quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

retórica infantil

Quando era menino
não podia deixar
minha sandália
emborcada.

Tinha medo
de má sorte.

Se um gato preto atravessasse meu caminho
corria até ele e o fazia dar meia volta rapidinho.

Quando era menino
vivia olhando os céus.

Vivia olhando o chão.
Vivia olhando as sombras.

Quase não tinha tempo
para olhar meu relógio novo.

Esperava os sinos da igreja
e corria para ver o morto.

Os mortos da minha cidade
sempre davam uma volta
em frente da igreja.

Quando eu era menino
acreditava em tantas coisas.

Vivia tendo pesadelos
de monstros tapando
minha respiração.

Figuras grotescas
de outro mundo.

Mas se chovia,
se chovia forte,

eu fazia barquinhos
de papel e torcia
para que fossem
engolidos pela
enxurrada.

Acredito piamente que naquele tempo
os barquinhos de papel já levavam palavras.
E afogavam versos pelas calçadas da minha rua.

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