Fui testemunha da maravilha
que é um beijo demorado
entre um casal de sapos.
Eu vi com estes olhos [que a terra
há de oferecer às minhocas]
a suntuosidade e sutileza das línguas
do moço sapo e da senhorita sapa.
Eu vi com estes olhos [que o mar
há de oferecer aos moluscos]
a sensualidade das pontas
em leves gracejos e toques.
Não há mortal [gente
ou bicho] que beije
semelhante aos dois
anfíbios.
Fui testemunha de cada intervalo mágico
em que as línguas tremiam, suspiravam,
tomavam fôlego e retornavam
só as pontas para que depois
por inteiras sumissem as línguas
dentro daquelas bocas.
Eu vi com estes olhos [que o vento
há de oferecer às calçadas]
o casal estremecido,
as jugulares pulsando,
as glândulas ruborizadas.
Não tem gente ou bicho ou entidade
que beije tal qual o casal de sapos.
É um beijo longo e molhado,
tenro, doce, frenético
e ardente.
Eu vi,
eu juro que vi.
Com estes olhos
que a mim pertencem
por obra e divina graça
nunca cabendo posse deles
às minhocas nem aos moluscos
tampouco às calçadas em noites frias.
A criação toda conhece carinho e afeição.
ResponderExcluir=)
Gosto muito de te ler. Um abraço carinhoso,
Mima.
Dos textos que li, o melhor deles! Tema interessante, diferente, batida cadenciada, doçura, testemunho verdadeiro e poético. Há tempos não leio nada tão exótico e ao mesmo tempo singelo, e perfeito na construção.
ResponderExcluirAdorei!
Um abraço,
Suzana/LILY
Um texto único em conteúdo e forma.
ResponderExcluirTalvez venha desse dom que o sapo tem de beijar como ninguém, a lenda do príncipe transformado em sapo... eu acredito que sim...
Beijokas.