sacana.
o mestre que todos nós somos
espere-me
agora me espere
a vida não é o que você pensa
a vida é o que sempre foi -
cruel com os fracos
se você for fraco
pegue suas coisas
e vá embora
sua orelha é apenas
um calo de sangue
e a sua boca
uma armadilha
espere-me
agora me espere
de madrugada as paredes
são gatos pardos
levite e beije minha face
levite e beije minha face.
agora me espere
a vida não é o que você pensa
a vida é o que sempre foi -
cruel com os fracos
se você for fraco
pegue suas coisas
e vá embora
sua orelha é apenas
um calo de sangue
e a sua boca
uma armadilha
espere-me
agora me espere
de madrugada as paredes
são gatos pardos
levite e beije minha face
levite e beije minha face.
domingo, 8 de julho de 2012
sigilo
Não abra a porta da sua casa para seu inimigo
ou questão de segundos você perderá o rumo
não saberá quem é você nem qual a alma dele.
Cruze seus braços e não desça ao abismo
sabemos que a vertigem causa deleite
a quem é na verdade um rato
e nunca foi pássaro.
Deixe-o do lado de fora.
Deixe-o morrer de sede.
Não abra a porta da sua casa para seu inimigo
ou questão de segundos à mesa da sua cozinha
você e ele alegres e bêbados
hão de marcar o dia
da sua morte.
Acredite você estará feliz
e ele com um olhar cínico
lhe dará um abraço
quebrará sua costela.
ou questão de segundos você perderá o rumo
não saberá quem é você nem qual a alma dele.
Cruze seus braços e não desça ao abismo
sabemos que a vertigem causa deleite
a quem é na verdade um rato
e nunca foi pássaro.
Deixe-o do lado de fora.
Deixe-o morrer de sede.
Não abra a porta da sua casa para seu inimigo
ou questão de segundos à mesa da sua cozinha
você e ele alegres e bêbados
hão de marcar o dia
da sua morte.
Acredite você estará feliz
e ele com um olhar cínico
lhe dará um abraço
quebrará sua costela.
sábado, 7 de julho de 2012
dizendo versos baixinho
plantei uma árvore que não tem raízes
e voa com as nuvens sem destino
disseram-me e ainda dizem
que ao sussurrar versos
aproximo-me
da loucura
mas a árvore continua sem raízes
e sem espaço definido
entre um rodopio
e um abismo
disseram-me e ainda dizem
que a minha sorte
é que a poesia
é torta
por isso meu canto engana
os que andam aduncos
por natureza
não são eles parte da árvore?
e não é a árvore somente minha?
então tudo que voa
brilhante e empoeirado
em suas folhas e no seu orvalho
é da minha vontade
e do meu delírio
que me importa se o abismo acorda
e o que foi lindo entristece
por encanto
e maldade
...
e voa com as nuvens sem destino
disseram-me e ainda dizem
que ao sussurrar versos
aproximo-me
da loucura
mas a árvore continua sem raízes
e sem espaço definido
entre um rodopio
e um abismo
disseram-me e ainda dizem
que a minha sorte
é que a poesia
é torta
por isso meu canto engana
os que andam aduncos
por natureza
não são eles parte da árvore?
e não é a árvore somente minha?
então tudo que voa
brilhante e empoeirado
em suas folhas e no seu orvalho
é da minha vontade
e do meu delírio
que me importa se o abismo acorda
e o que foi lindo entristece
por encanto
e maldade
...
domingo, 1 de julho de 2012
Ganesh
Não me lembro da última vez
em que bebi o café da manhã
na varanda balançando os pés
e piscando o olho pras plantinhas
vejam só, até assobiando
e dando pulinhos -
meu deus,
que é isso?
A primeira andorinha
que pousar no parapeito
peço-lhe que me belisque -
decerto estou doente
ou sonhando.
Agora é na cozinha
que danço um bolero
agarrado à minha xícara.
Deus,
que é isso?
Nunca fui dado
a tanto festim
assim, sóbrio
e patético.
A primeira andorinha
que pousar no meu ombro
tentarei sufocá-la com um beijo.
Mas é difícil,
ah, deus tão difícil -
as andorinhas não colaboram
e não passam batom cereja no bico.
Diga-me, deus,
como beijar essas andorinhas
de bico ainda úmido do orvalho das calçadas?
Não me lembro da última vezem que cantei uma música
olhando as paredes.
Deus,
que é isso?
Devo estar mesmo doente
ou apaixonado por meus cabelos brancos.
em que bebi o café da manhã
na varanda balançando os pés
e piscando o olho pras plantinhas
vejam só, até assobiando
e dando pulinhos -
meu deus,
que é isso?
A primeira andorinha
que pousar no parapeito
peço-lhe que me belisque -
decerto estou doente
ou sonhando.
Agora é na cozinha
que danço um bolero
agarrado à minha xícara.
Deus,
que é isso?
Nunca fui dado
a tanto festim
assim, sóbrio
e patético.
A primeira andorinha
que pousar no meu ombro
tentarei sufocá-la com um beijo.
Mas é difícil,
ah, deus tão difícil -
as andorinhas não colaboram
e não passam batom cereja no bico.
Diga-me, deus,
como beijar essas andorinhas
de bico ainda úmido do orvalho das calçadas?
Não me lembro da última vezem que cantei uma música
olhando as paredes.
Deus,
que é isso?
Devo estar mesmo doente
ou apaixonado por meus cabelos brancos.
ávido
Não me chames de amor
assim facilmente, sabemos
que as palavras têm poder
[vê lá, hein] tu podes acordar
imaginando que sou teu poeta
enquanto não passo de uma lagarta
trêmula na calçada esquivando-se
dos bicos das andorinhas.
O amor não me tolera -
é conhecido esse meu desastre.
Mas quem sabe
quem sabe,
né?
Vinde então, moças
estou só e aflito
preciso de um trago
e de outra língua.
Mas não me chames de amor
as palavras têm poder e loucura.
assim facilmente, sabemos
que as palavras têm poder
[vê lá, hein] tu podes acordar
imaginando que sou teu poeta
enquanto não passo de uma lagarta
trêmula na calçada esquivando-se
dos bicos das andorinhas.
O amor não me tolera -
é conhecido esse meu desastre.
Mas quem sabe
quem sabe,
né?
Vinde então, moças
estou só e aflito
preciso de um trago
e de outra língua.
Mas não me chames de amor
as palavras têm poder e loucura.
sábado, 30 de junho de 2012
setenta anos
O sol hoje trouxe alegria
até para meus fantasmas
que sorriem ao meu lado
pegam-me pelo braço
e enlouquecem afoitos
pela calçada
também sorrio
porque sou cínico
bem mais que eles
esses meus fantasmas
na verdade são meninos
graças a deus sem correntes
presas a calcanhares
tudo que temos
eu e eles
são asas douradas
ora lilases e brilhantes
que ontem
tarde da madrugada
roubamos do meu pégaso
coitado,
ainda esperando
das estrelas um atestado
de lealdade e concupiscência
hoje o sol acordou bacana
cheio de manha e música
meus fantasmas já estão lá
na calçada correndo atrás
dos pombos coxos
e brincando de abraçar folhas secas
antes que caiam ao chão
eu sorrio da janela
e escrevo versos
porque sou tão cínico
quanto o sol malandro
que hoje acordou estranho
mais devasso que de costume
queimando meu rosto
beijando minha nuca
saudoso
que tenho medo
dos meus fantasmas
sofrerem noutro dia
porque os fantasmas são meninos:
creem na eternidade dos bons momentos.
até para meus fantasmas
que sorriem ao meu lado
pegam-me pelo braço
e enlouquecem afoitos
pela calçada
também sorrio
porque sou cínico
bem mais que eles
esses meus fantasmas
na verdade são meninos
graças a deus sem correntes
presas a calcanhares
tudo que temos
eu e eles
são asas douradas
ora lilases e brilhantes
que ontem
tarde da madrugada
roubamos do meu pégaso
coitado,
ainda esperando
das estrelas um atestado
de lealdade e concupiscência
hoje o sol acordou bacana
cheio de manha e música
meus fantasmas já estão lá
na calçada correndo atrás
dos pombos coxos
e brincando de abraçar folhas secas
antes que caiam ao chão
eu sorrio da janela
e escrevo versos
porque sou tão cínico
quanto o sol malandro
que hoje acordou estranho
mais devasso que de costume
queimando meu rosto
beijando minha nuca
saudoso
que tenho medo
dos meus fantasmas
sofrerem noutro dia
porque os fantasmas são meninos:
creem na eternidade dos bons momentos.
terça-feira, 26 de junho de 2012
metódico
Todo passarim sabe
que o entardecer
é mui delicado:
caem monstros
das estrelas.
Portanto,
para dentro
moço de cabelos brancos.
Fuja da varanda,
beba seu café
tranquilo.
Prefira o idílio dos olhos
da mulher que não te vê.
Aqueles guardados dentro do bolso do bermudão
fizeram-te tanto bem que quase te cegaram.
Para dentro do quarto
moço de cabelos brancos.
A varanda é para donzelas e jarros tristes.
Flores alegres a gente tranca dentro da gaveta.
Parece que a varanda também é para cronista abençoado.
Sempre vem um e outro passarim a deitar-se na almofada
ou naquela cadeira dura dos meus avós.
Já para dentro
moço de cabelos brancos.
Seu tempo de devaneios
é tão simples quanto
o seu tempo
de enganos.
Acabou-se aquele tipo de engasgo
que surge com a esperança.
Volte para seu quarto
e mate seus cupins.
Eles depois de comerem as portas e as janelas
não duvide hão de comer suas botas.
São tenazes e lépidos esses cupins
do mesmo código genético
dos chineses.
Pegue o veneno
e não cheire.
É forte pra chuchu o veneno
e tão leves os cupins
com o vento.
que o entardecer
é mui delicado:
caem monstros
das estrelas.
Portanto,
para dentro
moço de cabelos brancos.
Fuja da varanda,
beba seu café
tranquilo.
Prefira o idílio dos olhos
da mulher que não te vê.
Aqueles guardados dentro do bolso do bermudão
fizeram-te tanto bem que quase te cegaram.
Para dentro do quarto
moço de cabelos brancos.
A varanda é para donzelas e jarros tristes.
Flores alegres a gente tranca dentro da gaveta.
Parece que a varanda também é para cronista abençoado.
Sempre vem um e outro passarim a deitar-se na almofada
ou naquela cadeira dura dos meus avós.
Já para dentro
moço de cabelos brancos.
Seu tempo de devaneios
é tão simples quanto
o seu tempo
de enganos.
Acabou-se aquele tipo de engasgo
que surge com a esperança.
Volte para seu quarto
e mate seus cupins.
Eles depois de comerem as portas e as janelas
não duvide hão de comer suas botas.
São tenazes e lépidos esses cupins
do mesmo código genético
dos chineses.
Pegue o veneno
e não cheire.
É forte pra chuchu o veneno
e tão leves os cupins
com o vento.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
amor não é fábula
Confesso que perdi as asas durante o mergulho
mas o bico continua úmido de pétala
e qual a flor me diga
que rejeita um pássaro trôpego
de bico encantado?
A gaita de Bob Dylan
toca agora doutro lado
passando pela montanha
logo após o último arco-íris
enquanto eu sonhava
e tu me iludias.
Juro que os teus peitos
foram mamados
com doçura
e lealdade
e ao dormir,
também te juro,
eu sabia de cada detalhe da saudade
que acordava com tua escova antiga
e os meus dentes amarelos.
Confesso que sem asas
o voo é seguro -
encostando o bico
na ponta do abismo
tiramos mel
do jardim.
Até creio que o céu
é todo abismo secreto
onde há pétalas de orquídeas
e bico molhado de pássaros trôpegos
[acreditas?]
mas o bico continua úmido de pétala
e qual a flor me diga
que rejeita um pássaro trôpego
de bico encantado?
A gaita de Bob Dylan
toca agora doutro lado
passando pela montanha
logo após o último arco-íris
enquanto eu sonhava
e tu me iludias.
Juro que os teus peitos
foram mamados
com doçura
e lealdade
e ao dormir,
também te juro,
eu sabia de cada detalhe da saudade
que acordava com tua escova antiga
e os meus dentes amarelos.
Confesso que sem asas
o voo é seguro -
encostando o bico
na ponta do abismo
tiramos mel
do jardim.
Até creio que o céu
é todo abismo secreto
onde há pétalas de orquídeas
e bico molhado de pássaros trôpegos
[acreditas?]
sexta-feira, 22 de junho de 2012
chuva
Esperava essa chuva
para enviar-lhe
meu coração -
faça bom proveito
e não esqueça:
um beijinho
em cada face
é o seu maior dengo.
Em dias de insônia
deixe-o bater seu tambor
e dançar com suas entidades.
Ele é louco mesmo
e tem muito ciúme
do puro sangue
que se derrama
com as lágrimas.
para enviar-lhe
meu coração -
faça bom proveito
e não esqueça:
um beijinho
em cada face
é o seu maior dengo.
Em dias de insônia
deixe-o bater seu tambor
e dançar com suas entidades.
Ele é louco mesmo
e tem muito ciúme
do puro sangue
que se derrama
com as lágrimas.
domingo, 8 de abril de 2012
o bufão de sorte
Para quem tem um quarto
com rachaduras nas paredes
das quais escapam coelhinhas
todas seminuas e sorridentes,
como ser triste?
Para quem tem um par de botas
que me leva a reinos encantados
onde se pode beber vinho
à vontade
e não dar bandeira na casa do rei
pegando firme a rainha,
como ser triste?
Para quem tem traças inteligentes
que adoram ler de tudo na estante
e me sussurram aos ouvidos
livros que tive preguiça
de chegar ao fim,
como ser triste?
Para quem tem vários passarinhos
que se revezam a cada manhã
e tocam Bach
deslizando gravetos nos bicos
em sensíveis movimentos,
como ser triste?
com rachaduras nas paredes
das quais escapam coelhinhas
todas seminuas e sorridentes,
como ser triste?
Para quem tem um par de botas
que me leva a reinos encantados
onde se pode beber vinho
à vontade
e não dar bandeira na casa do rei
pegando firme a rainha,
como ser triste?
Para quem tem traças inteligentes
que adoram ler de tudo na estante
e me sussurram aos ouvidos
livros que tive preguiça
de chegar ao fim,
como ser triste?
Para quem tem vários passarinhos
que se revezam a cada manhã
e tocam Bach
deslizando gravetos nos bicos
em sensíveis movimentos,
como ser triste?
quinta-feira, 5 de abril de 2012
a mulher calçada para matar
Não sou um bom moço
mas nunca deixo ao relento
inseto ferido
ao pé da porta.
Penso que poderia ser minha
aquela alma desventurada
vítima de um salto alto
no primeiro degrau
da escada.
O que me surpreende
já quase morto
é o inseto ainda ter força
para me confessar sorrindo
que morrerá
feliz -
"o salto alto da vizinha
atravessou-me o coração
qual uma chama
de donzela."
Como são tolos os insetos
e todos os homens debaixo
do salto alto
de uma mulher.
Morra, ó miserável
e não me traga
escorpiões
pela fresta
da porta.
mas nunca deixo ao relento
inseto ferido
ao pé da porta.
Penso que poderia ser minha
aquela alma desventurada
vítima de um salto alto
no primeiro degrau
da escada.
O que me surpreende
já quase morto
é o inseto ainda ter força
para me confessar sorrindo
que morrerá
feliz -
"o salto alto da vizinha
atravessou-me o coração
qual uma chama
de donzela."
Como são tolos os insetos
e todos os homens debaixo
do salto alto
de uma mulher.
Morra, ó miserável
e não me traga
escorpiões
pela fresta
da porta.
quarta-feira, 28 de março de 2012
o senhor do tempo
Não sei como
o coração pula
da caixa torácica
e caminha sozinho
pelas calçadas
chutando tampinhas
de refrigerante.
Chove muito ultimamente
e meu coração adora
essas calçadas frias
com pontas de cigarros
chicletes e sujeira de poodles.
Quem sou eu para trazê-lo de volta
ele é louco e só retorna quando
sente fome e sede
então se encaixa
entre as costelas
começa a bater seu tambor
tão confiante que dos céus
logo caem
andorinhas desprevenidas
ainda com bobes na cabeça.
o coração pula
da caixa torácica
e caminha sozinho
pelas calçadas
chutando tampinhas
de refrigerante.
Chove muito ultimamente
e meu coração adora
essas calçadas frias
com pontas de cigarros
chicletes e sujeira de poodles.
Quem sou eu para trazê-lo de volta
ele é louco e só retorna quando
sente fome e sede
então se encaixa
entre as costelas
começa a bater seu tambor
tão confiante que dos céus
logo caem
andorinhas desprevenidas
ainda com bobes na cabeça.
segunda-feira, 26 de março de 2012
química
Somos amigos,
tão amigos -
eu e esse sabor antigo
de café ao entardecer.
Nem preciso olhar pela janela
a cor do céu - é o mesmo
do primeiro dia.
E tu me perguntas,
"e os passarinhos?"
Namoram no escurinho
entre os galhos de oiticicas.
tão amigos -
eu e esse sabor antigo
de café ao entardecer.
Nem preciso olhar pela janela
a cor do céu - é o mesmo
do primeiro dia.
E tu me perguntas,
"e os passarinhos?"
Namoram no escurinho
entre os galhos de oiticicas.
tempestade
Pronto, tirei a barba
[pasmem] dessa vez
não feri o sinal
acima dos lábios;
o cabelo, entretanto, não corto,
permanecem os cachos
crespos e brancos -
pareço um louco
escrevendo cartas
dentro do olho
de um tufão.
Fantástico é que tenho
voando a meu dispor -
livros, estante, geladeira,
flores, vacas, camponesas.
Até uma chinesinha
com o olhar tão doce.
[pasmem] dessa vez
não feri o sinal
acima dos lábios;
o cabelo, entretanto, não corto,
permanecem os cachos
crespos e brancos -
pareço um louco
escrevendo cartas
dentro do olho
de um tufão.
Fantástico é que tenho
voando a meu dispor -
livros, estante, geladeira,
flores, vacas, camponesas.
Até uma chinesinha
com o olhar tão doce.
domingo, 25 de março de 2012
meu quarto é um oratório
fico imaginando seus joelhos
se alguma cicatriz, verruga
ou simplesmente
lisos e rosados -
fico imaginando
se no joelho direito
teria espaço suficiente
para escrever um poema
e no esquerdo
desenhar um coração,
beijá-lo e encostar meu rosto
abraçado
às suas pernas
...
se alguma cicatriz, verruga
ou simplesmente
lisos e rosados -
fico imaginando
se no joelho direito
teria espaço suficiente
para escrever um poema
e no esquerdo
desenhar um coração,
beijá-lo e encostar meu rosto
abraçado
às suas pernas
...
fábula pra repousar o espírito
Os deuses da poesia são três:
o Arrebatado, o Altivo
e o Justo.
Vivem a socos
e pernadas
disputando o amor
da bela princesa.
O Arrebatado sempre gagueja
em companhia da donzela.
O Altivo é um tolo esnobe
e logo entedia a distinta senhora.
O Justo até que bom moço
mas não há mulher que aprecie
tantos salmos e provérbios
em noites de lua cheia.
A princesa só não vive triste
no alto da sua torre
porque todas as noites
escala sua janela um esquilo
cujos dentões mordem
os pés da princesa
que ri e que chora
em profundo êxtase,
sobretudo quando o esquilo
sobe por sua longa perna
e beija sua virilha.
o Arrebatado, o Altivo
e o Justo.
Vivem a socos
e pernadas
disputando o amor
da bela princesa.
O Arrebatado sempre gagueja
em companhia da donzela.
O Altivo é um tolo esnobe
e logo entedia a distinta senhora.
O Justo até que bom moço
mas não há mulher que aprecie
tantos salmos e provérbios
em noites de lua cheia.
A princesa só não vive triste
no alto da sua torre
porque todas as noites
escala sua janela um esquilo
cujos dentões mordem
os pés da princesa
que ri e que chora
em profundo êxtase,
sobretudo quando o esquilo
sobe por sua longa perna
e beija sua virilha.
sábado, 24 de março de 2012
o maquiavélico
diga-me onde você malha
e venderei chocolates
na esquina
só pra ver de perto
seu olhar de repúdio
e o seu biquinho
de reprovação -
não que eu seja
um sujeito canalha
mas é que adoro sua dúvida
de roer-lhe a alma
entre
a delícia do chocolate de amêndoas
em saborosa calda de leite moça
e a sua disciplina de louca
com mil séries de glúteos.
e venderei chocolates
na esquina
só pra ver de perto
seu olhar de repúdio
e o seu biquinho
de reprovação -
não que eu seja
um sujeito canalha
mas é que adoro sua dúvida
de roer-lhe a alma
entre
a delícia do chocolate de amêndoas
em saborosa calda de leite moça
e a sua disciplina de louca
com mil séries de glúteos.
quinta-feira, 22 de março de 2012
o banquete da memória
Segundo os antigos
os pontinhos brancos
nas unhas são mentiras terríveis
desde o tempo em que crianças
eram anjos de cara lisa
e asas tortas,
então concluo
que essa nódoa branca
na unha do meu mindinho
é o meu pecado mais mortal
que já se aproxima dos céus.
os pontinhos brancos
nas unhas são mentiras terríveis
desde o tempo em que crianças
eram anjos de cara lisa
e asas tortas,
então concluo
que essa nódoa branca
na unha do meu mindinho
é o meu pecado mais mortal
que já se aproxima dos céus.
o viciado em coisas invisíveis
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
os fantasmas não gostam dessa nova vida
e tentam me seduzir com cítaras
em vez de correntes
presas a tornozelos
mas como disse,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
digo adeus aos fantasmas
deixo-os tristes pela casa
calma, calma, calma
fantasmas bebês chorões
o amanhã ainda não existe
quem sabe no último dia
eu acorde
alma penada
mas por enquanto,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
...
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
os fantasmas não gostam dessa nova vida
e tentam me seduzir com cítaras
em vez de correntes
presas a tornozelos
mas como disse,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
digo adeus aos fantasmas
deixo-os tristes pela casa
calma, calma, calma
fantasmas bebês chorões
o amanhã ainda não existe
quem sabe no último dia
eu acorde
alma penada
mas por enquanto,
agora que ando sóbrio
sem ressaca e sem delírios
penso que sou eterno
e que o mundo
é um sonho
...
quarta-feira, 21 de março de 2012
tarde nublada
veja as palmas das minhas mãos:
navios de pirata, corsários ingleses,
céus, nuvens, linha do horizonte,
uma ilha deserta, filhotes
de tartaruga fugindo
pro mar -
são palmas de mãos sonhadoras
que só fizeram da vida
apertar o próprio
sangue -
beije as minhas mãos
e ponha no seu peito
a saudade
delas
...
navios de pirata, corsários ingleses,
céus, nuvens, linha do horizonte,
uma ilha deserta, filhotes
de tartaruga fugindo
pro mar -
são palmas de mãos sonhadoras
que só fizeram da vida
apertar o próprio
sangue -
beije as minhas mãos
e ponha no seu peito
a saudade
delas
...
só quero atingir seu coração novamente
algumas horas atrás
eu falei das joaninhas
e olha só como elas rebolam
em um jardim plano
sem armadilhas
são dondocas
essas meninas
casaquinho florido
e um olhar indiferente -
parecem tanto contigo
naquele dia quando
parou a chuva
e tu recusaste
meu braço amigo
foste pisando poças
sem ao menos
um pulinho
de bailarina
...
eu falei das joaninhas
e olha só como elas rebolam
em um jardim plano
sem armadilhas
são dondocas
essas meninas
casaquinho florido
e um olhar indiferente -
parecem tanto contigo
naquele dia quando
parou a chuva
e tu recusaste
meu braço amigo
foste pisando poças
sem ao menos
um pulinho
de bailarina
...
terça-feira, 20 de março de 2012
o equinócio de uma minhoca
os meus pés estão cansados e frios
as estrelas somem com o dia longo
a tinta forte das paredes recém-pintadas
alegra-me o peito [penso em ópio e vinho]
não me levanto da cama
o sonho sempre foge
quando tenho sede
deixo-me então
assim, a garganta seca
e um sabor de peixe na boca
meu caixão ainda não está totalmente pronto
faltam os tamancos e as almofadas
do meu último pranto
...
as estrelas somem com o dia longo
a tinta forte das paredes recém-pintadas
alegra-me o peito [penso em ópio e vinho]
não me levanto da cama
o sonho sempre foge
quando tenho sede
deixo-me então
assim, a garganta seca
e um sabor de peixe na boca
meu caixão ainda não está totalmente pronto
faltam os tamancos e as almofadas
do meu último pranto
...
entrevista
fui entrevistado no blog roxo-violeta,
da poeta Tânia Regina Contreiras
leiam a entrevista clicando aqui
da poeta Tânia Regina Contreiras
leiam a entrevista clicando aqui
segunda-feira, 19 de março de 2012
o mais invisível do tátil
juro que eu não sabia
que as fadas sentem cólicas
e têm fortes dores de cabeça
imaginava como único atributo das fadas
salvar aqueles pombos loucos
que tiram os tênis
nike vermelho
e levam choques
nos fios de alta tensão
agora que sei que as fadas
choram e trincam os dentes
morrendo de dor
às vezes encabulada
por sofrer igual
a uma mulher comum
serei atento
e mais sensível -
diz-me, fada
desejas minha mão sobre teu ventre
energizando os teus hormônios
e a boa circulação sanguínea
ou preferes tão somente
meus beijos por tua nuca?
Creio que os meus beijos
hão de te arrepiar todo o corpo
e segundo as fadas superiores
corpo sob frêmitos
é um bom sinal
de cura
...
que as fadas sentem cólicas
e têm fortes dores de cabeça
imaginava como único atributo das fadas
salvar aqueles pombos loucos
que tiram os tênis
nike vermelho
e levam choques
nos fios de alta tensão
agora que sei que as fadas
choram e trincam os dentes
morrendo de dor
às vezes encabulada
por sofrer igual
a uma mulher comum
serei atento
e mais sensível -
diz-me, fada
desejas minha mão sobre teu ventre
energizando os teus hormônios
e a boa circulação sanguínea
ou preferes tão somente
meus beijos por tua nuca?
Creio que os meus beijos
hão de te arrepiar todo o corpo
e segundo as fadas superiores
corpo sob frêmitos
é um bom sinal
de cura
...
domingo, 18 de março de 2012
versos que escrevo dormindo
uma nuvem de gafanhotos
não é tão infernal
se cada inseto
traz aos dentes
uma asinha
de borboleta -
calma, os gafanhotos
apenas salvaram uma borboletinha
das corredeiras de um rio assustador
não chores,
é facil montar
afinal as borboletas
vivem sem o corpo
basta que recuperemos
os mínimos detalhes
das asas
cada ângulo
com sua cor
e teremos
para nossa alegria
até mesmo a imagem
do último voo sobre
um lindo jardim
...
não é tão infernal
se cada inseto
traz aos dentes
uma asinha
de borboleta -
calma, os gafanhotos
apenas salvaram uma borboletinha
das corredeiras de um rio assustador
não chores,
é facil montar
afinal as borboletas
vivem sem o corpo
basta que recuperemos
os mínimos detalhes
das asas
cada ângulo
com sua cor
e teremos
para nossa alegria
até mesmo a imagem
do último voo sobre
um lindo jardim
...
o carrasco
perdi a conta de quantos tubos de pasta dental
meu filho torceu o pescoço
e ainda hoje torce
o pivete tem uma especial habilidade
em tirar o chapéu branco da kolynos
ou da colgate
e sorrindo o carinha espreme
até a última lágrima
de flúor
dá-me pena ver a horrível morte
desses amigos tubos de pasta,
pescoço quebrado
e olhos revirados
de tanta dor
...
meu filho torceu o pescoço
e ainda hoje torce
o pivete tem uma especial habilidade
em tirar o chapéu branco da kolynos
ou da colgate
e sorrindo o carinha espreme
até a última lágrima
de flúor
dá-me pena ver a horrível morte
desses amigos tubos de pasta,
pescoço quebrado
e olhos revirados
de tanta dor
...
sábado, 17 de março de 2012
a unicidade do instante
Não deixo pra amanhã as cuecas de agora
pode ocorrer uma tragédia
e o pedacinho de sabão
sumir pelo cano
da pia.
Lavar cuecas com sabonete
ou amaciante fofo?
Isto não,
da última vez
vieram à janela
todos os tipos de andorinhas -
gordas, viúvas, ninfetas, loucas.
pode ocorrer uma tragédia
e o pedacinho de sabão
sumir pelo cano
da pia.
Lavar cuecas com sabonete
ou amaciante fofo?
Isto não,
da última vez
vieram à janela
todos os tipos de andorinhas -
gordas, viúvas, ninfetas, loucas.
sexta-feira, 16 de março de 2012
a tua gargalhada
se me perguntassem o que levaria a uma ilha deserta,
a tua gargalhada, claro
seria uma festa - eu, os golfinhos
e uma turma de peixinhos malandros
bebendo água de coco
e nos deliciando
com tua gargalhada boa
com tua gargalhada
doutro mundo
os reis quando esperam a visita de um príncipe
não são trombetas que tocam os arautos
mas tiram da túnica uma caixinha
e ao abri-la,
eis a tua gargalhada
a invadir salão,
masmorra,
cozinha
chega até aos ouvidos
dos cocheiros
que entram em transe
e acabam bebendo
todo o vinho
recém chegado
de Portugal
a tua gargalhada
tem esse poder
louco
se me perguntassem se não queria
levar para a ilha deserta
também teu corpo,
boca,
seios
e coxas
diria que não,
que a tua gargalhada
seria suficiente para meu encanto
a tua gargalhada
[não fiques com ciúme]
iria trazer à praia
tantas sereias,
tu nem imaginas quantas
do mar báltico
dormiriam
com o poeta
a tua gargalhada
não é a risada
de Irene
mas te juro,
se Caetano
de longe a ouvisse
pensaria compor
uma música
se eu deixasse
e eu não permito
tua gargalhada é só minha
e dos meus golfinhos
e dos peixinhos
malandros
e do rei e de todo o seu séquito
e dos cocheiros e das sereias
de Caetano não,
deixa-o com a risada de Irene
...
a tua gargalhada, claro
seria uma festa - eu, os golfinhos
e uma turma de peixinhos malandros
bebendo água de coco
e nos deliciando
com tua gargalhada boa
com tua gargalhada
doutro mundo
os reis quando esperam a visita de um príncipe
não são trombetas que tocam os arautos
mas tiram da túnica uma caixinha
e ao abri-la,
eis a tua gargalhada
a invadir salão,
masmorra,
cozinha
chega até aos ouvidos
dos cocheiros
que entram em transe
e acabam bebendo
todo o vinho
recém chegado
de Portugal
a tua gargalhada
tem esse poder
louco
se me perguntassem se não queria
levar para a ilha deserta
também teu corpo,
boca,
seios
e coxas
diria que não,
que a tua gargalhada
seria suficiente para meu encanto
a tua gargalhada
[não fiques com ciúme]
iria trazer à praia
tantas sereias,
tu nem imaginas quantas
do mar báltico
dormiriam
com o poeta
a tua gargalhada
não é a risada
de Irene
mas te juro,
se Caetano
de longe a ouvisse
pensaria compor
uma música
se eu deixasse
e eu não permito
tua gargalhada é só minha
e dos meus golfinhos
e dos peixinhos
malandros
e do rei e de todo o seu séquito
e dos cocheiros e das sereias
de Caetano não,
deixa-o com a risada de Irene
...
quinta-feira, 15 de março de 2012
a parábola do pai generoso
agora que tu sabes
que as hienas são ferozes
e mordem mesmo fundo a carne
volta pra tua cabana
pro teu jardim
as sementes
lançadas pelos passarinhos
já crescem as vagens de feijão verde
agora que tu sabes
que as hienas são macabras
que destrincham até os ossos
foge da companhia delas
foge da tempestade
debaixo de uma árvore
o raio que racha o tronco
também parte ao meio
a tua cabeça
retorna pra tua cabana
lá as paredes do teu quarto
sonham em te apertar o peito
e os teus livros abertos
guardam entre páginas
flores
perfumadas
que nunca morrem
...
que as hienas são ferozes
e mordem mesmo fundo a carne
volta pra tua cabana
pro teu jardim
as sementes
lançadas pelos passarinhos
já crescem as vagens de feijão verde
agora que tu sabes
que as hienas são macabras
que destrincham até os ossos
foge da companhia delas
foge da tempestade
debaixo de uma árvore
o raio que racha o tronco
também parte ao meio
a tua cabeça
retorna pra tua cabana
lá as paredes do teu quarto
sonham em te apertar o peito
e os teus livros abertos
guardam entre páginas
flores
perfumadas
que nunca morrem
...
terça-feira, 13 de março de 2012
quarentena
quando as coisas estiverem boas
bem-te-vis felizes fora da gaiola
aranha com o besouro predileto
então eu te convido
para um cineminha
no momento aceita
estes meus cabelos
secos e compridos
estes meus dentes
vândalos e amarelos
esta minha barbicha
de náufrago erudito
estes meus tendões molengas
estes meus olhos apagados
deixa o sol distante
da minha calçada
nunca pensei um dia
amar tanto a frieza
dos meus chinelos
...
bem-te-vis felizes fora da gaiola
aranha com o besouro predileto
então eu te convido
para um cineminha
no momento aceita
estes meus cabelos
secos e compridos
estes meus dentes
vândalos e amarelos
esta minha barbicha
de náufrago erudito
estes meus tendões molengas
estes meus olhos apagados
deixa o sol distante
da minha calçada
nunca pensei um dia
amar tanto a frieza
dos meus chinelos
...
quarta-feira, 7 de março de 2012
punhal no peito
o primeiro amor é único
ornado de inocência
e muita febre
presente do cupido-mor
que não é um anjo
mas o próprio
deus
tão velhinho
e apaixonado
se tu perdeste o teu primeiro amor
no trem ou no foguete ou de patins
é bom dar-te à bebida e ao luto
porque não virá outro sol
nunca será igual àquele
de shortinho na primavera
se estás a lembrar assim meio mole
do teu primeiro encanto
então acredita
aproxima-se
um milagre
porque o cupido-mor
o próprio deus de barbicha
às vezes aprecia na gente
a desventura e a tragédia
e traz de volta
outro amor
mais dolorido
e passageiro
...
ornado de inocência
e muita febre
presente do cupido-mor
que não é um anjo
mas o próprio
deus
tão velhinho
e apaixonado
se tu perdeste o teu primeiro amor
no trem ou no foguete ou de patins
é bom dar-te à bebida e ao luto
porque não virá outro sol
nunca será igual àquele
de shortinho na primavera
se estás a lembrar assim meio mole
do teu primeiro encanto
então acredita
aproxima-se
um milagre
porque o cupido-mor
o próprio deus de barbicha
às vezes aprecia na gente
a desventura e a tragédia
e traz de volta
outro amor
mais dolorido
e passageiro
...
terça-feira, 6 de março de 2012
fim da comédia
digo adeus aos versos
o que serei agora
se não sou
poeta?
plantarei batatas
e verei o entardecer
doutro lado
da montanha
deixo as palavras em paz
sem a minha boca
e meu sopro
deixo a minha dor silenciosa
a cabeça que não está boa
o coração que já partiu
[o que sobra
a um louco?]
deixo meus livros filhos das traças
deixo minhas botas encostadas à parede
não vejo graça
nem beatitude
dentro da alma
que já é morte
...
o que serei agora
se não sou
poeta?
plantarei batatas
e verei o entardecer
doutro lado
da montanha
deixo as palavras em paz
sem a minha boca
e meu sopro
deixo a minha dor silenciosa
a cabeça que não está boa
o coração que já partiu
[o que sobra
a um louco?]
deixo meus livros filhos das traças
deixo minhas botas encostadas à parede
não vejo graça
nem beatitude
dentro da alma
que já é morte
...
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