Por isso é sempre bom
não meter uma bala
no peito
ou beber um frasco
de comprimidos.
O dia seguinte é um rio
que já ultrapassou a perda
e quando se aperta o peito
e a garrafa de vinho
sorri feito o diabo
então é melhor
enfiarmos a cabeça
dentro do travesseiro.
Não dura tanto tempo o colapso nervoso
se as faces não se contorcem
e o coração logo entende
que a loucura não tem
nada a ver com ele.
Jogue longe o travesseiro
olhe bem para o teto
e se houver algum tipo de inseto
parado, meio caladão
como se paralisado por lembranças
de outros tetos e de outras teias
é hora de lavar o rosto
e ver se a garrafa de vinho
ainda sorri aquele olhar cínico
de quem ao bebê-la
acordaria com o diabo.
Se a garrafa de vinho tiver perdido
esse mau agouro e se o inseto
parecer um anjo sereno
esconda então seu revólver sobre o guarda-roupa
lance ao vaso sanitário um a um dos comprimidos.
Seria mais correto levar seu revólver ao ferreiro.
Ouça as marteladas sobre o cano e o tambor.
Seu filho um dia crescerá
e mesmo ainda menino
não há em casa
lugar seguro.
Diria até que aquele sorriso cínico do diabo na garrafa de vinho
era o primeiro abraço, o primeiro empurrão, a primeira onda
para um tiro no peito ou um frasco inteiro
de comprimidos fatais.
O dia seguinte é um rio
que já visitou o mar.
a morte só chega quando se entedia com a gente
ResponderExcluirsaudações,domingos!
"o dia seguinte
ResponderExcluiré um rio que já visitou o mar",
irmão isso é extraordinário,
abraço
e os rios continuam a correr e as chuvas continuam os enchendo e os mares continuam a receber suas águas.
ResponderExcluirbelo e sábio poema, meu caro.
grande abraço.
"O dia seguinte é um rio
ResponderExcluirque já ultrapassou a perda"
Linda mensagem, Domingos!
Abraço,
Doce de Lira
vi e fui varada- janela aberta acoberta o vinho pelas frestas!
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