domingo, 22 de janeiro de 2012

o passado não desbota

não, meu amor, não preciso que o tempo mude
para escolher do guarda-roupa uma camisa adequada

ando mesmo nu pelo quarto e meu cheiro forte atravessa
paredes chega às narinas da vizinha, ui, ouço um suspiro

não, meu amor, nunca fui um cavalheiro
sou mesmo um bruto, um cavalo
triste e esnobe

que apesar das patas quebradas
ainda galopa pelos campos
de girassóis

não, meu amor, não há tempo bom
circulando em minhas veias
o meu sangue pouco vive
pouco se alegra

creia, meu coração é um patife
cujo batimento lembra
a luxúria do engenho -

bagaço,
aguardente

e desse jeito virando a noite
levando junto o travesseiro

meu sangue não se confunde com minhas lágrimas
por sinal esqueci o dia em que elas deslizaram
pelas faces

não, meu amor, não sou um romântico
sou um bêbado sóbrio, um demo safo,
um santo manco, um sapo mudo

e tudo sobre a estante
é uma alma penada
que combina
comigo.

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