segunda-feira, 19 de setembro de 2011

o beijo

Fui testemunha da maravilha
que é um beijo demorado
entre um casal de sapos.

Eu vi com estes olhos [que a terra
há de oferecer às minhocas]

a suntuosidade e sutileza das línguas
do moço sapo e da senhorita sapa.

Eu vi com estes olhos [que o mar
há de oferecer aos moluscos]

a sensualidade das pontas
em leves gracejos e toques.

Não há mortal [gente
ou bicho] que beije
semelhante aos dois
anfíbios.

Fui testemunha de cada intervalo mágico
em que as línguas tremiam, suspiravam,
tomavam fôlego e retornavam

só as pontas para que depois
por inteiras sumissem as línguas
dentro daquelas bocas.

Eu vi com estes olhos [que o vento
há de oferecer às calçadas]

o casal estremecido,
as jugulares pulsando,
as glândulas ruborizadas.

Não tem gente ou bicho ou entidade
que beije tal qual o casal de sapos.

É um beijo longo e molhado,
tenro, doce, frenético
e ardente.

Eu vi,
eu juro que vi.

Com estes olhos
que a mim pertencem
por obra e divina graça

nunca cabendo posse deles
às minhocas nem aos moluscos
tampouco às calçadas em noites frias.

3 comentários:

  1. A criação toda conhece carinho e afeição.

    =)

    Gosto muito de te ler. Um abraço carinhoso,

    Mima.

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  2. Dos textos que li, o melhor deles! Tema interessante, diferente, batida cadenciada, doçura, testemunho verdadeiro e poético. Há tempos não leio nada tão exótico e ao mesmo tempo singelo, e perfeito na construção.

    Adorei!

    Um abraço,

    Suzana/LILY

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  3. Um texto único em conteúdo e forma.
    Talvez venha desse dom que o sapo tem de beijar como ninguém, a lenda do príncipe transformado em sapo... eu acredito que sim...
    Beijokas.

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