Sabe quem encontrei na garagem do prédio
todo senhor de si, até bem contemplativo,
com um casaco de pontinhos
lilases?
O pombo -
sim, aquele
que um dia
sujou seus cabelos.
Creio que deva ter me reconhecido -
pôs as asas no bico como se ocultasse
um riso cínico e juro que me disse algo.
Do tipo, "ah, o poeta -
o sujeito mais tolo
do mundo..."
Não se preocupe,
não o feri com minhas botas.
Afinal, o dia de hoje amanheceu
vestindo um maravilhoso vestido branco
com um coração nas costas vazado pelo sol.
Agradeça o pombo
ao seu bom gosto
e beleza.
Você sabe que não tenho escrúpulos
em pisar e machucar os seus inimigos.
Agora, deixe-me subir ao quarto
desde a madrugada uma boa alma
sussurra-me aos ouvidos
um poema luminoso
sem perfume
nas mãos.
Nem marcas
de outros dedos.
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