quinta-feira, 22 de setembro de 2011

digressão

Preciso trocar as fronhas dos meus travesseiros.
Vejo sombras das amantes: resquícios de unhas,
batons, sedas, chicletes.

Cuido debaixo da cama um gatinho.
Ele nunca sai, passeia, desce
até a garagem.

Vive pregado às correias
do meu chinelão antigo.

Se fosse um cachorrinho o meu gatinho
viveria mordendo meu tornozelo,
suplicando pra ir à praça
e abraçar os postes.

Mas é de um gatinho que cuido.
Míope, bigodes longos.

A última vez que ousou peregrinar pela casa
queimou-se no forno e os bigodes
entrançaram-se pelas pernas
das cadeiras.

[desastre]

Agora vive acuado debaixo da cama
pregado às correias do meu chinelão
do meu chinelão antigo.

Preciso trocar as fronhas dos meus travesseiros.
Quase andam as sombras das minhas amantes.

E cada uma tem uma unha diferente,
uma voz diferente, mas rebolam
do mesmo jeito mascando
o mesmo chiclete.

3 comentários:

  1. Queimou-se no forno porque gato que nasce no forno não é bolo:))Um abraço, Yayá.

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  2. Uma espécie de crônica - uma sensação quieta, contudo, ao mesmo tempo...
    sombria... seria essa a palavra?

    Senti paz e pesar. Uma rotina e um quê inconformado. Um sim resguardo - uma necessidade meio indesejada.

    Um beijo carinhoso, poeta querido!

    De sua Mima leitora - que gosta de mimar seus poemas todos. ^^

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  3. Olá Domingos,

    Pobre de seu gatinho!
    Variar é preciso.

    Beijos de luz.

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